quinta-feira, 17 de abril de 2014

Televisões Pimba - Passatempos Duvidosos

As televisões generalistas especializaram-se numa tipologia de programas de fim de semana que associam musica de qualidade duvidosa, reportagens sobre usos e costumes dos portugueses e passatempos telefónicos que prometem oferecer avultadas quantias em dinheiro.

Esta mistura é seguramente o resultado das lutas de audiências e da necessidade de ocupar espaço televisivo a preços reduzidos. Se as televisões insistem neste formato, isso significa que têm espectadores para a tipologia apresentada, o que diz muito sobre os reais interesses dos portugueses.

O que mais me choca nesses pimba shows é a existência de passatempos que são autênticas máquinas de extorsão de dinheiro. Durante os programas, os apresentadores repetem dezenas de vezes consecutivas um determinado número de telefone (com chamadas de valor acrescentado). Aparentemente, se o telespectador ligar para o número apresentado no ecrã, fica automaticamente habilitado a um determinado prémio...e assim se passam mais uns minutos de televisão com encaixe de alguns euros.

No caso dos canais privados, esta é apenas uma estratégia que responde a estímulos de mercado. No entanto, a televisão pública deveria ser o garante da qualidade e das boas práticas comerciais.

Podemos discordar sobre a qualidade musical dos programas de fim de semana. Mas duvido que alguém considere que é serviço de público insistir num passatempo sem qualquer interesse cultural, desportivo ou social!

Artigo publicado por Nuno Vaz da Silva em Parlamento Global - 16/04/2014

quarta-feira, 2 de abril de 2014

“Presidente de la Democracia”


Foi com este título que o jornal El País homenageou Adolfo Suárez, antigo Presidente do Governo Espanhol nomeado pelo Rei Juan Carlos em 1976 e que faleceu recentemente aos 81 anos em Madrid.
Suárez não foi uma figura consensual em Espanha aquando da sua nomeação. Não foi ainda consensual durante a sua governação ou mesmo quando foi afastado do poder pela oposição. Mas Adolfo Suárez foi um estadista que deixou um legado que o tornou o político mais consensual de Espanha, segundo um ranking elaborado em 2010.
A sua carreira política é deveras interessante. Suárez governou para o país, com lealdade ao rei mas muitas vezes isolado. De uma coragem inquestionável, ousou efectuar reformas com rapidez, deu a mão às oposições e ofereceu literalmente o corpo às balas enfrentando tentativas de golpes de Estado, como aconteceu em Fevereiro de 1981.
Suárez foi um líder, um verdadeiro líder político, fiel às suas convicções morais e éticas. A sua habilidade para criar consensos possibilitou a construção de uma Espanha constitucional assente numa matriz regional com diversidade política. Suárez foi um presidente racional que governou sobre a realidade e não através da importação de modelos políticos desadequados.
Espanha prestou o seu tributo a Adolfo Suárez assim que a história mostrou o seu contributo decisivo para a construção democrática. As lutas políticas afastaram-no do poder mas ficará eternamente conhecido pelos seus concidadãos como o “Presidente de la Democracia”.
São estes exemplos de vida que devemos partilhar. A luta política não deve resumir-se a lutas partidárias inúteis e demagógicas. A diferença entre os pequenos líderes e os grandes estadistas está tanto nos pormenores como nas grandes tarefas democráticas. E cabe aos próprios construírem o seu caminho para tentarem alcançar os objectivos a que se propõem: a sua ambição pessoal ou o bem-estar social do seu povo!

Artigo publicado por Nuno Vaz da Silva em Parlamento Global, edição de 02-04-2014