António Costa é um político sozinho, sem capacidade de mobilização e com
dificuldade em comunicar com o eleitorado. Da esquerda à direita todos parecem
querer tramá-lo, principalmente dentro do PS e as eleições estão aí à porta.
Mas quem são realmente os que querem tramar António Costa?
1 – António José Seguro:
António Costa está a saborear as consequências da
estratégia calculista que utilizou no assalto à liderança do PS. Deixou António José Seguro levar com as balas da oposição e, na primeira hipótese, lançou a ofensiva política que culminou no puxar de tapete a Seguro. Nem Seguro, nem os seus apoiantes podem obviamente estar de corpo e alma com Costa. Além de que, muitos socialistas não gostaram do calculismo politico do seu novo líder nem acreditam na sua vitória eleitoral.
2- José Sócrates:
A estratégia de António Costa relativa à prisão de José
Sócrates foi correcta do ponto de vista democrático mas profundamente errada da
perspectiva do argumentário de José Sócrates. Enquanto Costa prefere separar poder
judicial de poder executivo, Sócrates pretendeu sempre o inverso, construindo
uma imagem de preso político quando na verdade não passa de mais um político
preso. O poder de Sócrates dentro do PS é ainda grande e os seus apoiantes não
perdoam Costa. E por que será que Sócrates lança novas farpas para a
comunicação social nos piores momentos para Costa???
3- António Costa, sim...o próprio!
A estratégia presidencial de Costa e do
PS é inenarrável e mais parece não quererem ganhar qualquer uma das próximas
duas eleições. Apoia Nóvoa mas faz um volto face com o surgimento de mais
socialistas pretendentes a presidenciáveis. Quer estar e não estar ao mesmo
tempo e finge que se trata de um assunto para mais tarde porque não sabe como o
solucionar no presente. A atrapalhação deu espaço para o lançamento da
candidatura de outros socialistas e só lhe falta que António José Seguro se
lance também numa cruzada presidencial durante o mês de Setembro!
A estratégia relativa às legislativas
não é melhor. Conseguiu coerência na construção das listas de candidatos mas
falhou na adequação do estudo económico que encomendou a programa eleitoral.
Atrapalhou-se na definição do número de empregos que promete e a sua voz não
cativa o eleitorado. Falta-lhe a dinâmica de vitória. António Costa não fez o
trabalho de casa, não acredita que possa vencer nem sabe bem o que faria se
fosse eleito. A imagem da campanha é péssima e as mensagens dos cartazes
perdem-se no ruído criado pelos sucessivos e gritantes erros (que não seriam admissíveis
sequer a uma qualquer campanha de uma associação de vão de escada). António
Costa não sabe o que dizer nem quando dizer porque não tem a confiança que diz
ter nos novos cartazes.
O PS arrisca ser um fiasco nas próximas
eleições. A tentativa de Costa piscar o olho ao eleitorado de direita ao
elogiar Manuela Ferreira Leite e ao convidar Ribeiro e Castro para uma sessão
socialista podem ser novos tiros no pé e afastar o eleitorado natural do PS. O
efeito que Sócrates conseguiu com Freitas do Amaral não voltará a suceder como
a mesma água não passa por baixo da mesma ponte duas vezes. O PS está isolado
mas António Costa está no fio da navalha.
Costa já percebeu que não está numa
posição confortável e vai apelar às bases para uma mobilização política na
rentrée. Mas está a sentir o PS a escorregar-lhe das mãos que nunca o souberam
agarrar e está a sentir as facadas nas costas que só um líder fraco, sem
soluções e sem capacidade de comunicação pode sofrer.
Setembro é um mês decisivo e a coligação
PSD/CDS já percebeu que a melhor campanha que pode fazer é ficar calada. É que
o PS e António Costa conseguem fazer a campanha socialista e destrui-la ao
mesmo tempo, propor soluções para o país e aniquilá-las no momento seguinte e
definir a estratégia enquanto que os seus pares a minam sucessivamente.
Enquanto isso, o país fica sem oposição e sem o contraditório, enfraquecendo a
qualidade da nossa democracia.
Há muitas pessoas que querem tramar
António Costa mas o principal opositor é o próprio António Costa e a sua
inabilidade para lidar com factos políticos próprios de um partido fragmentado
, de ex-líderes ressentidos e de um país com uma elevada divida externa. Até
pode vir a ganhar as próximas eleições legislativas mas, se acontecer, terá uma
maioria fraca e instável que deixará o país também muito (demasiado) enfraquecido.
Estamos feitos!