segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dia Mundial da Poupança

O dia 31 de Outubro faz parte das minhas boas recordações de infância. O dia mundial da poupança era uma data assinalada pelas instituições financeiras nacionais com diversas acções de marketing efectuadas junto dos mais novos. Foi no dia mundial da poupança que recebi o meu primeiro mealheiro e que a minha colecção de autocolantes aumentou. Era também no dia mundial da poupança que o “senhor do banco” ia à escola primária e que alertava para a importância de poupar. Respondia às perguntas de quem gostava de colocar as moedas no mealheiro mas que estava sobretudo ansioso por receber o brinde, por mais insignificante que fosse.
Passados alguns anos reconheço que essas acções foram fundamentais para começar a poupar, para identificar os usos do dinheiro, para me questionar sobre o destino das minhas poupanças. Claro que o ambiente familiar também contribuiu para isso, assim como aqueles legos que quis comprar mas não pude por falta de fundos próprios…
Passados alguns anos, em detrimento das acções de marketing relacionadas com o dia mundial da poupança, as instituições financeiras passaram a apostar na área de negócio relacionada com o crédito, principalmente o crédito fácil, rápido e para todos. Em minha casa passei a receber cheques, cartões de crédito, catálogos de presépios, relógios, porcelanas, computadores e um sem número de outros bens de consumo. Passou-se a tratar o dinheiro como algo fútil e que deve ser gasto (e não poupado) e muitas vezes até gasto sem expectativas de o vir a receber.
Os portugueses compraram habitações, casas de férias, automóveis, viagens, jóias e televisões com recurso a crédito, muitas vezes a taxas escandalosas e a perder de vista em termos de anos de amortização. Nesse período, que parece estar a terminar por via dos acontecimentos, poupar passou a ser visto como uma acção retrógrada, em que as instituições financeiras foram cúmplices.
Hoje, quando oiço ou vejo tantos responsáveis económicos a promoverem a poupança, lembro-me de todos os que tiveram responsabilidades na alteração de comportamentos dos portugueses, desde governantes, passando pelos banqueiros e a que não é alheio o próprio regulador Banco de Portugal.
O mais extraordinário é que ninguém assume o erro de décadas de promoção do crédito e esquecimento da poupança porque, nessa altura, tínhamos financiamento externo a preços baixos e aparentemente ilimitado por estarmos dentro da União Europeia.
O modelo de crescimento baseado no crédito não é sustentável e é limitado. A aposta num país de progresso sem ter de poupar e investir apenas o que os outros emprestam foi um erro e levou-nos ao desastre actual. Mudar comportamentos e alterar os usos dos recursos é essencial para que possamos ter algum desenvolvimento!
Bom dia mundial da poupança!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Rap da geração enganada!

A crise chegou
E o ordenado não estica
Sem cheta nos deixou
E a Merkel só critica

Gastámos o que temos
E também o que inventámos
O que pedimos e devemos
Até o ouro levantámos

Éramos ricos, ficámos pobres
Mas o dinheiro não sumiu
Sem subsídios, roubam os cobres
Alguém nos destruiu!

A economia está torta
As empresas desesperam
A política finge de morta
E os roubos proliferam!

Na Europa ainda é pior
Todos espremem o seu sumo
Vivem todos na maior
Mas deixam-nos sem rumo!

Comissão, Conselho e Parlamento
Tantos órgãos para nada
Basta uma rajada de vento
E vamos todos à fava!

Precisamos de gente jovem
Pr` Ajudar onde faz falta
Conseguimos fazer muito bem
Onde definha a outra malta

Dêem lugar aos de trinta
Os de vinte também podem vir
Alguém que não nos minta
Pois os problemas está a sentir!

Portugal queremos dinamizar
É essa a ambição
No futuro vamos pensar
Pois esta é a nossa Nação!


artigo publicado também no blog Deseconomias

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Cavaco Silva, e os comentários “futeboleses”!

