domingo, 30 de janeiro de 2011

A educação do Parlamento Português

Ver ou somente ouvir debates da Assembleia da República Portuguesa é algo profundamente doloroso. Não pela falta de ideias, projectos ou visão séria e sustentada, dado que a sua ausência já tomo como dado adquirido. Mas ao menos que sejam capazes de cumprir os mínimos. E para mim, um dos mínimos que não é cumprido é a questão da educação que a instituição merece daqueles que lá falam.

Quando os assuntos são mais quentes, é raríssimo que as intervenções não sejam acompanhadas por apupos, urros, uivos, discussões paralelas. Isto já para não falar dos casos recentes mais tristes como sejam um Ministro a fazer "corninhos", deputado a chamar palhaço ao Primeiro Ministro (tendo eu dúvidas quem ele deveras ofendeu), deputado a "mandar para o falo" outro deputado, presidente da Assembleia da República a fazer trocadilhos com evacuar ou curioso por causa do artigo 69, etc, etc...

Já que efectivamente aquilo mais parece uma caserna, sugiro que se implemente um sistema de multas pecuniárias. De cada vez que um deputado desse um urro durante a intervenção de outrem, 10 € de multa para o "frasquinho". Trocar discussões paralelas entre bancadas durante uma intervenção, 100 € de multa. Linguagem de carroceiro nas discussões (como sugerir a um deputado que se está a doer que ponha manteiga), 250€ de multa. Sendo que este dinheiro reverteria para acções de solidariedade e bastariam uns 3 ou 4 estagiários para monitorizar o comportamento dos 230 meninos e meninas.

Por curiosidade, coloco aqui três links de discussões parlamentares quentes em três países europeus distintos: Portugal, Dinamarca e Ucrânia. Cada um afira por si sobre qual o país de que estamos mais próximos. 

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Não há prendas grátis

Almoços grátis, ou neste caso, prendas grátis é algo que não existe. Mas nestes últimos dias tem-se assistido a um desfilar de opiniões em sentido contrário. Altos intervenientes políticos portugueses têm dito que receber prendas é algo normal e que não minora em nada a honestidade de quem recebe por causa disso. Nada disto constitui surpresa relativamente à maneira de pensar e de agir de quem emitiu estas opiniões. Todos nós sabemos qual a sua perspectiva de ética.

Surpreendente é assumir publicamente a posição, em frente a um tribunal, de que é normal e aceitável que se recebam prendas de clientes ou fornecedores. Quer sejam robalos, galinhas, garrafas de vinhos raros ou relógios suíços. Mas é notória a preocupação que todos revelam em aceitar as prendas de modo a não serem percebidos como rudes. Maior mesmo do que a preocupação de poderem ser apercebidos como pessoas passíveis de serem influenciadas (leia-se compradas). A questão que eu coloco é a seguinte: quem aceita um relógio suíço ou um vinho raro como prenda, onde traça a linha sobre o que não aceita? Porque todos nós sabemos que prendas deste valor não se oferecem….trocam-se. Uma empresa tem por objectivo o lucro, logo para uma empresa dar prendas a pessoas influentes não pode ser uma oferta, mas antes um investimento.

Lembro-me perfeitamente de no meu primeiro trabalho, numa multinacional de serviços financeiros, terem enfatizado inúmeras vezes a impossibilidade de nós como funcionários aceitarmos prendas da parte de clientes. No máximo, poder-se-iam aceitar brindes como canetas baratas, um porta-chaves, enfim, merchandising de muito baixo valor (no máximo dos máximos no valor de 50 Eur). Todavia acredito que para muitos seja extremamente complicado dizer a alguém: “agradeço o gesto, mas não posso aceitar a sua oferta”. Mas é compreensível…..para um grego, ou um italiano, ou um sul americano. Povos mais cautelosos como os do Centro e Norte da Europa não acreditam que haja quem ofereça algo a alguém no valor de digamos 500Eur sem esperar nada em troca. O que é normal é “dar e receber”, não “receber por cortesia”.

