quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Cavaco, O Distante!



Na história portuguesa, os reis e rainhas ficaram conhecidos pelo seu tipo de governação, pelos seus feitos mas também pelo cognome que lhes foi atribuído. Com a implantação da república, esse hábito desapareceu mas a memória colectiva e a apreciação social não terminou. As populações continuam a avaliar a prestação dos seus governantes e é usual atribuírem-lhes adjectivos ou mesmo denominações.

Cavaco Silva tem tido mandatos presidenciais difíceis de enquadrar. A sua acção desenvolve-se sobretudo nos meandros do poder e a sua palavra é disseminada nos discursos efectuados em ocasiões festivas. Não se pode dizer que seja um presidente pouco interventivo ou mesmo alheado dos problemas. Cavaco parece estar bem informado e tem conseguido manter a estabilidade política no país, apesar das complicadas decisões que teve a seu cargo.
Mas Cavaco não é um presidente próximo das populações. Ao contrário do fulgor demonstrado nos períodos eleitorais, Cavaco Silva opta por se refugiar na sua residência e por não intervir publicamente sobre a situação do país ou sobre os problemas do mesmo.
Nos seus raros comentários públicos refere-se até ao exercício das funções de Presidente da República na terceira pessoa do singular, demonstrando um claro distanciamento das funções para que foi eleito.

Cavaco não é o Presidente da República. Cavaco e o Presidente da República são pessoas diferentes que se encontram em algumas ocasiões mas raramente convivem de forma simbiótica.
Foi nos tempos áureos do cavaquismo e da adesão à União Europeia que Portugal mais se motivou. Nessa altura, o Primeiro Ministro era a mesma pessoa da personalidade que ocupava o cargo, o cidadão Cavaco Silva.
Os tempos são outros e os desafios também! Mas o país e os cidadãos são tendencialmente os mesmos, que necessitam de ser motivados e esclarecidos para compreenderem quais são os problemas e, principalmente, quais são as soluções.

Cavaco Silva, arrisca-se a ficar conhecido não pela sua actividade governativa enquanto Primeiro Ministro. Arrisca-se ainda a não ficar conhecido pela sua actividade académica. Cavaco Silva será recordado pela sua magistratura de influência…na sombra e pelas intervenções públicas…esporádicas e demasiado formais.

Mas sobretudo, arrisca-se a ficar conhecido por “Cavaco, O Distante!”


Artigo publicado no espaço Opinião do Parlamento Global em 12-12-2013

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