É normal que um qualquer cidadão se refira ao Presidente da República na terceira pessoa do singular, por exemplo: “O Presidente da República proferiu o discurso…”. Mas será normal que o próprio Presidente da República fale de si também na terceira pessoa do singular e não na primeira, como seria “Eu, como Presidente da República, proferi o discurso…”?
Não sendo especialista em línguas, diria que, pelo menos, não é correcto abordar desta forma a figura presidencial.
O Presidente da República, tendo concorrido de livre e espontânea vontade ao cargo, não deveria distanciar-se das suas funções nem da responsabilidade pessoal assumida na tomada de posse. O cargo existe para além da pessoa mas só faz sentido quando alguém é empossado nesse mesmo cargo, pelo que o Presidente da República deixa de ser um título abstracto para representar o cidadão que foi eleito pelos seus pares para desempenhar as funções em causa.
Quando o actual Presidente da República fala na terceira pessoa do singular, auto-afasta o título, o cargo e a responsabilidade assumida, personalizando os comentários desportivos que os jogadores de futebol fazem de si próprios, como por exemplo “Têm inveja do Cristiano Ronaldo porque ele é bonito, rico e talentoso” – declarações proferidas pelo próprio CR.
Esta não é uma questão menor. Como não é de menor importância que o Presidente da República se abstenha de falar em prol de um alegado superior interesse nacional ou de uma suposta cooperação estratégica. Até porque esta estratégia de não comunicação cai por terra quando o Presidente da República faz comentários no Facebook (onde é preciso “gostar” do Presidente da República para receber as actualizações) ou quando se pronuncia publicamente apenas em discursos proferidos em festividades.
Dado que a Presidência da República é um órgão de soberania, e principalmente em tempos de crise, não deve haver vazios de poder nem erros comunicacionais. Ou se é Presidente da República ou não. E essas funções devem ser assumidas pelo próprio todos os dias, em todas as ocasiões. Não se exige a um titular de órgão de soberania que seja um comentador diário mas também não se espera que desempenhe as suas funções de forma sazonal, com intervenções de pouca emotividade e muitas vezes reservadas a quem dele “goste”.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

OE 2012 – Redução da despesa para inglês ver...e pouco mais!

Na última edição do jornal Expresso são descritas algumas das policy mix apresentadas pelo Ministério das Finanças aos restantes membros do Governo com o objectivo de cumprir o acordo assinado com a Troika. Pelas informações desse jornal, algumas alternativas como a sobretaxa de imposto para todos os contribuintes foram colocadas de parte porque o Governo pretendia que este Orçamento de Estado englobasse redução de despesa.
Este facto é preocupante! A redução da despesa é conseguida por via de um corte transitório durante 2 anos das remunerações dos funcionários públicos. Isto quer dizer que, após este prazo, a despesa voltará a aumentar para níveis de insustentabilidade, ceteris paribus (se tudo o resto permanecer constante). A ser verdade, com este argumento veiculado pela comunicação social este Governo opta por uma maquilhagem do problema que não é, desta forma, resolvido. Se não houver alteração constitucional (com despedimentos mais facilitados), daqui a 2 anos o Estado terá o mesmo problema, agravado pelo facto da divida pública continuar a aumentar dia após dia!
O argumento governativo que justifica esta actuação é a dificuldade e demora em alterar procedimentos e ajustar o número de funcionários públicos com um texto Constitucional tão rígido, o que também compreendo. E verdade seja dita, o orçamento é realista no confronto entre receitas e despesas, o que não invalida algumas criticas quanto às opções políticas.
Ainda assim, há um conjunto de iniciativas que poderão e deverão ser desenvolvidas com base na prata da casa. Vou arriscar um exemplo:
Porque não extingue o Governo todas as Direcções de Recursos Humanos das suas inúmeras Direcções Gerais, concentrando os serviços numa única Direcção de Recursos Humanos por cada Ministério? Com esta alteração, haveria algumas dezenas de funcionários excedentários que poderiam ser aproveitados para dinamizar actividades necessárias para o país ultrapassar a crise, como por exemplo: apoio às empresas exportadoras, promoção de criativos nacionais no estrangeiro, divulgação da “marca” Portugal nas redes sociais, pesquisa de oportunidades de negócio para os empreendedores, promoção das Associações de Desenvolvimento Regional, dinamização da interligação Universidades – Empresas…e tantas outras áreas carenciadas….
As Direcções de Recursos Humanos são apenas um exemplo como tantas outras áreas onde pode haver sinergias e reaproveitar os funcionários públicos (muitos deles desmotivados por passarem a vida a fazerem as mesmas tarefas) em funções mais aliciantes, com os mesmos custos mas com um valor acrescentado para a sociedade indubitavelmente maior!
Não podemos reduzir o número de funcionários públicos mas não deve o Governo baixar os braços e começar a maquilhar os números com reduções de despesa “para inglês (ou alemão) ver” e esquecer a reorganização das funções do Estado. Este é o tempo para modernizar o Estado em função das necessidades actuais dos cidadãos! Não fazer estas reformas agora é desperdiçar a oportunidade única de mudarmos a estratégia de crescimento (que está esgotada) para uma nova filosofia de desenvolvimento integrado!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