Ps: Para quem viva no mundo da lua e não saiba do que se está a falar, pode ver estas "palestras" sobre o acto socialmente aceite de receber prendas de parceiros de negócios aqui, ou aqui.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

“ou os partidos conseguem mudar de dentro para fora, ou serão mudados de fora para dentro”

Na noite eleitoral ouvi uma distinta personalidade politica nacional (pertencente ao núcleo de apoio do candidato vencedor) a dizer em jeito de comentário aos resultados eleitorais que, “ou os partidos conseguem mudar de dentro para fora, ou serão mudados de fora para dentro”.
E porquê?
Nestas eleições registou-se 4.26% de votos em branco. Cerca de 190.000 eleitores quiseram exercer o seu direito de voto, conseguiram fazê-lo e, simplesmente, deixaram o boletim tal como o receberam, em branco! Se somarmos os 86.000 portugueses que deixaram nas urnas o seu boletim nulo (1.93%), temos cerca de 276.000 eleitores que não se identificaram com os candidatos nem com os partidos que os apoiaram, ou seja, 6.19% do total de eleitores. Podemos ainda divagar sobre os números da abstenção: 53.37% dos eleitores preferiram não exercer o seu direito (ou não conseguiram). Ou seja, os candidatos foram apoiados por apenas 40% dos eleitores.
Apesar de estarmos perante uma reeleição (por tradição são menos participadas), todas as forças partidárias estiveram representadas com o apoio aos seus candidatos e houve até candidatos independentes. Tivemos ainda dramatizações sobre o resultado das eleições para tentar levar as pessoas às mesas de voto: colocou-se em causa a democracia, o estado social e a verdade política. No entanto, nenhum desses argumentos ou estratégias foi suficiente (ou talvez tenha sido excessivo) para levar 60% dos cidadãos às urnas e optarem por um dos candidatos!
Nas noites eleitorais, todos falam que deve haver uma reflexão sobre o motivo que leva cada vez mais portugueses a afastarem-se da vida política. Confesso que não percebo para que é necessária reflexão atrás de reflexão para depois continuar tudo na mesma. As razões estão à vista de quem vive no mundo real: Esta política não serve os cidadãos e os partidos vivem demasiado da estratégia e pouco do interesse público!
Desconfio que a maioria dos especialistas em ciência política defende que não existe espaço no espectro partidário português para vingar um novo partido político. Mas, pelo estado da arte, não tenho essa certeza. Existe espaço político se os partidos não se reinventarem e os cidadãos traduziram isso claramente nas últimas eleições. A esquerda está tomada e a direita também. Mas o centro e certas franjas da sociedade (desde o pequeno agricultor às elites graduadas) não se revêem nos partidos, nas pessoas, nas ideias ou simplesmente no discurso político. Há 60% de eleitores para disputar (somando abstenção, votos brancos e nulos). É uma percentagem muito significativa e que pode ganhar qualquer eleição, seja presidencial, legislativa, europeia ou mesmo autárquica.
Claro que os partidos existentes iriam adaptar-se a uma nova ordem política e mudariam a sua estratégia. Mas, até lá, como dizia o comentador: “ou os partidos conseguem mudar de dentro para fora, ou serão mudados de fora para dentro!”

sábado, 22 de janeiro de 2011

O discurso rasca sobre a riqueza de Portugal

Anteontem lá tive de ouvir na rádio, pela enésima vez, um dos argumentos mais medíocres que caracteriza a maioria da elite intelectual portuguesa. Falava uma ouvinte a páginas tantas sobre a questão de Portugal ser um país pobre, quando o convidado desse programa explana a seguinte observação:

“….atenção, que Portugal não é um país pobre! É sim um dos menos ricos do grupo de países ricos, estando mais ou menos na quadragésima posição mundial. Por isso, existem 160 países mais pobres que Portugal, representando milhares de milhões de pessoas…” (a ideia foi esta, não me lembro das palavras exactas).

Do ponto de vista técnico e estatístico é uma análise sem mácula. Mas para mim, do ponto de vista intelectual e cívico, é algo que no mínimo demonstra falta de ambição. O que é que me interessa a mim comparar o incomparável? Contextos geográficos e históricos completamente diferentes. Quero lá saber qual a relação do meu país face ao Kiribati ou ao Malawi! Temos é de nos comparar com os que estão perto de nós e olhar para cima, não para baixo.

