terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O futuro da direita portuguesa e os ácaros entranhados no armário

Depois de uma vitória amarga e de uma colossal derrota negocial, a direita portuguesa sofreu um profundo golpe político do qual dificilmente recuperará no curto prazo. E vou explicar porquê:
1-      A direita insiste no discurso da ilegitimidade política, esquecendo que o governo PS com PCP/ PEV/PAN e BE é fruto da legislação, da Constituição e da nomeação Presidencial. Apenas não é legítimo do ponto de vista tradicional e histórico. Mas, se Portugal não é governado em regime de tribo ou anciãos, utilizar o argumento da ilegitimidade é uma perda de tempo e uma afronta à democracia;
2-      A direita continua a achar-se vencedora. Isso originou a ausência de demissões, a manutenção do discurso e a escassez de reflexões para identificar os problemas, os erros ou a eventual mais (ou menos) valia da coligação PAF;
3-      Como se acha vencedora, a direita não admite opiniões contrárias nem divergentes, não aceita sugestões de mudança, não pretende mudar discursos, metodologias nem pessoas;
4-      Os boys da direita (são tantos e com igual qualidade dos boys da esquerda) acreditam que o actual governo vai cair no dia seguinte e continuam a pairar na esfera política, não dando espaço para novas pessoas ou mudanças de estilo;
5-      Marcelo Rebelo de Sousa, potencial próximo Presidente da República não é um liberal e a sua hipotética eleição nem poderá ser aclamada como uma vitória da direita, ou melhor, da direita tal como hoje a conhecemos;
6-      A sociedade portuguesa é tradicionalmente de esquerda – efeitos de uma revolução socialista ainda muito recente e aos receios do papão da ditadura do fascismo. Afrontar a esquerda sem ter propostas, argumentos, politicas ou pensamentos que tenham em consideração as pessoas e não apenas os números, apenas vai dar mais força à coligação de esquerda e à união desta contra o "governo dos números" (recente governo PSD/CDS)


Quando um partido se habitua a ter poder, torna-se numa espécie de adolescente que ganha vícios que são tanto maiores quanta a independência que tem de outras instituições e outras forças políticas para aprovar aquilo que pretende. O PSD e o CDS ganharam esses vícios e não os perderam abruptamente como teria acontecido no caso de uma monumental derrota eleitoral. Assim, arriscam entrar numa demorada fase de definhamento político e de gradual perda dos ácaros até ganharem novamente o ímpeto ganhador daqueles que querem fazer mais, que querem fazer melhor e que estão dispostos a mudar para evoluir. Quanto mais tempo persistirem no definhamento, mais espaço de manobra terá o "governo vermelho" e menos oposição teremos no parlamento.
Ou seja, os cidadãos terão o mesmo problema: uma democracia fraca, sem contraditório construtivo, sem uma alternativa estável e sem esperança no futuro!
Mudam os actores e o encenador mas a trama continua!


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Para ser bom político, não chega ser bom técnico


O pequeno título deste texto tem-se aplicado a inúmeras escolhas políticas que, apesar de aclamadas pelas elites sociais, não passaram de erros de casting. Essas escolhas são comuns em todos os governos mas também na elaboração de listas de deputados, nomeações públicas e tantas outras opções onde foi preterido o feeling político em detrimento unicamente da capacidade técnica, da boa vontade pessoal ou da camaradagem com quem tem o poder de escolha.

Para o cidadão menos atento a estas questões, a inabilidade política seria um mal menor face a outros valores mais nobres da pessoa humana que aparentemente superariam a falta de jeito para a gestão de dossiers políticos. Mas a verdade é que isso não acontece. Alguns políticos menos dotados conseguem passar pela vida política de forma inócua, muitos fingindo-se de adormecidos, hibernados ou até de mortos. Mas outros não têm esses dons e são confrontados com erros de cálculo, incapacidade negocial, falta de liderança, desconhecimento dos mecanismos de gestão, dificuldade de adaptação, inabilidade para discursar e tantos outros constrangimentos que minam a política e fazem aumentar a venda dos tablóides. Obviamente que estes erros de casting são tanto mais graves quanto a responsabilidade que as personalidades assumem. Por vezes, a gravidade afecta apenas o próprio mas em outras ocasiões afecta executivos, partidos, governos ou até o país.
A escolha de personalidades para ocupação de cargos políticos decorre de estratégias políticas mas também pode ocorrer por meros acasos conjunturais. A urgência com que muitas nomeações são decididas não permite analisar os dotes políticos nem a inteligência emocional dos escolhidos. Muitas vezes, nem possibilita que os candidatos sejam “googlados” para perceber o que andaram a dizer e a fazer nas suas vidas.
E não se pense que será a Cresap a tratar este problema político pois nem a entrevista de seleção, nem o teste psicotécnico ou a análise de currículo permitem detectar e rejeitar candidatos desadequados politicamente (atenção que politico é diferente de filiado em partido político).

