segunda-feira, 17 de junho de 2019

O Pisão que nos enfraquece(rá)



De tempos em tempos, geralmente em períodos pré-eleitorais, surge um grupo de distintos portalegrenses mais ou menos organizados com filiação partidária e cargos políticos que traz para a agenda mediática o assunto da barragem do Pisão. Será o Pisão a salvação do nosso Alto Alentejo?

O projecto da barragem está orçamentado em cerca de 100 milhões de euros, entre despesas de construção, custos de realojamento e rede de distribuição de água. Como o governo tem de garantir (alguma) equidade entre os investimentos públicos no território nacional, este valor será obviamente inibidor de novos investimentos públicos no Distrito de Portalegre. Para investir 100 milhões no Pisão, alguém acredita que um governo, seja ele qual for, investirá também na saúde, na educação, nas estradas, nos serviços públicos nos Municípios do Distrito?


A questão mais relevante por responder é se os distintos portalegrenses que voltaram a insistir na construção do Pisão estão seguros que este investimento será o motor por excelência de desenvolvimento do Distrito, colocando-o à frente de um novo hospital e melhores serviços de saúde para Portalegre, da ligação de auto-estrada e ferrovia decente a Portalegre, da circular de ligação da A6 ao IP2 sem ter de passar por Estremoz, da abertura permanente da fronteira entre Montalvão e Cedillo, e de tantos outros investimentos que seriam mais facilmente realizáveis pelo seu mais baixo custo comparando com os 100 milhões do Pisão.

Não nos podemos esquecer que Portalegre continua a ser a única capital de distrito de Portugal Continental sem auto-estrada, que a ligação ferroviária é quase inexistente, que Évora se prepara para construir o “Hospital Central do Alentejo” (investimento de €170.000.000), o que levará ao definhamento ainda mais acentuado das unidades de saúde do Distrito de Portalegre. Para além disso, o Distrito de Portalegre tem outras valências de recursos hídricos, alguns pouco aproveitados (lembro-me por exemplo do Açude do Carvalhal no concelho de Marvão, obra onde terão sido investidos cerca de €1.000.000 e que está ao abandono). Trará o Pisão os turistas e as actividades agrícolas que as barragens da Póvoa, da Apartadura, do Abrilongo ou do Caia não trouxeram?

Não está em causa o interesse estratégico do projecto “Barragem do Pisão” mas é preciso que todos tenhamos consciência da natureza do investimento, do custo de oportunidade relativo aos investimentos que deixarão de ser feitos e dos hipotéticos benefícios (e respectiva quantificação) que esse activo poderá ter (ou não ter) para todo o Distrito.



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