http://economics.mit.edu/files/7625
Livro magistral sobre como as instituicoes politicas evoluem e grupos de interesse afectam o desenvolvimento dos paises.
domingo, 30 de setembro de 2012
O Futuro do Mundo por Michio Kaku
http://www.amazon.com/Physics-Future-Science-Shape-Destiny/dp/0307473333/ref=la_B000ARDFYQ_1_1?ie=UTF8&qid=1349041517&sr=1-1
Este é um livro bem interessante que li recentemente. O Professor Michio Kaku projecta com base nos projectos de investigacao hoje como poderá ser o mundo e a nossa economia em 2030, 2050, e entre 2070-2100. Obviamente, tais projecoes tem sempre uma dose substancial de imaginacao e especulacao. Uma sorte para nós é que Kaku pensa que o turismo continuará a ser uma das grandes industrias do futuro. A parte má é que a ciencia e matemática continuarao a ser importantes para desenvolver novas tecnologias e nós somos historicamente maus nisso (apesar de termos melhorado devido a um esforco da FCT nos ultimos 15 anos).
Kaku explica como actuais linhas de investigacao cientifica poderao:
usar a fusao atómica para alimentar o mundo de energia;
usar transportes magnéticos de alta velocidade e baixo custo;
fazer os cegos ver e os surdos ouvir através de chips;
utilizar nanorobots para tratar o cancro de forma mais eficiente e com doses de quimioterapia milhares de vezes inferiores as actuais;
tratar genes defeituosos;
possivelmente, terminar o envelhecimento e extender a vida humana para centenas de anos (é de observar que crocodilos - além das sequoias - parecem viver indefinidamente, desde que tenham dentes);
enviar milhoes de nanorobots (em lugar de naves espaciais enormes e que custam demasiado) para visitar as estrelas.
sábado, 29 de setembro de 2012
Efeitos directos e indirectos da Corrupcao: Moral, Teoria e Evidencia
Existem varios tipos possiveis de
corrupcao, com efeitos directos e indirectos na Economia. Em geral os
economistas pensam que sao os efeitos indirectos na eficiencia produtiva e nao
o roubo directo que está em causa. Vou apresentar 3 tipos de corrupcao, que
foram analizados por Acemoglu e Verdier (2000). Acemoglu é para muitos o
economista mais genial dos ultimos 20 anos, alguém que poderia já ter recebido
3 Nobeis (se o mundo fosse justo, claro).
O primeiro tipo de corrupcao é
moralmente mau, mas nao tem efeitos económicos. Um corrupto que rouba 1 euro a
cada portugues num imposto (lump-sum) nao cria ineficiencias no PIB, mas
aumenta a falta de moralidade e a desigualdade (o rico corrupto ganha ainda
mais). Por isso, temos raiva dele! Isto é parecido ao árbitro de futebol que
rouba do clube A para dar a vitoria ao B. Um clube perde 1 ponto e o outro
ganha 1. Nós temos tanta raiva ou mais dos árbitros de futebol como dos
corruptos, mas nao é por estes que Portugal é sub-desenvolvido.
O segundo tipo de corrupcao resulta
dos custos de vigiar tudo. Pode haver muitos politicos honestos, mas estes nao
conseguem vigiar tudo o que se passa no país e se em cada negócio existe um
burocrata mau que cobra uma pequena percentagem. Aqui existe corrupcao pelo
mesmo motivo que existem pedófilos e roubos na rua. Ninguém defende os
criminosos, mas é simplesmente impossivel ou muito custoso colocar um policia a
controlar tudo em cada casa. Assim, é optimo permitir alguma corrupcao, porque
o combate a tudo custa muito. Este tipo de corrupcao é como um pequeno imposto
sobre a actividade económica. Tem de ser pequeno, caso contrário todos os
eleitores viam e paravam a mafia. Isto também pode acontecer em Ditaduras
Iluminadas. O Ditador e Amigos cobram uma percentagem de tudo e criam pequenas
ineficiencias. Apesar de tudo, este tipo de corrupcao nao impede o crescimento
económico nem o desenvolvimento! Porque? Nem o Ditador nem os burocratas
corruptos estao interessados em ter um país subdesenvolvido. Antes pelo
contrario o interesse dos corruptos é que nascam mais empresas, haja mais
industria, e mais fontes de receitas! Estes malandros sao um pouco mais
ineficientes que os primeiros, mas nao impedem o desenvolvimento nem a adopcao
de novas tecnologias.
