De tempos em tempos, geralmente
em períodos pré-eleitorais, surge um grupo de distintos portalegrenses mais ou
menos organizados com filiação partidária e cargos políticos que traz para a
agenda mediática o assunto da barragem do Pisão. Será o Pisão a salvação do nosso
Alto Alentejo?
O projecto da barragem está
orçamentado em cerca de 100 milhões de euros, entre despesas de construção,
custos de realojamento e rede de distribuição de água. Como o governo tem de
garantir (alguma) equidade entre os investimentos públicos no território
nacional, este valor será obviamente inibidor de novos investimentos públicos
no Distrito de Portalegre. Para investir 100 milhões no Pisão, alguém acredita
que um governo, seja ele qual for, investirá também na saúde, na educação, nas
estradas, nos serviços públicos nos Municípios do Distrito?
A questão mais relevante por
responder é se os distintos portalegrenses que voltaram a insistir na
construção do Pisão estão seguros que este investimento será o motor por
excelência de desenvolvimento do Distrito, colocando-o à frente de um novo
hospital e melhores serviços de saúde para Portalegre, da ligação de
auto-estrada e ferrovia decente a Portalegre, da circular de ligação da A6 ao
IP2 sem ter de passar por Estremoz, da abertura permanente da fronteira entre
Montalvão e Cedillo, e de tantos outros investimentos que seriam mais
facilmente realizáveis pelo seu mais baixo custo comparando com os 100 milhões
do Pisão.
Não nos podemos esquecer que Portalegre
continua a ser a única capital de distrito de Portugal Continental sem
auto-estrada, que a ligação ferroviária é quase inexistente, que Évora se
prepara para construir o “Hospital Central do Alentejo” (investimento de
€170.000.000), o que levará ao definhamento ainda mais acentuado das unidades
de saúde do Distrito de Portalegre. Para além disso, o Distrito de Portalegre
tem outras valências de recursos hídricos, alguns pouco aproveitados (lembro-me
por exemplo do Açude do Carvalhal no concelho de Marvão, obra onde terão sido
investidos cerca de €1.000.000 e que está ao abandono). Trará o Pisão os
turistas e as actividades agrícolas que as barragens da Póvoa, da Apartadura,
do Abrilongo ou do Caia não trouxeram?
Não está em causa o interesse
estratégico do projecto “Barragem do Pisão” mas é preciso que todos tenhamos
consciência da natureza do investimento, do custo de oportunidade relativo aos
investimentos que deixarão de ser feitos e dos hipotéticos benefícios (e
respectiva quantificação) que esse activo poderá ter (ou não ter) para todo o
Distrito.