Este governo também tem esses problemas. Alguns bons técnicos serão pouco mais do que marionetas nas mãos de políticos experientes e jornalistas ávidos de escândalos, erros, incongruências. O grande problema é que a inabilidade política não é um problema de saúde tratável. É uma maleita crónica que pode eventualmente ser minimizada mas também pode arruinar uma caminhada ganhadora.
Aos bons técnicos com aspirações pelo poder, recomendo o estudo destas matérias para se precaverem mas aos decisores públicos desejo que tenham consciência que as escolhas que fazem afectam positiva ou negativamente o país que têm missão de gerir.


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A terceira via - um Governo de união sem Passos nem Costa

A conjuntura política nacional está ao rubro com inúmeros jogos políticos que ameaçam os equilíbrios de poder vigentes no parlamento nos últimos 30 anos.  Esta profunda alteração da tradição institucional provocará cisões estruturais da esquerda à direita. No entanto, mais importante do que as consequências estruturais, importa resolver o problema no curto prazo.

Dado que a primeira via (indigitação de Passos Coelho como Primeiro Ministro e acordo de regime com o PS) parece cada vez mais uma miragem e como a segunda via (indigitação de António Costa com acordo de regime com BE e PCP) tem ainda muitas arestas a limar, julgo que a Presidência da República deveria começar a trabalhar numa terceira via que clarificasse o quadro político e minimizasse a fractura estrutural entre os partidos do centro (o que vai acarretar consequências indesejadas na aprovação de matérias tão importantes como os compromissos internacionais, aprovação do orçamento, lei de programação militar, reforma do Estado e reforma da constituição – não falo da reforma do sistema político porque essa parece ser um dossier do qual os partidos nem querem ouvir falar).
Essa terceira via seria o resultado da rejeição do Governo PAF na Assembleia e da não indigitação de António Costa como Primeiro Ministro, obrigando o Presidente da República que as forças politicas mais votadas (PAF e PS) voltassem à mesa das negociações para nova ronda sobre os temas mais sensíveis com o objectivo de se instituir um governo de consenso alargado. 

O Governo não seria liderado nem por Passos Coelho nem por António Costa mas sim por uma personalidade do PSD como por exemplo Rui Rio ou até por um independente com capacidade de fazer pontes à esquerda e à direita. Passos Coelho e António Costa teriam de se demitir ou remeterem-se a líderes partidários, concordando com a marcação de eleições intercalares em Outubro de 2016, esclarecendo em sede de campanha eventuais alianças que pretendessem fazer e quais as políticas que estavam dispostos a sacrificar para alcançar acordos políticos. Também o BE e o PCP teriam de explicar aos seus eleitores qual a elasticidade dos seus programas e dos seus dogmas.
A terceira via que proponho sacrificaria dois líderes políticos mas colocaria alguma água na fervura na actual conjuntura. A necessidade de promover consensos, pelo menos pontuais, a divergência entre programas partidários sufragados e políticas seguidas após eleições, a dificuldade de convergir programas da esquerda e a recente saída de um programa de assistência internacional são motivos mais do que justificativos para que os principais partidos políticos guardem as armas e regressem às negociações, equacionando novos cenários mesmo que isso implique o sacrifício dos seus líderes.

A chegada ao poder de Passos Coelho, de António Costa ou mesmo de ambos estará(ia) à partida ferida de morte, sendo fortemente criticada pelo seu processo de indigitação e pela sua ilegitimidade politica. Isso alterará(ia) o foco parlamentar para questões acessórias e não condizentes com o interesse nacional.
Mas para que isso aconteça, os partidos têm de ser mais do que os seus líderes e o interesse no país terá de prevalecer sob o interesse no poder. Será que isso acontece?


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Os partidos são aquilo que os líderes fazem deles

A política contemporânea tem vindo a ajustar-se a novas realidades sociais como a internet, a diminuição de militantes activos e a perda de importância dos manifestos partidários. Estas influências têm levado a ajustamentos dentro dos partidos, muitas vezes sem os próprios se aperceberem do caminho que estão a seguir. Por exemplo, se alguém ler com atenção os manifestos partidários vai facilmente encontrar referências do PSD ao socialismo e do PS à social democracia.

Mas esta orientação política dos partidos é sobretudo influenciada pelos líderes partidários e pela sua estratégia de captura do poder. Por exemplo, no PSD, a social democracia foi mais estimada por Santana Lopes e o liberalismo por Passos Coelho. No PS de José Sócrates, a social democracia estava muito presente em contraposição com o socialismo mais à esquerda de António Costa.

A matriz política dos partidos é o resultado do conjunto dos diversos posicionamentos conjunturais que os líderes escolhem por ideologia ou por estratégia, por isso o PSD é identificado de direita enquanto que o PS é orientado para a esquerda.
Ou seja, nada nos garante que qualquer dos partidos fique, em algum momento da sua história, próximo das extremas (esquerda ou direita) ainda que a sua matriz cultural média esteja politicamente definida. Claro que esta orientação terá impacto nos resultados eleitorais futuros, mesmo que o próximo líder oriente o partido em sentido contrário ao do seu antecessor.

