Depois dos problemas ocorridos no BPN e no BPP, pensava-se que o sistema
financeiro português tinha ficado mais estável e expurgado de esquemas
fraudulentos de financiamento. As auditorias e inspecções passaram a ser
mais incisivas, acompanhando as exigências da Troika para que as contas das
entidades públicas e financeiras fossem mais rigorosas.
Termos como imparidades, testes de stress e reforço de provisões passaram a
ser uma constante nas preocupações dos gestores financeiros, uns por real
preocupação pela saúde da sua instituição, outros por mero receio das
auditorias e inspecções externas.
Como se viu pelo recente escândalo
do BES (não vale a pena eufemizar os acontecimentos porque a situação foi gravíssima),
mesmo com a pressão constante das auditorias, o sector financeiro não ficou
protegido contra o moral hazard.
Este risco de existir informação assimétrica em que um agente económico tem
mais informação do que um terceiro, atingiu a insustentabilidade no caso do
BES. Pelos últimos dados divulgados pelo Banco de Portugal, terá existido até
uma quebra de confiança com informações incorrectas sobre financiamentos concedidos
e outros produtos financeiros de elevada complexidade. Ou seja, a idoneidade e
reputação (dois dos mais relevantes valores para ser membro da Administração de
um Banco) terão ficado comprometidos.
O problema não é novo e não terá fim com a liquidação do BES. E a
explicação é mais simples do que poderá parecer: Enquanto os gestores
financeiros (e de outros mercados) tiverem prémios de produtividade em função
dos lucros anuais obtidos, existirão incentivos perversos para ocorrerem
problemas similares.
Mas haverá algo que se pode fazer para evitar nova catástrofe financeira?
Para se evitarem novas situações como a que ocorreu no BES, a legislação
deverá incidir nos incentivos dos gestores e na criação de limites à renovação
dos mandatos dos gestores financeiros. São apenas 2 exemplos aparentemente
simples mas com impacto bastante relevante na gestão das instituições. Por um
lado, a busca do lucro deixaria de ser o principal objectivo das instituições e
com a rotatividade de gestores, os vícios da permanência em funções seriam diluídos.
Nenhuma medida poderá impedir quebras de confiança ou fraudes mas é
imprescindível tomar precauções para reconquistar a credibilidade interna e
externa do nosso sistema financeiro.