Na minha simulação o meu objectivo principal foi atingir um défice zero,
assumindo a redução máxima permitida no IRC (uma política de criação de emprego e investimento),
independentemente do realismo da implementação política da solução.
Ponto de partida do
simulador: 8.277M€ de cortes para chegar ao défice zero ou superavit!
Tendo essa base iniciei o meu lado da despesa:
Segurança social
- Pensões
o A vida está demasiado
difícil para reduzir os rendimentos deste segmento da população. Se o modelo
permitisse limitaria, no entanto, mais as pensões mais elevadas e aumentaria,
no que fosse possível e sustentável, as mais baixas por forma a ter a mesma
despesa.
- Subsídio de Desemprego
assumi a redução máxima
o O racional aqui foi que
devíamos pagar mais por mês mas dar menos tempo e reduzir o incentivo a ficar
desempregado. Claro que pode-se não concordar, mas foi uma escolha minha.
Finanças
- Caixa Geral das
Aposentações
o Se nas pensões não quis
mexer por dar uma pensão média mensal de 348 euros, não podia deixar a pensão
média dos Funcionários públicos ficar nos 1111 euros. Cortei o máximo, corte
médio 211 euros, com a mesma lógica da progressividade das pensões.
Defesa Nacional e Administração Interna
-
Penso que faz sentido Portugal ter umas Forças Armadas
minimalistas, bem como uma simplificação das Forças de Segurança Públicas.
Menos tropas, melhor pagos, menos desperdício na segurança pública.
Outros Orgãos Gerais de Soberania
-
Notei que o meu corte possível era equivalente à
estrutura de negócios da RTP e do funcionamento da AR. O da RTP pareceu-me
óbvio. Claro que não se pode acabar com a AR, mas os restantes custos
associados a estas rúbricas certamente podem compensar uma parte substancial
dos 100 milhões de euros que aqui se assume ser o custo da AR.
Educação e Ciência
-
Li recentemente que temos menos alunos no ensino
pré-universitário (de um máximo em 2009). Isto devia refletir-se nalguma
redução dos custos desta rúbrica. Temos hoje os mesmos alunos que em 1999 (ca.
1,9M) e o número de professores é igual (ca. 170k). Dá 11 alunos por professor.
A despesa subiu 2kM euros. Tendo isso em conta decidi baixar a despesa 2kM (a
repartição é-me pouco relevante e a aplicação só deixou reduzir 1,5kM). Mesmo
assim é uma subida de quase 500 euros por aluno face a 1999, ou uma subida de mais
de 1% ao ano (taxa anual de crescimento, média de 1999 a 2011: 0,98%).
Já só me faltavam 3,5kM para o objectivo. Comecei a olhar para os mais
óbvios de cortar:
Economia e Emprego
- PPP: cortei tudo. Assumi
que era possível renegociar uma redução de outros 140M euros.
-
Transportes rodoviários e ferroviários: Cortei 335
milhões. Há muito desperdício nestas áreas. É uma convicção minha, mas não
tenho dados específicos para a suportar.
Municípios e Regiões Autónomas
-
Uma infografia do Jornal de Negócios de 17 de Agosto 2011
colocava o número médio de funcionários nas autarquias nos 19,6 por mil
habitantes (2010). O Porto consegue funcionar com 11 (versus os 18 de Lisboa).
Há melhorias a fazer aqui. Houve mais 10 mil contratações do que reduções no
período analisado nesta infografia. Claro que há zonas de exceção (o Alentejo
nunca pode ter valores idênticos ao Porto – 11,5 – mas Lisboa pode – 18,3).
Feitas as contas, um esforço de redução equivalente a 30 mil funcionários, em
período de crise, num universo de quase 200 mil funcionários, não me choca.
Reduzi tudo em despesas com pessoal.
Saúde
-
Em 2000 o Estado gastava 566 euros por pessoa por ano. Em
2011 foi de 869 euros por pessoa. Passámos de 6088 diplomados em saúde em 2000
para 14505 em 2011. Curiosamente o número de camas, consultas e outros
indicadores da oferta, têm-se mantido mais ou menos estável. Já a despesa total
por habitante aumentou 300 euros. A despesa com pessoal explodiu dos 2600M para
os 4000M euros. Entre 2000 e 2011 parece-vos que o serviços melhorou em
qualidade para o dobro? A despesa total já foi cortada de 10kM para ~8kM (2011
para 2012). Parece-me ser possível ter ainda mais ganhos. Em 2000 a despesa
total era cerca de 6kM, ou 566 euros por pessoa. Com um corte de 19% na saúde
passamos a gastar 704 euros por pessoa, um crescimento de quase 2% ao ano (a
média de crescimento do PIB em período idêntico é <1%).
Com cerca de mil milhões para acertar decidi olhar novamente para a
receita.
- Aumentei o imposto sobre
produtos petrolíferos e energéticos. A ideia seria desincentivar o uso de
transporte próprio (importado desde o carro ao combustível), ganhar uma receita
fiscal de quase 500 milhões e, se os organizarmos melhor, aumentar a utilização
de transportes públicos tornando-os mais rentáveis. Se possível evitando
aumento da carga fiscal de fontes de energia renovável.
-
O aumento do Imposto Sobre o Tabaco também me pareceu ser
o menor dos males. Receita de 332 milhões.
Com 131 milhões para cortar decidi olhar novamente para a Agricultura, Mar,
Ambiente e Ordenamento do Território. Não deverá ser difícil, com um orçamento
de 1,7kM de euros cortar 131M.
Assim consegui o OE2013 sem défice. Claro que, do ponto de vista ideológico
podemos discutir detalhes do como e aceito qualquer alternativa que com menos impostos consiga défice nulo.
Infelizmente enquanto não tivermos superavit ou taxas de crescimento que financiem défices, a dívida cresce!
Como povo é esse o legado que queremos deixar aos nossos filhos?
Duas pequenas notas:
1. As limitações do simulador não me deram a liberdade de fazer o OE como o
queria, daí as condicionantes iniciais por mim impostas.
2. Mas claro que este simulador tem limitações... é um simulador. No
entanto há limitações que foram autoimpostas pelos autores, a consultora
Deloitte, e que fazem pouco sentido num exercício como este.
Por exemplo, o simulador apenas permite alterar 77% das receitas gerais do
Estado. Percebe-se esta limitação para o simplificar e tornar utilizável por
leigos. Já se percebe menos a limitação a uma variação máxima de 24% (receitas)
e 19%(despesas) face ao OE proposto pelo governo.
Uma outra limitação decorre do limiar virtual do défice decorrente do valor
do OE 2013 proposto pelo Governo. O objectivo é ficar abaixo do Governo – ou um
défice inferior a 7.185M€. A coluna objectivo fica mesmo verde para qualquer
valor inferior a esse. Os autores do simulador consideram, por hipótese, que
qualquer défice inferior ao do Governo é bom. Nisso discordamos. Teria sido
mais interessante um código mais gradual de cores – redução de 50% laranja; 75%
amarelo, acima dos 100% (superavite) verde e efetivo ataque à dívida.
Nenhuma destas limitações, na minha opinião, desvaloriza o esforço ou o
próprio simulador. São apenas críticas construtivas.