O que pretendo dizer é que os partidos são, em termos conjunturais, aquilo que os líderes fazem deles, enquanto que a sua filosofia política está marcada estruturalmente pelo conjunto de politicas defendidas desde a sua constituição.
Não é portanto de estranhar uma maior aproximação do PS às extremas esquerdas ou a aproximação do PSD ao liberalismo. Claro que esta análise não é feita por cada um dos eleitores (nem pelos próprios partidos), daí que seja frequente ouvir o comentário “não foi para isto que eu votei neles” ou, pior ainda “sinto-me enganado”.

Esta insatisfação social deveria ser tendencialmente eliminada. A correspondência das orientações programáticas antes e depois das eleições deveria ser garantida pelos partidos políticos. É que uma coisa é a demagogia com que defendem as suas posições em campanha eleitoral, outra coisa é a definição de políticas, após as eleições, completamente distintas das propostas submetidas a escrutínio.

Não havendo uma alta autoridade para a política portuguesa que ligue um semáforo vermelho sempre que um partido se afaste das politicas que apresentou a votação, cabe não apenas aos eleitores (nas eleições seguintes) mas também à Presidência da República ser o garante da coerência politica como forma de defesa do regime democrático. É verdade que a acção política do Presidente da República é limitada pela Constituição mas, pelo menos, é-lhe exigido que exerça essa sua magistratura nos momentos chave para o futuro do país. Nesta fase delicada em que nos encontramos, é também isso que é exigido a Cavaco Silva.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

A história não guardará coisas boas de António Costa!

António Costa jogou uma das mais altas cartadas da política portuguesa. Ao negociar um governo das esquerdas contra o expectável governo liderado pelo vencedor das eleições, Costa deu um abanão à política portuguesa e aos equilíbrios políticos mas sobretudo éticos que eram habituais na nossa democracia. Mas esse abanão está a ter consequências que o próprio António Costa certamente não antecipou e que lhe vão sair muito caras.


Daqui para a frente, as campanhas eleitorais não vão ser mais as enfadonhas trocas de acusações reféns dos votos úteis e das maiorias absolutas. O eleitor ficou a saber que partido vencedor pode não ser partido de governo e saberá que partidos de protesto também têm ambições de poder. Estas novidades vão gerar novos posicionamentos políticos, principalmente à esquerda mas também ao centro (onde se continuam a ganhar as eleições). O PS terá de encontrar o seu espaço político próprio para voltar a ganhar eleições isoladamente e o BE terá a sua maior luta na sustentação do seu eleitorado entrado em competição contra o PS ou no regresso ao partido aos resultados modestos.



Mas os maiores desafios são aqueles que António Costa vai ter de enfrentar. As negociações com gregos e troianos tinham tudo para correr mal. Mesmo assim, Costa iludido pela ambição de ser primeiro ministro e salvar a própria pele (ou imbuído de um sentimento marialva em prol de uma união de esquerdas) escolheu entrar num funil que ameaça tornar-se um túnel sem saída. Entre deixar a PAF refém do voto do PS e deixar o PS refém da extrema esquerda, Costa escolheu a segunda…mas com um tacticismo de aprendiz. (Ou seja, Costa preferiu ser Primeiro Ministro enfraquecido do que dar ao PS o poder político no Governo). O PS e principalmente António Costa ficaram prisioneiros das exigências do Bloco de Esquerda e do voto de facção do PCP assim que estes perceberam a importância dos seus votos neste caminho sem retorno de Costa. Esse erro estratégico enfraqueceu insustentavelmente a posição do PS nos diversos campos negociais:

- com a PAF porque viu fechar as portas ao bluff estratégico que o PS tinha encetado

- com as extremas esquerdas porque aproveitaram para fazer mais exigências, embora difíceis de acatar

- com o Presidente da República porque tornou mais fácil a sua vida na exigência de um acordo de governo e de orçamento escrito para 4 anos com respeito pelas convenções internacionais (algo cada vez mais difícil de conseguir por António Costa)

António Costa só não é hoje um líder isolado porque o seu séquito anseia pelas hipotéticas nomeações no âmbito de um governo de esquerda e porque as elites do PS já perceberam que o insucesso de Costa irá conduzir o PS a uma série de anos muito difíceis para que se consiga novamente impor como verdadeira alternativa de governo com defesa dos valores constantes do seu manifesto.

Quer António Costa venha a ser Primeiro Ministro ou tenha de se retratar, ficará a perder. Deixou enfraquecer a onda da constituição do hipotético governo de esquerda porque a ambição do BE e do PCP foram mais fortes do que a contenção dos seus líderes na praça pública, porque não conseguiu unir o PS em torno da sua liderança para o país, porque não foi capaz de ser moderado e fazer cedências demonstrando espírito de sacrifício pelo país e sobretudo porque preferiu isolar-se a ser plural, o que lhe distorceu a visão estratégica. Talvez tenha também sido mal aconselhado mas isso só o próprio o poderá confirmar.