O terceiro tipo de corrupcao ocorre
em Ditaduras onde a elite tem medo de ser punida pelos próximos dirigentes do
país. Este, sim, é o tipo de corrupcao que bloqueia qualquer desenvolvimento. O
Ditador e Burocratas podem até roubar pouco, porque ao fim de contas controlam
um país sub-desenvolvido. O verdadeiro problema é que estes Corruptos tem medo
de perder o poder, a sua riqueza roubada, e até as suas vidas. Por isso, vao
fazer todos os possiveis para que controlem toda a Riqueza do país (como por
exemplo os principais portos, minas, petróleo e recursos naturais) e para que
nao apareca nenhuma industria moderna e produtiva que os substitua. Permitir
crescimento é arriscar que a elite corrupta perda influencia económica e eventualmente
a vida.
Podemos pensar em varias sociedades
do terceiro tipo de corrupcao: a China do Mao, a Uniao Soviética de Brejnev, a
Coreia do Norte, o Congo e outros paises africanos. Acemoglu considera que este
tipo de corrupcao pode aparecer em sociedades democráticas que sejam muito
desiguais, como alguns paises da América Latina. Em esses caso, uma elite
económica controla grande parte da riqueza, tem medo de perder poder e ser
expropriada, logo usa a sua influencia económica (no Governo, tribunais,
empresas) para impedir politicas de igualdade (mesmo que positivas para o
crescimento) que ameacem a sua posicao social.
Todavia, Acemoglu aponta que
dificilmente este tipo de corrupcao pode aparecer em democracias vigorosas e
igualitarias como Portugal. Analisemos a evidencia.
Evidencia 1): Portugal é um país
democrático e uma sociedade bastante igualitaria. Aqui eu sei que vao-me dizer “Mas
os jornais dizem que Portugal é um dos paises mais desiguais da Europa!” O
indicador mais utilizado de desigualdade é o indice de Gini e este mede que
percentagem da riqueza é necessario redistribuir para chegar a uma sociedade
100% igualitaria onde todos tem o mesmo. O valor Gini para Portugal é de 34%, o
que é mais desigual que os 32% de Franca ou Alemanha. Todavia, o Gini de
Portugal é parecido ao de Inglaterra, inferior aos 40% dos EUA, e bem inferior
aos 52% da América Latina ou 70% de alguns paises africanos. Ou seja, sim,
somos um pouco mais desiguais que o resto da Europa, mas muito menos que os
paises com esta corrupcao negativa.
Evidencia 2): Portugal foi um dos
países que mais cresceu no mundo entre 1950 e 1990. Portugal – apesar da crise
europeia de 1992 – também cresceu ligeiramente acima da média europeia entre
1991 e 2002. Ora, isto prova que os corruptos Portugueses, sejam do Estado Novo
ou da Democracia, nao queriam bloquear o Desenvolvimento! O período de falta de
crescimento económico de Portugal ocorre de 2002 a 2012. Consigo pensar em
muitos factores, entre eles o colapso das nossas principais industrias
exportadoras, como os texteis, calcado, e Auto-Europa, devido a maior
concorrencia da Europa de Leste e Ásia. A seguir colocaria a crise económica e
financeira de 2007-12. Portugal é sempre um país que sofre mais com as crises
internacionais do que a média europeia. Já vi evidencia convincente destes dois
factores em diversos estudos e até em Blogs.
Mas até agora nao vi um único
exemplo de que a corrupcao é culpada do sub-desenvolvimento de Portugal ou da
crise de 2002-12. Até agora os exemplos que vi sao maioritariamente do tipo “os
malandros, os politicos, os safados”. Isto indica que a corrupcao é dos tipos 1
e 2, que sao moralmente maus, mas com poucos efeitos económicos. Também nao vi
uma única evidencia de que em Portugal a corrupcao de tipo 1 e 2 é
particularmente séria. Sim, existem livros e videos sobre corrupcao em Portugal
na Internet. Mas acaso acreditamos que Portugal é o único país com malandros? A
verdadeira pergunta é quantas empresas deixam de investir devido a esses
malandros. Aí o efeito parece ser minúsculo, porque desconheco casos de
industrias que nao se instalaram em Portugal por culpa do Isaltino, Felgueiras,
ou dos multiplos malandros de que se fala na opiniao pública.
Evidencia 3) Se a crise só comecou
em 2002 e a corrupcao é a causa, entao deveriamos ter observado um aumento da
corrupcao nos ultimos 10 anos. Mas os proprios partidarios da tese
anti-corrupcao dizem que Portugal sempre foi corrupto. Ou seja, nao existe
nenhuma evidencia que isso foi particularmente um problema que comecou em 2002!
Outro problema é que Portugal nestes 10 anos viu as suas principais industrias
exportadoras morrer. Isto vai contra a teoria da corrupcao, porque a teoria diz
que os corruptos pertencem a industrias tradicionais e com boas ligacoes
politicas. Corruptos verdadeiramente influentes nunca teriam os Texteis e
Calcado morrer, da mesma forma que as elites africanas ou latino-americanas nao
deixam as industrias das elites definhar.