Sendo realista, sei que para nós será muito difícil voltar a ser a 1ª ou 2ª potência mundial como o fomos no séc. XV e inícios de XVI. De igual modo, não parece sensato a Grécia sonhar em voltar a atingir o seu auge. E muito menos a Macedónia. Mas raios partam, nós temos capacidade para fazer melhor que o 40º lugar. Alguma vez uma Finlândia, Eslovénia ou mesmo República Checa tiveram ao longo da história as oportunidades e protagonismo que nós tivemos?? E no entanto estão à nossa frente.

A nossa fronteira já tem mais de 800 anos. Temos uma língua que é falada por mais de 200 milhões de pessoas no mundo em vários continentes. Geograficamente, somos uma excelente ponte de ligação entre a Europa, África e América, tendo inclusive a melhor estação de abastecimento do Atlântico (que na verdade é a Força Aérea Americana que explora, mas enfim). Temos condições fantásticas para o turismo (clima, hospitalidade, comida, segurança). Sem muito esforço, podíamos ser uma espécie de Florida da UE. Com bastante mais investimento, até podíamos ser uma Califórnia (quando não estava falida). Mas não, a nossa elite já fica contente por sermos uma espécie de Alabama. Até em sonho e ambição esta elite que nos (des)governa é rasca. 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Os destinos do Emprego

Este assunto já foi n vezes abordado, mas eu entendo que devo falar dele de novo porque o problema crescente do desemprego a isso obriga. É ponto assente que este é um dos principais problemas com que Portugal se debate e vai continuar a debater nos próximos anos. E qual foi a escolha do Governo para ocupar a pasta de Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional? As escolhas mais óbvias podiam levar a pensar que seria alguém oriundo de Economia ou de Direito. Não, em Portugal temos um licenciado em Biologia e Mestre em Ensino das Ciências - por equiparação. Ok, então preferiu-se alguém com experiência em educação do que com conhecimento do mercado de trabalho, de modo julgo eu a dar preferência à formação profissional (que tão conhecidos resultados tem dado ao país).

Curioso, pesquisei um pouco, e deparei-me com este texto um pouco derrogatório sobre o mesmo (o texto está a seguir ao CV). Nesse texto a autora interroga-se por exemplo como consegue um não doutorado ser presidente de um Instituto Politécnico. Ou como foi eleito deputado à Assembleia da República em 2002, mas cujas funções eram incompativeis com as funções de direcção no Politécnico, tendo alegadamente nunca ido à Assembleia assumir aquilo para o qual tinha sido eleito. Percebi também que tendo nascido em 1956, provavelmente entrou na Universidade em 74 ou 75. E que é natural de Penamacor. Terra de onde é também António José Seguro. Num distrito que pariu políticos como António Guterres ou Pinto de Sousa. Uma escolha coerente e cujos resultados na Secretaria de Estado do Emprego irão demonstrar a razão da sua escolha.

Ps: Se calhar o país nem é grande exemplo, mas em Espanha a Secretária de Estado do Emprego é professora de Direito do Trabalho e da Segurança Social na Universidade de Castela-La Mancha. Que previsiveis são estes espanhois.   