Os líderes não subsistem sozinhos e António Costa não é o PS. Mas os políticos que o rodeiam ajustarão os ideais em função de uma nova liderança e António Costa ficará isolado e conhecido por ter tido mais vontade em ser primeiro ministro do que em salvar o país.

A história não guardará coisas boas de António Costa!



sábado, 17 de outubro de 2015

Amadorismo

Amadorismo é a palavra que me ocorre para descrever a actual situação politica em que o país se encontra. Os partidos têm cada vez menor capital social e passaram a ter cada vez mais “yes man” especialistas em abanar as bandeiras e ávidos pela nomeação mais dourada. As análises políticas são efectuadas de forma simplista e são enviesadas por preconceitos ideológicos ou (pior ainda) promessas políticas. Mas o amadorismo não se fica por aí!


Foram amadores os eleitores porque esperaram que os partidos adivinhassem a motivação para cada um dos votos. Como se os boletins de votos tivessem um espaço reservado para o “diga lá porque é que votou em mim”.
São amadores os partidos porque encandeados pela ambição de poder esquecem que estão posicionados numa plataforma dinâmica e que as decisões que tomam têm influências diversas a curto, médio e longo prazo.
Foi amador o Presidente da República porque exerceu a sua magistratura de influência de forma demasiado subtil e excessivamente mediática, dando espaço à incerteza quanto aos arranjos institucionais que se seguirão.
Foram amadores inúmeros comentadores que estão reféns das soluções do passado para resolver um problema do presente.
Foram amadores os jornalistas porque não souberam fazer as perguntas pertinentes nos debates e limitaram-se ao mediatismo conjuntural.

Os partidos como todas as instituições deveriam ter responsáveis que assumissem os erros pessoais e do colectivo que dirigem. A inexistência de responsabilização estimula a mediocridade da sociedade que não tem referências de credibilidade e de futuro.
A política não pode ser nem um mecanismo de habituação com as mesmas soluções para problemas distintos nem uma plataforma de experiencialismos sem nexo. A política democrática deve ser um processo dinâmico de acordos e desacordos, propostas e argumentações, decisões e compassos de espera estratégicos. Não pode continuar a ser o acto libertino e narcisista de considerar que um facto e o seu oposto só são verdade quando as vantagens são para o próprio, como não pode (a política) ficar presa à incompetência de assessores e conselheiros, políticos e boys, comentadores e pseudoespecialistas que se limitam a reproduzir os mesmos argumentos que outros já utilizaram, muitas vezes, profundamente falaciosos!

Que este período sirva para uma reflexão que promova a renovação dos partidos, dos seus manifestos e, essencialmente promova uma revolução nas mentalidades de grande parte das elites politicas que persistem reféns do nosso passado. 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Factos eleitorais curiosos


  • A PAF decalca propostas do programa do PS que considerava utópicas
  • O PS considera que ganhou as eleições e prefere ficar refém do BE e do PCP do que fazer a PAF refém dos seus votos
  • O PCP quer redimir-se de ter ajudado a deitar abaixo o governo Sócrates e até já tolera a EU e a NATO
  • O BE quer deixar de ser um partido anti-regime para se moderar numa solução governativa
  • O Livre começou e vai acabar ao sabor das dividas contraídas
  • O Agir teve mais leitores na "sua" secção de erotismo do que votantes nas urnas
  • O PDR afundou-se com a ambição de Marinho e Pinto
  • O Nós Cidadãos nem com os votos perdidos de Macau conseguiria eleger o deputado
  • O PCTP/ MRPP suspendeu Garcia Pereira devido aos resultados eleitorais
  • O Presidente da República tentou moldar na opinião pública aquilo que foi incapaz de fazer nos bastidores

….

O que se seguirá?

       O PAN a defender as touradas em Barrancos???


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Temos líderes ou carapaus de corrida?

A vida politica portuguesa vive-se nos jornais, no Facebook e nos ecrãs de televisão. Os comentadores discutem nomes, “queimam” candidatos e fazem exercer a sua influência pela capacidade de eloquência junto das massas.
Mas esta forma de viver a política que os próprios políticos permitem que aconteça rouba o espaço do diálogo, das negociações de corredor e da construção democrática. As escolhas políticas são as possíveis, limitadas pelas lutas de audiências e moldadas pelas resistências sociais de uma elite mais esclarecida que não tem qualquer problema em se fazer ouvir e impor as suas regras em cada artigo, em cada comentário.
Claro que há elites e elites e há também cidadãos mais e menos esclarecidos. Mas há sobretudo políticos permeáveis à luta de comentadores e bases de apoio políticas ávidas de lugares, comissões de serviço, nomeações e atribuições.
A política contemporânea não é mais a luta ideológica pela melhoria do bem estar social. A politica moderna é a soma de um conjunto alargado de interesses pessoais e corporativos influenciados pelos barómetros de opinião.
Os cidadãos são os últimos visados por esta nova forma de ver a democracia vive do voto mas interpreta-o a seu belo prazer. Um voto é um voto e não mais do que isso. Dizer que um voto é de protesto ou é um voto útil pouco importa quando se contam espingardas.