Evidencia 4) Existem muitos países
de corrupcao óbvia e que sao ricos, o que é forte evidencia de corrupcao de
tipo 1 e 2, mas nao do tipo 3. Exemplos abundam. Existe Singapura, uma
sociedade ditatorial e onde os politicos recebem (legalmente) os salarios mais
altos do mundo para politicos. Singapura foi o país que mais cresceu no mundo
em 60 anos e está bem a frente de Portugal. Curiosamente, muitos estudos que
indicam que na Ásia maior crescimento económico está associado a mais
corrupcao.
Na Itália grandes escandalos de
corrupcao e mafia destroem periodicamente os Governos, ao contrario de
Portugal. O politico italiano democrático com maior duracao de poder em mais de
100 anos, Berlusconi, esteve menos de 7 anos em cargos eleitos. Isto nao impede
Itália de ser um país rico, bem mais que Portugal. Antes da libertacao de Macau
em 1999, os debates televisivos na RTP discutiam a enorme corrupcao de Macau.
Os politicos macaenses e empresarios corruptos de Las Vegas terminaram com um
dos controles da heranca portuguesa (o monopolio de Stanley Ho) e fizeram de
Macau um dos 5 países mais ricos do mundo.
Exemplo 5) Um estudo da Comissao
Europeia aponta custos para a corrupcao na UE de 1% do PIB. Ora, 1% é muito
dinheiro, mas é baixo face a outros problemas, como a produtividade laboral,
más práticas de gestao nas Pequenas e Medias Empresas, a competitividade na
banca e retail, a inseguranca financeira, a educacao de má qualidade em alguns
países, ou os altos custos de energia.
Chamo a atencao para um trabalho de Campos, Dimova
e Saleh (2010) que analiza o resultado de 41 estudos empíricos que
apresentam 460 estimativas sobre o efeito da corrupcao no crescimento
económico. O mais importante é que 68% dos estudos aponta que a corrupcao nao
tem nenhum efeito negativo no crescimento económico, confirmando a especulacao
de Acemoglu de que a maioria da corrupcao nao é tao negativa.
Estes estudos utilizam varias
medidas de corrupcao a nivel internacional, tais como os índices da
Transparency Internacional, Heritage Foundation, e World Economic Forum. Em
geral estes indices de Corrupcao mostram que Portugal numa escala de 1 a 10
está em 6.6, ou seja estamos entre os 30% dos paises mais honestos. Nao somos o
pais mais honesto do mundo, da mesma forma que nao somos o pior país. Ora, de
acordo ao valor mais optimista das 460 estimativas feitas, Portugal passar de
6.6 ao máximo de honestidade iria dar um beneficio de 1% de crescimento do PIB
(0.34*0.03). Mas este é o valor mais optimista de todos, porque 98% das 460
estimativas indicam que o beneficio para Portugal de eliminar a corrupcao é de
no máximo 0.5% de crescimento do PIB (0.34*0.015).
Ora, 0.5% do PIB nao é pouco. Mas é
claramente mais pequeno que factores como: rigidez do mercado laboral (um custo
estimado de 14% do PIB por Blanchard e Portugal, 2001); educacao (com
beneficios estimados de 40% do PIB per capita de Portugal em varios estudos); e
melhoria da produtividade laboral e eficiencia das empresas (com beneficios
estimados ainda superiores a educacao). Curiosamente, os problemas económicos
nem sempre sao criados por pessoas de más intencoes, como aprendemos na Biblia.
Os homens que querem proteger os trabalhadores de despedimentos e injusticas
custam 14% do PIB ao país, mas os corruptos e malandros custam no máximo 1%.
Carlos Madeira
Economista do Banco Central do Chile
O artigo reflecta meramente a opiniao pessoal do seu autor.
A Neuroeconomia e as PPPs
Muitas pessoas tem questionado actualmente os negócios
das PPPs e porque motivo foram feitos. Porque os nossos politicos entregaram
rentabilidades de 15% garantidas em vez de uns 5% ou 7% mais módicos?
