A escolha de João Ferreira como cabeça de lista do PCP às próximas eleições europeias é ao mesmo tempo absurda e normal.
É absurda porque João Ferreira foi candidato a Presidente da Câmara Municipal de Lisboa nas últimas eleições, tendo sido eleito vereador do Município. Com a sua provável eleição para o Parlamento Europeu terá de abdicar do seu mandato em Lisboa ou na Europa (embora a hipótese mais provável seja a primeira). Mas João Ferreira já era também deputado europeu, tendo sido eleito com Ilda Figueiredo. O seu mandato só foi interrompido com a candidatura à CM Lisboa.
É ainda absurda porque o PCP tem criticado a postura de militantes de outros partidos que são escolhidos para candidatos a repetidos cargos, por diversas ocasiões.
Mas esta estratégia política é infelizmente normal na sociedade portuguesa. Há candidatos que adbicam dos seus mandatos durante o decurso dos mesmos ou até na própria noite das eleições. Se essa decisão fosse tomada pelos próprios antes das eleições, não haveria nenhum problema, até porque a lei permite esse tipo de comportamento errático. Mas como o eleitor desconhece esses factos, acaba por ser enganado pelo partido e candidato que apoiou. Há nesta postura um grau de informação adversa que distorce as decisões dos eleitores.
João Ferreira capitalizou alguns votos por ser o candidato “sexy autárquicas”, tendo conseguido um bom resultado para o seu partido em Lisboa. A decisão do PCP de nomeá-lo cabeça de lista nas europeias não é indiferente a esse facto. Não está em causa a capacidade técnica ou mesmo política de João Ferreira mas a sua escolha para concorrer a novas eleições quando as últimas (onde foi eleito) decorreram há menos de 6 meses, parece-me uma afronta para os eleitores que o apoiaram.
Terá o PCP escassez de quadros qualificados? Apenas consegue seleccionar um candidato dentro dos seus inúmeros militantes e simpatizantes?
Quando se acusa outros partidos de má postura politica deve-se, em primeiro lugar, analisar as decisões internas. Não é de bom tom apontar o dedo a outrem quando dentro de portas se passa o mesmo…ou ainda pior!
Os eleitores do PCP são fiéis e não será este facto que os demoverá de dar o voto ao seu partido. Mas o número de votos não apagará a atitude politicamente incorrecta do PCP!
Artigo publicado na edição de 17-02-2014 do Parlamento Global
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