Nesta importante época que definirá não só o futuro imediato do país mas também a sua sustentabilidade nos próximos anos, exige-se aos políticos, a todos os políticos, que sejam responsáveis com os seus actos mas também com as suas omissões. E sobretudo que não tenham receio de decidir pois os grandes líderes foram aqueles que tomaram posição, mesmo colocando em causa os interesses pessoais.
Será que temos esse tipo de líderes políticos capazes de assumir decisões ou estamos perante meros comissionistas que vivem da política mediática de curto prazo e decidem por sondagens?

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Qual o custo de um refugiado?

Nos últimos dias tenho-me envolvido em algumas discussões com amigos sobre o custo de um refugiado. O tema, aparentemente normal no quadro de economias com recursos escassos e com necessidades de fazer escolhas mais parece tabu, pelo menos pelo incómodo que a sua discussão causa a algumas pessoas.
Mas, mesmo que não se fale dos custos, a verdade é que eles existem.

A economia tem de se conseguir abstrair momentaneamente dos aspectos emocionais para avaliar e quantificar os custos e benefícios de todas as políticas, incluindo o acolhimento de refugiados.
Falar do custo dos refugiados não significa que não os queiramos acolher ou que sejamos menos compreensivos para os dramas que enfrentam. Não significa ainda que sejamos de direita ou de esquerda, religiosos ou agnósticos. Falar e discutir custos significa sermos realistas e racionais.
Qualquer custo é possível desde que tenhamos verbas para o suportar. Mas isso implica quantificação, análise e discussão das opções, avaliação e decisão.


Não querer discutir custos de questões sociais tem sido um dos reais problemas do país. Todos gostamos de receber subsídios, de auferir meses de salários adicionais, adoramos vangloriar-nos com rendimentos sociais de inserção ou outras prestações adicionais. O problema ocorre quando a factura nos chega (e a factura acaba sempre por chegar). Geralmente, apenas nessa ocasião pretendemos arranjar culpados embora nessa altura já pouco se possa fazer: Ou pagamos ou incumprimos o pagamento (há ainda os que preferem refinanciar-se mas algum dia não o conseguirão mais fazer).

Por isso, os custos devem discutir-se desde o momento inicial e não no fim da linha, mesmo que sejam os custos (mas também os benefícios) de acolher refugiados.


terça-feira, 25 de agosto de 2015

Quem quer tramar António Costa?


António Costa é um político sozinho, sem capacidade de mobilização e com dificuldade em comunicar com o eleitorado. Da esquerda à direita todos parecem querer tramá-lo, principalmente dentro do PS e as eleições estão aí à porta. Mas quem são realmente os que querem tramar António Costa?


1 – António José Seguro:
António Costa está a saborear as consequências da estratégia calculista que utilizou no assalto à liderança do PS. Deixou António José Seguro levar com as balas da oposição e, na primeira hipótese, lançou a ofensiva política que culminou no puxar de tapete a Seguro. Nem Seguro, nem os seus apoiantes podem obviamente estar de corpo e alma com Costa. Além de que, muitos socialistas não gostaram do calculismo politico do seu novo líder nem acreditam na sua vitória eleitoral.

2- José Sócrates
A estratégia de António Costa relativa à prisão de José Sócrates foi correcta do ponto de vista democrático mas profundamente errada da perspectiva do argumentário de José Sócrates. Enquanto Costa prefere separar poder judicial de poder executivo, Sócrates pretendeu sempre o inverso, construindo uma imagem de preso político quando na verdade não passa de mais um político preso. O poder de Sócrates dentro do PS é ainda grande e os seus apoiantes não perdoam Costa. E por que será que Sócrates lança novas farpas para a comunicação social nos piores momentos para Costa???

3- António Costa, sim...o próprio!
A estratégia presidencial de Costa e do PS é inenarrável e mais parece não quererem ganhar qualquer uma das próximas duas eleições. Apoia Nóvoa mas faz um volto face com o surgimento de mais socialistas pretendentes a presidenciáveis. Quer estar e não estar ao mesmo tempo e finge que se trata de um assunto para mais tarde porque não sabe como o solucionar no presente. A atrapalhação deu espaço para o lançamento da candidatura de outros socialistas e só lhe falta que António José Seguro se lance também numa cruzada presidencial durante o mês de Setembro!
A estratégia relativa às legislativas não é melhor. Conseguiu coerência na construção das listas de candidatos mas falhou na adequação do estudo económico que encomendou a programa eleitoral. Atrapalhou-se na definição do número de empregos que promete e a sua voz não cativa o eleitorado. Falta-lhe a dinâmica de vitória. António Costa não fez o trabalho de casa, não acredita que possa vencer nem sabe bem o que faria se fosse eleito. A imagem da campanha é péssima e as mensagens dos cartazes perdem-se no ruído criado pelos sucessivos e gritantes erros (que não seriam admissíveis sequer a uma qualquer campanha de uma associação de vão de escada). António Costa não sabe o que dizer nem quando dizer porque não tem a confiança que diz ter nos novos cartazes.
O PS arrisca ser um fiasco nas próximas eleições. A tentativa de Costa piscar o olho ao eleitorado de direita ao elogiar Manuela Ferreira Leite e ao convidar Ribeiro e Castro para uma sessão socialista podem ser novos tiros no pé e afastar o eleitorado natural do PS. O efeito que Sócrates conseguiu com Freitas do Amaral não voltará a suceder como a mesma água não passa por baixo da mesma ponte duas vezes. O PS está isolado mas António Costa está no fio da navalha.
Costa já percebeu que não está numa posição confortável e vai apelar às bases para uma mobilização política na rentrée. Mas está a sentir o PS a escorregar-lhe das mãos que nunca o souberam agarrar e está a sentir as facadas nas costas que só um líder fraco, sem soluções e sem capacidade de comunicação pode sofrer.
Setembro é um mês decisivo e a coligação PSD/CDS já percebeu que a melhor campanha que pode fazer é ficar calada. É que o PS e António Costa conseguem fazer a campanha socialista e destrui-la ao mesmo tempo, propor soluções para o país e aniquilá-las no momento seguinte e definir a estratégia enquanto que os seus pares a minam sucessivamente. Enquanto isso, o país fica sem oposição e sem o contraditório, enfraquecendo a qualidade da nossa democracia.