Esta é uma questao que tem sido muito estudada por
Eduardo Engel, um professor de Economia chileno em Yale. Engel conclui
claramente que as taxas de rentabilidade das PPPs sao más. Engel mostra também
que tal como em Portugal os Estados renegociam sempre contratos assinados antes
a favor das empresas privadas! Apesar de tudo Engel pensa que as PPPs podem ter
uma parte boa. Dado que o negócio é parte público e parte privado se o Estado
nao garante as receitas totalmente, a empresa privada melhora a Obra Pública ao
recusar um "elefante branco". Aqui podem ver alguns dos seus
trabalhos em PPPs:
As PPPs existem em todos os paises modernos, incluindo
Chile, EUA, Alemanha, Espanha, Franca e Reino Unido. A maioria dos paises
modernos tem regras institucionais que limitam o valor do défice oficial e da
divida pública. Estas regras em geral sao uma forma de limitar o Consumo
Presente e proteger as geracoes futuras de dívidas excessivas. Mas a nossa
geracao democrática gosta muito, muito de Consumo Presente! E por isso, faz
batota! Todos os eleitores gostam de mais obras publicas hoje e veem os limites
aos défices como uma chatice! Assim, os Povos apoiam PPPs que sao negativas
para as geracoes futuras. Reparem que os Portugueses queixam-se hoje das PPPs,
mas nao se queixaram delas entre 1990 e 2004 aquando criadas. Além disso, como
eu apontei em um artigo anterior as PPPs nao foram negócios secretos! Existem
websites oficiais com informacao transparente, clara e fácil de aceder sobre
todas as PPPs: obra pública, valor dos contratos, duracao, investimento feito,
re-negociacoes, etc. Os partidos da oposicao e jornalistas de economia poderiam
ter contestado as PPPs negativas, mas nao o fizeram? Porque? Se o tivessem
feito, o Povo teria-se levantado e dito "Pá, tu és o gajo que vai impedir esta
Grande Obra?? Isto nem conta como dívida oficial! O Povo está a espera que o
Governo faca algo já há muitos anos."
A forma das PPPs terminarem é o Povo deixar que querer
tanto mais Obras Públicas e Consumo Presente. Os politicos vao sempre fazer
disparates se o Povo deseja muito Chocolates agora e pagar Disparates amanha!
Na realidade o problema das PPPs nunca foi falta de
transparencia. O problema é os nossos cérebros estarem programados para querer
"Já! Deixa essa taxa de juro elevada para depois." Isso ve-se actualmente
quando as taxas de juro de Portugal estao altas e mesmo assim o Povo diz que
nao quer austeridade hoje, ainda que reduzir austeridade agora implica 15% mais
austeridade aqui a um ano.
Vou ilustrar isto com um exemplo de Neuroeconomia e de Creditos ao Consumo,
onde nao existe corrupcao politica. Como se sabe, em muitos paises, EUA,
Europa, e Chile, existem muitas pessoas que aceitam crédito hoje a taxas super
altas. No Chile este é um problema enorme. 65% das familias usa crédito ao
consumo e quase uns 5%-10% sao feitos a taxas quase iguais a "Taxa de Juro
Legal Máxima Permitida", que é de 56% ao ano. Isto é um negócio bem mau,
mas as pessoas aceitam-o porque podem pagar roupa de marca hoje e depois pagar
juros altos durante 1 ano inteiro!
Havia duas teorias de Neuroeconomia por detrás disto: 1)
Consumo Presente; 2) Falta de Transparencia (por vezes, os cartoes de crédito e
contratos podem ser dificeis de ler e os bancos colocam partes importantes em
letra pequena ao fim da página 5 em vez de letra grande na página 1).
Os reguladores de Consumo do Chile decidiram acabar com a
Falta de Transparencia. Agora as Taxas de Juro tem de estar em letras bem
grandes (Font 30), acompanhadas de letras grandes com a Taxa de Juro Legal
Máxima, na primeira página do folheto. Ou seja, os créditos passaram a ser
Super-Transparentes para qualquer palerma perceber que está a receber nao só
uma taxa alta, mas também o equivalente do “Pior Crédito permitido por Lei”.
O facto é que as pessoas nao deixaram de tomar estes
Créditos! Porque? Nós gostamos de Consumo Presente. A mulher gosta de Roupa de
Marca e do Frigorifico caro que nao pode comprar com o dinheiro na carteira
agora. Por isso, o marido compra as coisas mais caras agora e paga com juros
altos o ano inteiro.
Segundo esta experiencia, para mim explica-se porque
motivo os politicos aprovaram maus contratos de PPPs. Estes foram negócios
transparentes, ao contrario do que diz o Antonio Barreto. O problema nao é ver a Taxa de Juro em Letras Grandes e saber que "Isto é o pior Negocio
do mundo!", tal como no Chile esse nao era o problema. Os Portugueses e os
Chilenos gostam de Roupa de Marca e votamos em Politicos que compram Obras
Publicas de Marca agora. Tem de ser Já! Nao pode ser barato amanha!
Carlos Madeira
Economista do Banco Central do Chile
O artigo reflecta meramente a opiniao pessoal do seu autor.
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