Já decidi. E o meu voto vai para…

Devo admitir que levei muitas horas a pensar. Provavelmente mais tempo do que seria razoável para um acto que representa a vontade de cerca de 1/10.000.000 dos portugueses. Mas ainda sou daqueles que considera que o voto é importante. Podemos não gostar da política ou dos políticos mas votar é um acto de participação cívica do qual ninguém deveria abdicar. Eu próprio farei 450km para ir votar!
Há muitas motivações traduzidas no acto de votar. Há o voto de paixão, o voto de censura, o voto de protesto, de indignação, o voto útil ou o voto de carneirada. No entanto, não temos tantas urnas como as motivações do voto e um boletim expressa uma opção e não mais do que isso. O meu voto insere-se numa outra categoria (pelo menos gosto de pensar que sim): O voto razoável. Não devo favores para aderir a carneiradas e o voto útil não me seduz. Portanto, e embora reconheça que o meu voto é quase insignificante do ponto de vista estatístico, ele vai ser introduzido na urna.
Passando aos candidatos, votar em Defensor de Moura seria a pior das escolhas. Não me apetece ter um presidente regional. O meu voto não irá para ele.
José Manuel Coelho tem a criatividade e ousadia que falta aos restantes candidatos mas obviamente que não poderia ser Presidente da República. Não irei votar nele.
Francisco Lopes surpreendeu-me. Será um bom sucessor para Jerónimo de Sousa no PCP e tem ideias claras para o país. No entanto, não são parecidas com as minhas e não poderia votar no “camarada Chico Lopes“.
Fernando Nobre necessitava de ter o dom da palavra, a segurança dos objectivos traçados, a certeza na linha política, a capacidade de mover os apoiantes e a “atracção” dos média. Iniciou a sua campanha com um tom de voz monocórdico, pouco eloquente e algo cansativo. Entretanto, depois de ver as sondagens ou de receber alguma dica, adoptou um tom de voz (demasiado) inflamado e a carregar todas as sílabas, numa espécie de Xanana Gusmão de Portugal. Ainda não percebi o que quer para o país e não posso votar num candidato que sugere que “lhe dêem um tiro na cabeça se o querem parar”. A política do sec XXI não necessita dessas analogias!
Manuel Alegre é um candidato sem power! Não conseguiu unir o PS ao tê-lo dividido nas últimas eleições. Não percebo se é o candidato do PS, do BE ou o candidato extra-regime. Mas como poderia ser extra-regime se ele próprio votou muitas das políticas que agora nos asfixiam financeiramente? Não quero nem posso votar no candidato das intrigas e sem ideias para o futuro do país. Afinal de contas, é preciso evoluir dos ideais que fizeram o 25 de Abril há 35 anos atrás!
Quanto a Cavaco Silva, muito me surpreendeu. Não nesta campanha mas sim no último mandato. Foi um mandato em pré-campanha, em cooperação estratégica com os disparates da governação. Cavaco Silva teve um mandato em que mais pareceu ser o assessor dele próprio, tantas vezes que falou na terceira pessoa. O Presidente tem de ser mais do que isso. Tem de influenciar o rumo do país e puxar as orelhas a quem mente, quem engana e quem promete o que não pode ser garantido. Sim, há 5 anos votei nele por acreditar que conseguiria ajudar a inverter o rumo do país. Não o conseguiu por não ter colocado as mãos nas rédeas, por culpa própria. Cavaco está a ser, nesta campanha, mais presidente do que foi nos últimos 5 anos! Seguramente que estará melhor posicionado do que os restantes para ser PR mas eu digo não à politica do calculismo e do voto no second best, no mal menor ou no menos mau. Acredito que este seu segundo mandato até poderá ser melhor do que o primeiro mas sou mais exigente do que isso e sim, farei 450 km para votar, para votar em branco!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Preço da gasolina

Nos media só se fala do preço da gasolina estar na casa dos 1,5€, e de como as pessoas são prejudicadas. Pior estão as empresas que, tirando as que podem ir a Espanha, não têm alternativa para os seus veículos a gasóleo. Mas caramba, para os movidos a gasolina há um combustível alternativo chamado GPL que tem metade do custo. Enquanto em Portugal o número de veículos a GPL é residual (se ultrapassar os 50.000 já é muito), há países na Europa onde passa a barreira do milhão. Além de ser mais barato, polui menos e aumenta a longevidade dos veículos. Com tantas vantagens, qual a razão de tão pouca adesão e de tanta irracionalidade?

Em primeiro lugar, deve ser só em Portugal que as pessoas são obrigadas a colocar um autocolante para informar os outros que se tem um carro a GPL. Mas mesmo que o Estado (ou as gasolineiras ou ambos) não tivessem imposto esta parvoíce do autocolante, sei que na mente do português típico andar com um depósito adicional de combustível no carro é um desprestígio tremendo para o seu status. Vamos que o Antunes do 3º esquerdo descobre que afinal o Golf anda a GPL? Nada disso, o português prefere andar a comprar carros a gasóleo (supostamente para poupar no combustível) para depois passar longos quartos de hora em filas de bombas de gasolina de hipermercados em Corroios ou no Cacém.

Em segundo lugar, a última coisa que o Estado quer é que os carros tenham maior longevidade. Os brutais impostos arrecadados à custa da venda de carros novos tira todo o incentivo ao Estado para defender que as pessoas usem um carro durante mais tempo.