DEFENDENDO-NOS ??? DA CRISE


Um homem vivia à beira de uma estrada e vendia cachorros-quentes.
Não tinha rádio, não tinha televisão e nem lia jornais, mas produzia e vendia os melhores cachorros-quentes da região.
Preocupava-se com a divulgação do seu negócio e colocava cartazes pela estrada, oferecia o seu produto em voz alta e o povo comprava e gostava.
As vendas foram aumentando e, cada vez mais ele comprava o melhor pão e as melhores salsichas.
Foi necessário também adquirir um fogão maior para atender a grande quantidade de fregueses.
O negócio prosperava...
Os seus cachorros-quentes eram os melhores!
Com o dinheiro que ganhou conseguiu pagar uma boa escola ao filho.
O miúdo cresceu e foi estudar Economia numa das melhores Faculdades do país.
Finalmente, o filho já formado, voltou para casa, notou que o pai continuava com a vida de sempre, vendendo cachorros-quentes feitos com os melhores ingredientes e gastando dinheiro em cartazes, e teve uma séria conversa com o pai:
- Pai, não ouve rádio? Não vê televisão? Não lê os jornais? Há uma grande crise no mundo. A situação do nosso País é crítica. Há que economizar!
Depois de ouvir as considerações do filho Doutor, o pai pensou:
'Bem, se o meu filho que estudou Economia na melhor Faculdade, lê jornais, vê televisão e internet, e acha isto, então só pode ter razão!'
Com medo da crise, o pai procurou um fornecedor de pão mais barato (e, é claro, pior).
Começou a comprar salsichas mais baratas (que eram, também, piores).
Para economizar, deixou de mandar fazer cartazes para colocar na estrada.
Abatido pela notícia da crise já não oferecia o seu produto em voz alta.
Tomadas essas 'providências', as vendas começaram a cair e foram caindo, caindo até chegarem a níveis insuportáveis...
O negócio de cachorros-quentes do homem, que antes gerava recursos... faliu.
O pai, triste, disse ao filho:
- Estavas certo filho, nós estamos no meio de uma grande crise.
E comentou com os amigos, orgulhoso:
- Bendita a hora em que pus o meu filho a estudar economia, ele é que me avisou da crise...

VIVEMOS NUM MUNDO CONTAMINADO DE MÁS NOTÍCIAS E SE NÃO TOMARMOS O
DEVIDO CUIDADO, ESSAS MÁS NOTICIAS INFLUENCIAR-NOS-ÃO AO PONTO DE NOS
ROUBAREM A PROSPERIDADE.

Com a devida vénia ao Tó Teixeira, que foi descobrir este texto origina, que l foi publicado em 24 de Fevereiro de 1958 num anúncio da Quaker State Metals Co

sábado, 8 de outubro de 2011

Vem aí mais um Nobel

É já na próxima segunda-feira que se conhece o(s) laureado(s) com o Prémio Sveriges Riksbank para as Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel.
As apostam multiplicam-se e a Thomson Reuters avança com as suas previsões que podem ser consultadas aqui.
Eu aposto em Kenneth Rogoff, professor em Harvard, especialista em finanças internacionais e, ainda, política económica e macroeconomia, donde se destaca o seu trabalho em áreas como crises financeiras internacionais, independência dos bancos centrais, taxas de câmbio, desequilíbrios nas contas correntes e ciclos políticos orçamentais. Estando estas áreas tão em voga, penso que o trabalho deste economista deve ser premiado, já para não falar no recente paper que publicou - A Decade of Debt - em conjunto com Carmen Reinhart, sobre a dívida soberana (default).
Este economista tem criticado a entrada de Portugal e da Grécia no zona euro e aponta como solução a reestruturação da dívida destes países. É também sua a opinião que a intervenção do FMI obriga a grandes ajustamentos orçamentais e que é mais que expectável que haja uma explosão de dívida após uma crise financeira.
Portugal é um país exposto e vulnerável e ainda estamos longe de saber o fim desta história. Rogoff está certo quando afirma que a entrada na zona euro foi um exagero, mas está igualmente certo quando aponta o caminho do crescimento como uma solução sustentável para o equilíbrio das contas públicas. Basta ver que estamos a aguentar-nos por um fio e que mais cedo ou mais tarde, ou por implosão interna ou por explosão externa, o euro em Portugal vai ruir.