As manifestações são um fenómeno
muito interessante do ponto de vista sociológico. Numa manifestação,
verifica-se o expoente máximo do comportamento de rebanho veiculado pela
ciência económica: a organização das manifestações tem um propósito específico mas
existem diferentes objectivos por cada manifestante (o que leva a resultados finais
incertos). Alguns querem que o Governo se demita, outros estão contra um
ministro, parte das pessoas critica a medida da TSU, cidadãos que querem
emprego e outros que não querem trabalhar e ainda há espaço para aqueles que
apenas gostam de protestar. E no final, ainda alguém se recordará qual o lema inicial dos promotores??
Tirar ilações de uma manifestação
não é fácil e talvez seja um erro generalizar as intenções alheias! Podemos
dizer que as pessoas estão descontentes, isso é indesmentível. Mas estão
descontentes porquê? Pelo Estado Social que têm ou pelo que ambicionam? Estão
chateados porque têm de pagar as dívidas dos governantes que elegeram ou porque
gostariam que eles voltassem? Preferem que a Troika os abandone ou querem receber
os seus salários? (passo as provocações…)
A manifestação que fica para a
posteridade é a mediatização da manifestação! São as fotos, os comentários, as
imagens, os cartazes, as detenções, as agressões e os insultos...
Depois da manifestação é
necessário capitalizar o descontentamento em propostas concretas para que a
clivagem social possa moldar comportamentos ou influenciar politicas. Não
existindo um partido politico ou uma associação organizada estatutariamente por
detrás da manifestação, cabe às forças vivas da sociedade civil redigirem
propostas e exigir responsabilidades. Mas cabe também aos cidadãos reflctirem
sobre as suas exigências. Por exemplo, o que aconteceria se a Troika saísse
hoje do país? Teríamos um Portugal em Bancarrota, sem pagar salários e pensões,
com uma crise social muito séria e seriamos afastados da União Europeia, sem
qualquer financiamento dos nossos credores! Será isso que queremos?
A culpa dessa aparente ignorância
social é sobretudo dos políticos! Nos discursos políticos fala-se de tudo e
mais alguma coisa, durante horas consecutivas, mas não se esclarecem os assuntos relevantes.
Não existe (ainda) o papel do político pedagogo que explica aos cidadãos os
problemas que lhes dá a conhecer as alternativas de soluções e que demonstra as
mais-valias da sua decisão (provavelmente porque são decisões amadoras ou com
influências de grupos económicas).
Há um novo Portugal após o anúncio
das novas medidas de austeridade do Governo. Temos um Governo de facções com um
CDS numa posição arriscada mas priveligiada e um PSD em quebra de capital político,
um PS em ascensão mas sem propostas alternativas e coerentes de Governo, um
Bloco de Esquerda em renovação e um PCP que se mistura com as centrais
sindicais.
Mas não sei se teremos cidadãos
mais exigentes, menos permissivos ou simplesmente saudosos dos insustentáveis tempos
em que muitos ganharam o que não deviam e que nos levam hoje a pagar o que não
temos!
As manifestações fazem falta como
sinal de vitalidade social mas protestar sem argumentar é a mesma coisa do que
pedinchar sem merecer!
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