sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Austeridade por Reducao de Gastos Publicos ou por Carga Fiscal



O Joao e o Paulo Goncalves iniciaram uma boa discussao, sobre se Portugal deveria fazer austeridade via aumento de carga fiscal ou reducao de despesa publica. Eu vejo os argumentos de ambos os lados e embora nao seja um macroeconomista nem tenha um modelo exacto gostaria de mencionar um trabalho recente de Christiano, Eichenbaum, e Rebelo (2010):


Os autores revisam diversos modelos macro e encontram que em recessoes perto do zero-bound de taxa de juro (agora!!!), o multiplicador da despesa fiscal pode ser bem maior que 1 e chegar a 25 ou até 50. E estes modelos assumem todos que a despesa fiscal é totalmente inútil, ou seja pior nao existe. Todo o beneficio da despesa publica aqui vem do multiplicador keynesiano.
Além disso, como tenho defendido aqui a matemática do nosso Estado social garante que 75% ou mais dos nossos impostos vao só para transferencias sociais, logo para os mesmos que sofrem a austeridade! E o Estado gasta ainda 18.5% do PIB em exercito, policia, educacao, e saúde gratuita, o tipo de coisas que nao se pode cortar (por obrigacao da Nato, Constituicao, etc).
Embora seja doutorado da Northwestern, tenho que dizer que aqui concordo um pouco com a visao do Paulo, ainda que mais por intuicao. Um diria por intuicao e lógica que em geral combinar duas medidas diferentes é melhor porque nao exacerba demasiado as desvantagens de cada uma delas, ou seja um nao quer pecar em demasia. Ora, se já pecamos pelo lado de mais impostos, corte de pensoes e salarios, talvez fosse bom cortar na despesa pública um pouco.
Mesmo assim nao julgo que hajam milagres. A salvacao orcamental vai depender certamente de mais crescimento económico ou de melhores taxas de juro (quando os mercados acalmarem). Nao tenho dúvidas que mesmo um ataque super grande na despesa pública que esfole os grupos de interesse e a má gente nao vai resolver as coisas. Vai melhorar um pouquito apenas... Infelizmente, eu acredito que em Portugal nao sao os maus que fazem pior. Quem faz o verdadeiro mal sao aqueles que defendem a Proteccao Laboral, Congelamento de Rendas, a actuacao de Empresas Privilegiadas e regulacoes ineficientes para tudo o que é negócio. Portugal é uma ditadura islamica para empresas e temos de perceber que o Investimento Directo Estrangeiro entra se existe facilidade de empresa e rentabilidade, nao porque somos Bons e Necessitados.

Carlos Madeira
Economista do Banco Central do Chile
O artigo reflecte meramente a opinião pessoal do seu autor.

4 comentários:

Joao Madeira disse...

Sim, concordo contigo.

Nos EUA o Estado financia-se neste momento a taxas de juro zero, o que nao e o caso do estado portugues (logo os multiplicadores potencialmente observados nos EUA na despesa mto provavelmente nao se aplicam a Portugal).

Tb existe alguma evidencia de que para estados mto endividados (como o portugues) os multiplicadores do lado da despesa sao aproximadamente zero ou ate negativos:

http://ideas.repec.org/p/nbr/nberwo/16479.html

Paulo Santos Monteiro disse...

Neste link encontra-se uma boa descrição das novas medidas fiscais anunciadas.

http://economiafinancas.com/2012/austeridade-2013-irs-2013-contara-apenas-com-5-novos-escaloes/

Alguns aspectos que acho positivos: a simplificação do IRS por intermédio da redução do número de escalões; as taxas mais elevadas aplicadas ao último escalão de IRS; o facto que o aumento dos impostos afecta também o rendimento dos capitais.

Carlos: em relação ao mercado do trabalho acho que já foram efectuadas reformas substanciais:

http://economia.publico.pt/Noticia/parlamento-debate-hoje-novo-pacote-laboral_1539676

Joao Madeira disse...

Sim, tb acho a simplificacao da tributacao algo positivo.

E, o governo ja reduziu substancialmente os custos de despedimento (e agora penso que estamos na media da OCDE).

Carlos Madeira disse...

"já foram efectuadas reformas substanciais"

Paulo, já escutamos isso de todos os Governos nos ultimos 20 anos. Depois do debate parlamentar o Governo vai voltar a colocar no projecto lei todos os artigos negativos que existem.

Vai ser como o Ayatolah do Irao a debater a democracia nas ultimas eleicoes...