Em terceiro mas o mais importante, actualmente o preço do GPL anda na casa do 0,70 € por litro. Mais do que isso ganha o Estado em impostos por cada litro vendido de gasolina. Está bom de ver que se em Portugal o GPL passasse a ser popular, era provável (com 110% de certeza) que os impostos sobre este combustível disparariam em flecha.

Ps: Não era já altura de mudar o nome de bomba de gasolina para estação de gasolina? É que p.ex. dizer a um estrangeiro que se “vai à bomba” soa esquisito e/ou perigoso.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Uma escolha embaraçante

Por vezes em processos de recrutamento existem testes onde se pede para imaginar uma situação de catástrofe e onde se tem que escolher que pessoas levar para um abrigo nuclear. Para dificultar a coisa, as opções incluem só boa gente como um padre pedófilo, um violador, uma prostituta assassina, uma vigarista de velhotes, um gay toxicodependente cleptomaníaco, etc. Nestas circunstâncias, o desgraçado do candidato a emprego lá tem de inventar uma treta qualquer para justificar a escolha sobre que escumalha levar para o abrigo.

Com as devidas diferenças, estas eleições lembram-me este teste. Mas ao contrário do teste onde se tinha de escolher um (ou vários), nestas eleições é possível mandá-los todos às malvas votando em branco. À sua maneira, todos eles têm um lado negro (ou vários) que deveria impedir qualquer português mentalmente saudável de votar em qualquer deles. Ou porque são candidatos do regime, reformados, sem visão e sem vontade de mudança de coisa alguma. Ou porque são candidatos de protesto, mais ou menos extemporâneos e sem possibilidade de liderarem.

Pedir a um votante para escolher alguém deste belo ramalhete, é uma tarefa deveras dolorosa. É lugar comum que a enorme maioria irá decidir com base no processo de escolha do mal menor. Mas essa lógica só nos tem levado a derrotas atrás de derrotas. Tal como num jogo de poker, por vezes é melhor mandar as cartas todas fora e pedir novas para ter alguma esperança de ganhar.   

sábado, 15 de janeiro de 2011

O Candidato Alegre

Antes de mais, um pequeno disclaimer: o meu voto vai ser algo branquinho, branquinho, pois nenhum dos candidatos sequer se aproxima ao que Portugal necessita neste momento.

Todavia, há um lado sórdido da minha mente política que vê pontos positivos no candidato alegre. Para mim, eu vejo enormes semelhanças entre este candidato e o Cacofonix (o mítico bardo da BD do Asterix). Com a nuance de que o português é mais inclinado para a poesia ao invés da cantoria. Mas como a maioria dos portugueses o que deseja é amarrá-lo a uma árvore (com um lenço na boca), a minha formação leva-me a ser solidário para com ele, pois ser incompreendido é tramado.

Outra vantagem do candidato alegre é o seu look. O ar de revolucionário sexagenário seria bastante útil a Portugal na relação com países da América Latina, Magrebe ou Timor-Leste. O reverso da medalha é que no mundo ocidental, Portugal passaria a ser visto como o país que tinha um Hemingway look-alike como presidente. Mas será que o saldo seria positivo?? Ignoro.

Mas acima de tudo, com um alegre como presidente, seria dado um grande impulso ao lado marialva do português. Já imagino páginas e páginas da Caras a relatar fins de semana do presidente: ora fotos dele a matar umas perdizes, ou a ver uma bela de uma tourada sem pejo de ferir sensibilidades de protectores talibans dos animais. E todos sabemos que o que o país realmente precisa neste momento é de alguém com larga experiência de tertúlias.

Já devia ter saltado a tampa aos pequenos PIGS

Uns dias atrás veio um artigo no NYTimes a falar sobre a já típica e normal (para muitos) falta de perspectiva e oportunidades que muitos jovens dos PIGS (Portugal, Italy, Greece and Spain) sofrem. Tanto mais trágico quando se foca em jovens com formação académica muito elevada.

