Durante quase todo o século XX, a economia dos EUA cresceu de forma contínua e rápida mas, talvez nas últimas três décadas, o ritmo de crescimento "normal" diminuiu substancialmente. Isto levou economistas como
Robert Gordon e
Tyler Cowen a articular recentemente a
teoria da grande estagnação: um pessimismo sobre as perspectivas de crescimento no século XXI, após um século inigualável, em que importantes inovações tecnológicas como a aviação, os antibióticos, e os automóveis (só para começar com a primeira letra do alfabeto...), grandes progressos sociais (educação universal e emancipação da mulher) e importantes progressos das instituições políticas (graças à vitória das democracias), permitiram um crescimento económico robusto. A tese de Tyler Cowen, é que o Estados Unidos beneficiou de todos os frutos fáceis de recolher o que permitiu um rápido crescimento, mas agora todos os frutos que sobram estão no topo da árvore e são difíceis de recolher.
A mesma teoria, mas de cabeças para o ar, faz-me ser optimista em relação à economia portuguesa. É que por cá há ainda montes de árvores cheias de frutos fáceis de recolher. Em Portugal, apenas cerca de 15% da população entre 25 e 64 anos possui um curso univeristário (a média na OCDE é de 30%). Um estudo recente da CIP revelou que em Portugal apenas 20% do stock de habitações em uso são arrendadas, o restante 80% é ocupado pelo proprietário. Esta situação é o resultado de uma lei do arrendamento prejudicial para os proprietários (e sim, para os consumidores também... como qualquer curso de introdução à economia revela). O reverso da medalha é que cerca de 20% do stock total de habitações encontra-se devoluto. Ao seja 20% do stock de habitações não gera qualquer benefício económico (o custo de oportunidade é enorme!). Finalmente, o sistema de justiça é lento e ineficaz. Concretamente (pois já não basta dizer que a justiça não funciona, é preciso explicar porque é que não funciona), o mau funcionamento do sistema de justiça em Portugal traduz-se na enorme demora com que os credores são capazes de recuperar empréstimos realizados e receber pagamentos que lhes são devidos. Ora vender produtos e realizar empréstimos sem ter quaisquer garantias de que os pagamentos devidos serão efectuados é evidentemente um enorme obstáculo à actividade económica.
Portanto, investir em educação para pelo menos duplicar a parte da
população activa com curso universitário, mudar a lei do arrendamento para não
desperdiçar 20% do stock de habitações já instalado, e reformar a justiça para
que o incumprimento contratual seja punido, são medidas que terão um enorme
impacto na performance da economia portuguesa. São medidas que dão frutos
concretos e que, se implementadas, contribuirão para que trajectória da economia
portuguesa nos próximos 20 anos seja muito superior ao da média na OCDE. É
urgente explicar isto aos investidores internacionais, para que estes voltem a
investir em Portugal e para que os empreendedores portugueses sejam capazes de
voltar a ter acesso aos mercados de crédito e possam eles também criar novas
empresas e novos empregos. Inventar pois uma estratégia de crescimento para
Portugal não é tão difícil quanto isso, porque há ainda montes de árvores
cheias de frutos fáceis de recolher!