Há muitas pessoas que querem tramar António Costa mas o principal opositor é o próprio António Costa e a sua inabilidade para lidar com factos políticos próprios de um partido fragmentado , de ex-líderes ressentidos e de um país com uma elevada divida externa. Até pode vir a ganhar as próximas eleições legislativas mas, se acontecer, terá uma maioria fraca e instável que deixará o país também muito (demasiado) enfraquecido.


Estamos feitos!

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Se é assim na campanha, como será se/quando forem Governo?

A campanha eleitoral do PS revela a falta de preparação dos líderes e das estruturas partidárias para os mais simples actos das suas vidas políticas, ou seja, concorrer a umas eleições.


Os erros grosseiros dos cartazes do PS não são apenas um problema de publicidade ou um erro de Marketing. Depois de um estudo económico que poderia ter sido usado como trampolim para uma nova ordem política nacional, o PS fez quase tudo mal: o líder não consegue ser eloquente, a mensagem está desadequada, os recuos quanto a Sampaio da Nóvoa denotam pouca consistência, e as bases parecem duvidar que o PS ganhe eleições e, por consequência, que António Costa seja o líder capaz de carregar os "boys" às costas.


Mas o problema que o PS enfrenta é comum a outros partidos que, reféns de uma estrutura amadora e com deficit de formação politica, ficam à mercê de 2 ou 3 voluntários partidários experientes em campanhas onde se agita a bandeira mas sem sumo político. Mesmo a coligação que tem a vantagem do incumbente, cometeu erros com a escolha do nome, com a decisão do slogan e até o timing dos anúncios.



A política é diferente do partidarismo e isso vê-se nos mais básicos erros que os portugueses identificam de imediato e dos quais fazem troça nas redes sociais. O erro do cartaz com a senhora desempregada há 5 anos não está na mensagem (que está péssima mas que é uma decisão partidária). O erro está no membro do PS que redigiu a mensagem para o publicitário e que provavelmente não sabe que as legislaturas têm uma duração de 4 e não 5 anos. Como o erro do cartaz "vindo do além" não é apenas do publicitário mas dos decisores partidários que não conseguiram interpretar a potencial reacção do público através da análise visual da maquete.
As campanhas políticas são profundamente amadoras, embora esporadicamente se contratem publicitários que sabem realmente do assunto. Mas nem sempre o líder ou os seus seguidores dão espaço de manobra ao publicitário porque acham que sabem mais do que os restantes de política quando na prática, apenas sabem abanar bandeiras. A sensibilidade politica é algo difícil de aprender e parece estar em vias de extinção nas máquinas partidárias.



A rapidez da agenda mediática não permite grande atenção aos detalhes e é normal que surjam erros, tal é a urgência em marcar a posição junto do eleitorado. Mas o PS, este PS parece mais amador do que seria de esperar para um partido que quer(ia) ganhar eleições.

No actual cenário político, como é possível publicarem cartazes de leitura difícil, com inúmeras cores, com mensagens erradas e de forma atabalhoada?

Se é assim na campanha, como será se/quando forem Governo?


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Espeleólogos, vinde a Lisboa!

Lisboa é uma cidade cheia de surpresas! Bares, restaurantes, lojas, feiras e crateras! Não, não estou a confundir crateras com as galerias romanas da baixa pombalina. Quando falo em crateras, refiro-me a buracos de grandes dimensões que ocupam pavimentos rodoviários e pedonais por essa Lisboa fora.

Fala-se muito em captação de turistas e na qualidade de vida do habitante da cidade. A autarquia tem inúmeros programas de apoio às actividades turísticas, aos empreendedores e aos habitantes mas parece ter-se esquecido que pavimentar as ruas e impedir acidentes é também uma atribuição autárquica.