Existem algumas frases que resumem bem toda a situação:
- "Even before the economic crisis hit, Southern Europe was not an easy place to forge a career. Low growth and a corrosive lack of meritocracy have long posed challenges to finding a job in Italy, Greece, Spain and Portugal. Today, with the added sting of austerity, more people are left fighting over fewer opportunities. It is a zero-sum game that inevitably pits younger workers struggling to enter the labor market against older ones already occupying precious slots";
- "Today, young people in Southern Europe are effectively exploited by the very mechanisms created a decade ago to help make the labor market more flexible, like temporary contracts";

Mas ao contrário da Itália ou Grécia, em Portugal nem sequer existem protestos contra esta situação. E tal como o artigo aflora, em Portugal julgo que a razão para não existirem protestos deve-se ao facto de muita da elite inconformada e desempregada simplesmente emigrar para procurar países onde a sua capacidade seja minimamente reconhecida. Como numa panela de pressão, o vapor vai saindo, o que impede que salte a tampa à juventude. O pior é que a água vai fervendo e continuando a desaparecer. E à semelhança de uma das jovens entrevista para o artigo do NYTimes (uma italiana de 29 anos, com um Bs em direito, um mestrado na Alemanha, um estágio no Tribunal Europeu de Justiça, e que fala 5 línguas), cada vez mais aumenta o número de jovens que diz: "If I had it to do over again, I wouldn’t go to college and would just start working".  Péssimo e condenado é o país que não premeia quem investe o seu tempo em formação.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

It's the Speculators, Stupid!

Vários e diferentes mitos têm monopolizado a actividade política e jornalística Portuguesa nos últimos meses (e/ou anos). O bode expiatório de que são os especuladores os responsáveis pela crise em Portugal é um dos favoritos. “Don't Blame the Messengers, Blame Those Responsible”. Nota Bene: Os principais responáveis pela actual situação Macroeconómica de Portugal são as pessoas que governaram o País nos últimos 20 anos. Volto a repetir, os principais responsáveis pela actual situação são os nossos governantes.
Muitos políticos e comentaristas (a maioria dos quais não são economistas) culpam os especuladores mal intencionados como os responsáveis pela crise na zona euro. Miguel Sousa Tavares (poderia ter escolhido José Sócrates ou Teixeira dos Santos), na sua coluna semanal no Expresso de dia 11 de Novembro de 2010, passou a explicar:
“É evidente que os celebérrimos 'mercados' são apenas um bando de abutres especuladores, contra o euro ou contra países vulneráveis escolhidos a dedo, que tiram todo o partido que podem da situação. É evidente que, quando tudo isto estiver resolvido, de uma forma ou de outra, o mundo vai ter de encontrar medidas para pôr termo a esse poder sinistro dos especuladores financeiros (que nos lançaram na crise e se aproveitam dela), que roubam o trabalho das pessoas, a poupança das famílias, a riqueza das nações.”
Como já muitos escreveram sobre a temática, resolvi não só opinar, mas também fazer um apanhado de opiniões (que concordo) pela blogosfera:
1. Definição de Especulação: “Especulação, em economia, consiste em uma aposta acerca do futuro económico de um país, um sector de actividade ou de uma empresa”.
2. Definição de Especulador: “(...) First, in the real world, every economic actor is a speculator, as he takes decisions according to his future expectations concerning prices and people's preferences (…) Second, speculators suffer losses whenever they predict a rise or drop in price that ultimately does not occur (...)”. Quando têm razão, os especuladores ganham dinheiro (é aqui que entra a retórica dos nossos governantes); Quando se enganam, perdem dinheiro (quando perdem dinheiro já não interessa). Especuladores são agentes económicos que permitem o nascer de projectos e empresas eficientes e inovadoras e a morte à nascença de investimentos inviáveis para os quais existem substitutos mais produtivos. Existem ainda especuladores que apostam na recuperação de Portugal.
3. Portugal também é um especulador? “Em várias ocasiões, o próprio Estado Português actuou nesse mercado com o objectivo de tirar partido das suas expectativas de variação das taxas (de juro), assim se comportando como um especulador. Nos anos anteriores à criação do euro, Portugal foi grandemente beneficiado pelos especuladores que apostaram que o nosso país iria integrar o grupo de estados fundadores da moeda única europeia”.
4. Especuladores beneficiaram o Pais? “Os mercados existem, e ainda bem, mesmo com todos os seus defeitos. Durante anos, os mercados - essa entidade abstracta que ninguém conhece mas todos sentem - beneficiou o País e a nossa economia, o Estado, os bancos, as empresas e as famílias. E, como nos ‘trataram' bem, eram a prova de que estávamos no bom caminho. Quando começaram a ‘apertar', provavelmente de forma tão irracional como quando nos facilitaram a vida, passaram de ‘mercados' a ‘especuladores'. Esses mercados, esses especuladores, que também existem, fazem parte de uma longa de lista de entidades que nos emprestam dinheiro e que nos permitiram levar longe demais o nível de vida que temos. Ora, quem empresta dinheiro, sobretudo quem empresta dinheiro a quem, progressivamente, está mais e mais endividado, põe condições. E ainda bem. Porque, caso contrário, provavelmente, continuaríamos como se nada fosse”.
5. O próprio Governador do Banco de Portugal afirma que “Não vale a pena culpar os mercados; se não fizermos o nosso trabalho ninguém nos acompanha”. Quem é o principal responsável? Quem nos governou! Claro que também temos culpa. As famílias e empresas endividaram-se para lá do que podiam suportar. A actual especulação só é possível porque Portugal está a entrar em risco de incumprimento. "Isso não é culpa dos mercados, e muito menos das agências de “rating”, que não passam (ambos) de portadores das más notícias. O problema está no facto de alguns países não terem honrado os compromissos que assumiram em Maastricht aquando da adesão ao euro".


