Devo admitir que levei muitas horas a pensar. Provavelmente mais tempo do que seria razoável para um acto que representa a vontade de cerca de 1/10.000.000 dos portugueses. Mas ainda sou daqueles que considera que o voto é importante. Podemos não gostar da política ou dos políticos mas votar é um acto de participação cívica do qual ninguém deveria abdicar. Eu próprio farei 450km para ir votar!
Há muitas motivações traduzidas no acto de votar. Há o voto de paixão, o voto de censura, o voto de protesto, de indignação, o voto útil ou o voto de carneirada. No entanto, não temos tantas urnas como as motivações do voto e um boletim expressa uma opção e não mais do que isso. O meu voto insere-se numa outra categoria (pelo menos gosto de pensar que sim): O voto razoável. Não devo favores para aderir a carneiradas e o voto útil não me seduz. Portanto, e embora reconheça que o meu voto é quase insignificante do ponto de vista estatístico, ele vai ser introduzido na urna.
Passando aos candidatos, votar em Defensor de Moura seria a pior das escolhas. Não me apetece ter um presidente regional. O meu voto não irá para ele.
José Manuel Coelho tem a criatividade e ousadia que falta aos restantes candidatos mas obviamente que não poderia ser Presidente da República. Não irei votar nele.
Francisco Lopes surpreendeu-me. Será um bom sucessor para Jerónimo de Sousa no PCP e tem ideias claras para o país. No entanto, não são parecidas com as minhas e não poderia votar no “camarada Chico Lopes“.
Fernando Nobre necessitava de ter o dom da palavra, a segurança dos objectivos traçados, a certeza na linha política, a capacidade de mover os apoiantes e a “atracção” dos média. Iniciou a sua campanha com um tom de voz monocórdico, pouco eloquente e algo cansativo. Entretanto, depois de ver as sondagens ou de receber alguma dica, adoptou um tom de voz (demasiado) inflamado e a carregar todas as sílabas, numa espécie de Xanana Gusmão de Portugal. Ainda não percebi o que quer para o país e não posso votar num candidato que sugere que “lhe dêem um tiro na cabeça se o querem parar”. A política do sec XXI não necessita dessas analogias!
Manuel Alegre é um candidato sem power! Não conseguiu unir o PS ao tê-lo dividido nas últimas eleições. Não percebo se é o candidato do PS, do BE ou o candidato extra-regime. Mas como poderia ser extra-regime se ele próprio votou muitas das políticas que agora nos asfixiam financeiramente? Não quero nem posso votar no candidato das intrigas e sem ideias para o futuro do país. Afinal de contas, é preciso evoluir dos ideais que fizeram o 25 de Abril há 35 anos atrás!
Quanto a Cavaco Silva, muito me surpreendeu. Não nesta campanha mas sim no último mandato. Foi um mandato em pré-campanha, em cooperação estratégica com os disparates da governação. Cavaco Silva teve um mandato em que mais pareceu ser o assessor dele próprio, tantas vezes que falou na terceira pessoa. O Presidente tem de ser mais do que isso. Tem de influenciar o rumo do país e puxar as orelhas a quem mente, quem engana e quem promete o que não pode ser garantido. Sim, há 5 anos votei nele por acreditar que conseguiria ajudar a inverter o rumo do país. Não o conseguiu por não ter colocado as mãos nas rédeas, por culpa própria. Cavaco está a ser, nesta campanha, mais presidente do que foi nos últimos 5 anos! Seguramente que estará melhor posicionado do que os restantes para ser PR mas eu digo não à politica do calculismo e do voto no second best, no mal menor ou no menos mau. Acredito que este seu segundo mandato até poderá ser melhor do que o primeiro mas sou mais exigente do que isso e sim, farei 450 km para votar, para votar em branco!
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