Imaginemos o seguinte caso: um merceeiro faz parte de uma cooperativa de comerciantes que se uniram como forma de obter maior poder comercial junto dos fornecedores e de serem mais competitivos nas vendas aos seus clientes. Dentro dessa cooperativa, houve 3 comerciantes (G, I e P) que, devido à má gestão nas suas lojas, se endividaram em excesso e tiveram de pedir apoio financeiro de emergência. Apesar de esse apoio ser proveniente também dos seus parceiros de cooperativa, o que perspectivava um aval forte à manutenção da cooperativa, registaram-se declarações paradoxais:
O comerciante A e o comerciante F entenderam que seria preferível tomarem uma posição de grupo (se é que se pode chamar grupo a 2 entidades) e, beneficiando de terem posição dominante sobre os parceiros de cooperativa, tentaram impor as suas regras como condição para a manutenção da associação. Apesar de a cooperativa ter chefes, veio a comprovar-se que a opinião/ posição destes, pouco valor tem…
Compreende-se que A e F não queiram assumir os erros de gestão dos parceiros de cooperativa irresponsáveis. Ainda assim, deviam assumir a sua quota-parte de responsabilidade por não terem antecipado esse problema (provavelmente porque não lhes terá interessado, mas aqui já entramos nas “especulações merceeiras”…). E, já que se assumem como membros dominantes, deveriam dar indicações credíveis sobre as suas intenções quanto à manutenção da associação de comerciantes!
Esses 2 comerciantes foram, em tempos, os principais responsáveis pela criação dessa cooperativa. Tentaram nessa época apaziguar as guerras entre colegas do ramo e estabelecer uma nova ordem económica entre comerciantes e a sua relação com o espaço que os rodeia. Foram ainda estes comerciantes os pioneiros de haver trocas comerciais livres entre os parceiros de cooperativa, o que os levou a negociar os bens apenas em quilogramas de sal, dispensando todas as restantes unidades monetárias.
Como se pode imaginar, uma cooperativa não é uma instituição de gestão simples. Implica coordenar os interesses particulares de cada associado mas deve supor também a exigência no cumprimento de alguns requisitos. Há cooperativas onde é relativamente simples afastar os elementos faltosos e outras onde é difícil, moroso e de resultado incerto. Mas é sempre um processo com custos para a própria associação. Mesmo os parceiros dominantes podem ter custos elevados e difíceis de quantificar por não darem o aval firme à manutenção da cooperativa. É portanto um erro deixar os problemas evoluírem sem posições rápidas e de consenso dentro das cooperativas. As guerras internas que em tempos A e F tentaram amenizar podem passar a guerras externas que inviabilizem o futuro desta associação.
Lição de Merceeiro: Não perspectivar o futuro e não correr o risco da promoção da estabilidade (em tempo útil) pode ser uma estratégia em que o Equilíbrio de Nash conduza ao afastamento e inevitável descontrolo das partes, com prejuízos para todos…inclusive numa cooperativa! Da mesma forma, disfarçar ou não querer ver o problema só pode ter um resultado: o agravamento desse mesmo problema!