Não falo naqueles buracos que surgem com as chuvas e que só podem ser solucionados com o fim do Inverno. Falo em autênticas grutas que condutores e cidadãos enfrentam todos os dias há vários meses (ou anos) nos mesmos locais e que a autarquia prefere não ver. Mas o problema maior é para o transeunte que passa pelas grutas ocasionalmente e que não conhece o terreno acidentado. Qualquer distracção é suficiente para rebentar um pneu, ter um acidente, sofrer um despiste, atropelar um peão.

Uma capital europeia deveria ser conhecida pelo seu cosmopolitismo, pela sua gastronomia ou pela sua luminosidade. Mas, quando um tuk-tuk cai num buraco e o turista dá um salto na cadeira ou quando um taxista enfurecido tudo faz para acertar em todos os buracos de uma rua, Lisboa passa a ser reconhecida pelo seu terreno lunar e pelas emoções que desperta ao nível de um qualquer passeio todo o terreno.

De nada serve o anúncio pomposo de linhas de crédito milionárias para pavimentação das ruas antes das eleições. A espeleologia deve ser uma actividade turística, sem qualquer dúvida! Mas que o seja em Mira de Aire ou em qualquer outro solo calcário. Deixemos o solo alcatroado e calcetado sem estalactites nem estalagmites!

quarta-feira, 8 de julho de 2015

A credibilidade, o activo que os gregos aniquilaram

A credibilidade é um dos maiores activos económicos dos tempos modernos. Ninguém aceita negociar a preços baixos com economias pouco credíveis e não são muitos os que aceitam investir em mercados onde a instabilidade e a credibilidade dos seus líderes é colocada em causa.

Assim, quando um país enfrenta problemas financeiros (e são muitos que os enfrentaram nos últimos anos), a principal tarefa não é a retoma da economia nem a inversão do deficit. Retomar a credibilidade assume-se como tarefa fulcral do processo de retoma do crescimento e do desenvolvimento.


Tentemos pensar o problema de um ponto de vista individual. Se eu emprestar dinheiro ao individuo X e este incumprir no reembolso desse empréstimo, vou obviamente ficar desconfiado e será mais difícil voltar a emprestar-lhe dinheiro, ainda que o preço do empréstimo seja mais atrativo. Mas se o individuo X, para além de falhar a data do reembolso, adoptar uma postura de agressividade e de ameaça com a devolução do valor num futuro próximo, será que muitos cidadãos estariam na disposição de emprestar dinheiro com elevado risco de não o receberem de volta?

Portanto, o maior problema da Grécia não é a divida pública nem a incapacidade de solver as suas responsabilidades no curto prazo. O maior problema da Grécia é a perda de credibilidade que afectará no médio e longo prazo a concessão de crédito, ameaçará hipotéticos investimentos externos no país e dificultará, ainda mais, o dia a dia dos Gregos.

Democracia? Claro que sim, mas com credibilidade


quinta-feira, 2 de julho de 2015

O princípio do fim do(a) Euro(pa)

A Europa errou! Enquanto se apostou em objectivos ambiciosos e se acreditou na responsabilização dos executivos europeus, a Comunidade transformou-se em União e viu nascer a moeda única.

Os países perderam soberania mas ganharam estabilidade (será que os cidadãos europeus se recordam das taxas de juro elevadas da década de oitenta do século passado e das dificuldades em obter crédito e comprar viaturas alemãs?). Essa estabilidade levou ao desenvolvimento, ao progresso…e à divida! Pedir emprestado passou a ser banal para comprar casa, carro, televisão, férias, aspiradores, secadores….para literalmente comprar tudo!

Ninguém se preocupou verdadeiramente com o excesso de divida. E não falo apenas da divida pública, pois a divida privada é ainda maior.


O verdadeiro problema da Europa começou na estabilidade. Com o excesso de confiança, vieram os abusos, o despesismo e a compra de divida para pagar divida. Os juros aumentavam mas era mais importante ganhar eleições e ter um carro melhor ao do vizinho do que viver dentro das possibilidades. A estabilidade gerou instabilidade e o mercado único começou a tremer.
Mais tarde ou mais cedo, os problemas teriam de acontecer. As políticas de segurança social dos países eram muito diferentes, a fiscalidade e a responsabilidade ainda mais.
Ninguém sabe o que acontecerá com esta recente crise grega mas provavelmente será o princípio do fim do Euro como o conhecemos

A Europa é um território multicultural e economicamente diverso. Sul e Norte, Este e Oeste têm histórias e culturas distintas com um mercado único instável que os une. Enquanto a Alemanha e a França quiseram promover uma Europa unida, a Europa sobreviveu. Mas as recordações das guerras estão muito esbatidas e na mesa das negociações ficam apenas os remorsos económicos, os problemas históricos, as diferenças culturais e as divergências sociais.

A Europa não voltará a ser como era antes da crise grega. Será um espaço mais hostil, será menos económica e estará, infelizmente, mais perto do fim.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Grexit e o status quo dos actuais líderes europeus!