“São os Governantes!”: O “Wall Street Journal”, em artigo de primeira página em Dezembro de 2010, falava na falta de credibilidade da classe política Portuguesa. Os especuladores internacionais especulam contra a dívida Portuguesa porque os nossos governantes lhes dão razão para isso. A cultura de desculpabilização e de desresponsabilização em Portugal tem de acabar – Quando ganhamos somos os Maiores; Quando perdemos, a culpa é dos Especuladores.
Poderemos falar ainda de short selling, da Angela Merkel e do Nicolas Sarkozy, das Agências de Rating, do Alan Greenspan, entre outros. Tentaremos desmistificar alguns destes mitos no futuro. Um abraço.


PostScript: Estará Portugal em contagem decrescente para pedir ajuda ao Fundo de Estabilização Europeu e ao FMI (ainda no primeiro trimestre de 2011) ou é agora considerado “fashion” partilhar da opinião de que Portugal não se conseguirá financiar nos mercados financeiros e que terá de pedir ajuda? 44 entre 51 Economistas contactados pela Reuters acham que Portugal vai precisar de ajuda ainda este ano. O The Economist partilha da mesma opinião. Quarta-feira dia 12 de Janeiro vai ser um dia importante: Portugal emite as primeiras obrigações de maturidades mais longas. Vai ser o primeiro grande teste de 2011 para o País. Poderá ser o “trigger” activado já esta semana?

Há notas de imprensa verdadeiramente espectaculares!

