Temos vindo a assistir a um perigoso extremar de posições na política, num decalque
daquilo que acontece no futebol:
“O meu clube/partido é bom e o teu é mau, o
meu presidente pode dizer tudo que continua a ser um santo mas se o teu abrir a
boca é um malvado!”
Esta postura revela uma falta de sentido democrático dos cidadãos e de quem
os instiga a adoptarem esse tipo de comportamentos. As perseguições aos
sistemas de checks and balances podem ser normais em regimes autoritários que
não convivem bem com opiniões contraditórias e com a troca de argumentos mas
devem ser combatidas em regimes que se dizem democráticos e em instituições que
se querem plurais.
Se alguém critica as declarações de um líder politico da esquerda, logo é
acusado de fascizoide ou de pafiano. Se alguém tem similar comportamento com
declarações provenientes da direita, ou é comuna ou tachista da esquerda.
Mas pior do que esta critica gratuita e vazia de conteúdo, é o esvaziamento
do contraditório dentro dos próprios partidos. Não bastava que os críticos
fossem afastados pelas lideranças políticas da distribuição de lugares, agora
até são silenciados pelo pelotão de fuzilamento de carácter das jotas, sempre
ávidas por sangue na defesa cega do líder que defendem, independentemente das
baboseiras que por ele sejam defendidas.
Ora, para alterar esta onda de definhamento democrático, seria necessário
que os líderes dessem o exemplo mas isso não chega. Teria de haver um conjunto
de personalidades dentro dos partidos que estivessem sensíveis a este tema e
que aceitassem o risco de perder os seus próprios benefícios em contrapartida
de deixarem uma marca para o futuro. É que falar em plurarismo, democracia e
salutar troca de argumentos é sempre espectacular e traz muitos votos mas
aplicar isso no quotidiano é mais raro, difícil e ameaça o status quo de tão
“nobres políticos”.