A crise grega esconde alguns fenómenos que os meios de comunicação convencionais não tem sabido ou conseguido explorar. Se parece óbvio que nenhum país defende a exclusão da Grécia da moeda única (à excepção da Rússia e eventualmente da China por motivos geoestratégicos), não tem sido tão óbvia a preocupação dos líderes europeus para que o Syrisa não saia como o grande vencedor deste diferendo.


O Syrisa está posicionado na extrema-esquerda, tendo inspirado inúmeras forças políticas europeias. A coragem em enfrentar potências económicas associada ao sucesso dos seus resultados eleitorais mostraram aos partidos similares que podem ambicionar a vitória eleitoral nos seus países.
Se a obtenção do acordo no Eurogrupo for entendido como uma vitória do Syrisa, a extrema-esquerda europeia ganhará uma energia extra com impacto incerto nas eleições nacionais. Isso significaria que muitos dos actores políticos europeus, teriam o seu lugar ameaçado, comprometendo os actuais equilíbrios políticos na União Europeia.

Arriscar numa saída da Grécia da Eurozona seria muito perigoso para o futuro da Europa. Mas arriscar numa vitória do Syrisa grego não é menos perigoso para o status quo dos actuais líderes políticos europeus.

Logo, perspectiva-se um acordo político-económico vantajoso para a Grécia mas com vitória mediática para a União Europeia. A maior incerteza é se o ego dos dirigentes gregos e a recente ambição de poder das extremas esquerdas europeias, deixará que isso aconteça!


quarta-feira, 27 de maio de 2015

Valores, Qualidade Institucional e Desenvolvimento

Quais são os valores que vigoram nas instituições portuguesas? Por que normas se regem e de que maneira é que estas normas influenciam o seu funcionamento? Este estudo tenta responder a estas questões, através de uma análise de fundo a seis organismos nacionais.

A conferência de apresentação do estudo está marcada para amanhã, dia 28 de Maio, pelas 14h30, na Fundação Arpad-Szenes Vieira da Silva. Haverá três painéis, ao longo dos quais serão discutidas as etnografias de cada uma das seis instituições estudadas - Autoridade Tributária, Euronext, EDP, ASAE, CTT e Hospital de Santa Maria. 

Na discussão vão estar presentes os coordenadores, Alejandro Portes (Princeton) e Maria Margarida Marques (Universidade Nova), os responsáveis por cada análise individual: Ana Maria Evans, Miguel de Pompeia, Nuno Vaz da Silva, Mário Contumélias , Roselane Gomes Bezerra e Sónia Pires e vários comentadores: Miguel Pina e Cunha (Universidade Nova), José de Azevedo Pereira (ISEG), Graça Carapinheiro (ISCTE) e João Ferreira de Almeida (Instituto Universitário de Lisboa).

Inscrições gratuitas no site da FFMS

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Cegueira intelectual!

O mundo vive numa espécie de ilusão monetária. Vive-se do crédito mas não da riqueza, paga-se crédito com mais crédito, iludem-se os cidadãos com estatísticas construídas e previsões irrealistas e continua-se a confundir crescimento económico com desenvolvimento económico.


Trata-se de um mundo sem moral, onde a utopia da sociedade perfeita deu lugar à podridão de uma sociedade corrupta e motivada por interesses privados. O bem público não passa, esse sim, de uma utopia que apenas alguns resistentes defendem enquanto não são afastados pelas redes de interesses económicos.

O problema do mundo actual não é a falta de soluções nem mesmo a falta de recursos. O grande problema da actualidade é a cegueira intelectual e a falta de ética das elites que, ávidas de alcançar o poder, não têm remorsos em mentir aos cidadãos nem em distorcer as suas análises demagógicas.


Ao contrário do que vulgarmente se diz, não foi a política que ficou refém da economia. A política capturou a economia como justificação e como desculpa para as suas decisões. Hoje fazem-se estudos económicos para dar suporte a programas de governo, como se só interessasse aos cidadãos as centésimas dos coeficientes económicos e as milésimas das percentagens.

Mais do que a economia dos “iluminados”, os cidadãos precisam de esperança, nem que seja da utopia dos antigos filósofos, que projecte o futuro, um futuro qualquer. E a sociedade necessita de organização, justiça, responsabilização e orientação.
Um Estado refém de estudos económicos é pior do que um político comprometido com interesses empresariais. É o corolário da ineficiência dos partidos aprisionados na divida que assumiram para captar votos e mais votos.

Numa época em que tudo parece (e apenas parece porque na realidade não o é) ser controlado pela economia, falta criatividade e assertividade aos políticos. Os argumentos são sempre os mesmos, os discursos enfadonhos e as eleições têm excesso de estratégia e escassez de propostas.
Não é a economia que comanda o mundo. Os homens do mundo é que ficaram sem ideias para liderar a sociedade e hipotecaram o futuro para ter crédito, o mesmo crédito que optaram por gastar e não investir.

Assim, o futuro do mundo não é risonho e o futuro do nosso país (que nem sempre é igual ao futuro do mundo) também não!