Quando falamos de mercados e dos efeitos desses “monstros da economia” no nosso quotidiano, importa saber como funcionam e a que dados prestam atenção.
Se alguém pensa que bastam umas quantas notas de imprensa especulativas para atenuar os efeitos desses mercados na nossa economia, está muito enganado! Quem imagina que atacar os mercados seria uma boa política de defesa está mais enganado ainda!
Essas entidades abstractas que representam o conjunto dos agentes económicos que analisam e intervêm numa economia, seja a comprar ou vender divida pública, hortaliças ou ouro, prestam atenção aos dados concretos. Não enveredam em politiquices nem em divagações demagógicas. Mas dão seguramente muita atenção aos comunicados, às notas de imprensa e às palavras dos governantes.
Fazem-no pelo que se diz (e pelo que não se diz) nessas intervenções? Seguramente que sim! Mas é principalmente pela correspondência dessas afirmações com a verdade (ou a mentira) dos factos que estão interessados na divulgação de conteúdos! Quando alguém começa a publicar informações meramente politicas, vazias de conteúdo, e por vezes enganadoras, o impacto que têm nos mercados, só pode ser mau e com propensão a ser pior (afinal de contas, todos temos tendência a desconfiar mais de quem já anteriormente nos mentiu do que de quem nunca o fez).
Daqui se conclui que, principalmente em tempos de crise, é fundamental que os governantes sejam credíveis e falem verdade para defender o interesse do país. Dado que pago impostos, espero que isso aconteça!
No entanto, por vezes leio coisas, que não interessam seguramente à maioria dos portugueses, mas às quais os mercados estão muito atentos! Um desses exemplos pode ser consultado na página do governo! Tem como título: "2010 teve melhores resultados económicos e orçamentais que o previsto"
Vou optar por não me referir directamente a esta notícia! Quero acreditar que o governo teria boa intenção em publicar este artigo mas, numa época de dificuldades e falta de recursos financeiros, penso que seria aconselhável tomar três precauções:
- Restringir a informação divulgada ao essencial, colocando de parte a publicidade;
- Evitar notas de imprensa que revelam satisfação com défices de 7.3% e outros números de arrepiar;
- Divulgar os bons números ao mesmo tempo dos maus números, evitando surpresas desagradáveis aos analistas financeiros;
Os mercados podem ser mais nossos amigos do que inimigos e devemos considerá-los como tal. Já na nossa governação, encontramos muita gente a querer ajudar e que só nos prejudica (teríamos muito a ganhar se optassem por um blackout temporário).
Dá vontade de exclamar que há certas coisas que não se dizem e muitas mais que não deviam ser escritas!


domingo, 2 de janeiro de 2011

Entrada e saída...

Este Blog chama-se Dinamizar Portugal. Um bom nome, sobretudo porque a palavra dinamizar soa sempre bem. Porreiro pá, dinamizar é bom! E como é a primeira vez que escrevo neste blog resolvi escrever sobre dinâmicas. Mas atenção... dinâmicas há das boas e das más... e eu resolvi escrever sobre uma dinâmica que na minha opinião corre mal por cá. A dinâmica de criação e destruição de empresas.
E que dinâmica é esta? A palavra dinâmica implica movimento. E a dinâmica de criação e destruição de empresas tem que ver com a entrada e saída de empresas. Todos os meses estes movimentos ocorrem... Há empresas que se criam e portanto entram no mercado e empresas que saiem do mercado e iniciam o processo de falência... morrem! E é bom que haja empresas que morrem, porque uma empresa só morre quando não gera lucros, e uma empresa que não gera lucros é uma empresa pouco produtiva...
Se queremos que a produtividade em Portugal aumente, é necessário que a entrada e saída de empresas em Portugal seja eficaz... Eficaz em que sentido? Para que estas entradas e saídas sejam eficazes é necessário que empresas que são pouco produtivas abandonem o mercado e libertem recursos para uma melhor utilização. A dinâmica de criação e destruição de empresas em Portugal decorre mal porque há demasiadas empresas pouco produtivas e que, apesar disso, não abandonam o mercado.
E como é que isso é possível? Como é que empresas pouco produtivas não abandonam o mercado? O motivo é simples. A estrutura do mercado de trabalho e as regras do jogo permitem que empresas pouco produtivas gerem lucros suficientes para sobreviver... E porquê? Por exemplo, porque muitas pequenas empresas cuja produtividade nunca crescerá contratam trabalhadores precários, os famosos falsos recibos verdes.
Sim, não sabia? Há muitos casos em que são passados recibos verdes quando o “prestador de serviços” deveria justamente usufruir de um contrato de trabalho, com todos os deveres e regalias próprios deste. E uma empresa pouco produtiva não consegue oferecer um contrato de trabalho como deve ser... e portanto deveria desaparecer. Mas há tantas pequenas empresas que não desaparecem porque as regras do jogo permitem a existência de falsos recibos verdes. Estas empresas fazem portanto concorrência desleal a outras empresas mais produtivas que respeitam as regras do contrato de trabalho.
A dinâmica de criação e destruição de empresas corre mal em Portugal porque há muitas empresas pouco produtivas que deveriam desaparecer mas que sobrevivem devido às estranhas e desleais regras de jogo. Se essas empresas fechassem e abrissem espaço a outras empresas mais produtivas podem crer que a produtividade aumentava em Portugal. Ah..., e os salários também aumentavam, claro está!
Paulo S. Monteiro
smont.paulo@gmail.com (comentários bem vindos)