terça-feira, 29 de outubro de 2019

A Fundação Robinson, uma insolvência por explicar!



Em 2005 Portalegre perdeu uma empresa emblemática, símbolo da cidade, e ganhou uma Fundação. Supostamente seria uma forma de preservar o património industrial da Sociedade Corticeira Robinson, dignificar a cidade, aproveitar o espaço para valências culturais e artísticas. No entanto, a Fundação "acabou" insolvente, após substituições infindáveis de administrações e muitos comentários a circular pelas mesas dos cafés e redes sociais.

O que realmente espanta é o percurso da Fundação até à insolvência e a ausência de responsáveis, ou pelo menos de uma auditoria às decisões da Fundação, até para potencial salvaguarda de quem por lá passou. Temos uma fundação insolvente, na qual participaram diversos corpos sociais que saíram em desacordo com as políticas culturais, financeiras e culturais mas ninguém acha estranho que esta acabe insolvente? Ninguém se insurge que o legado da Robinson seja uma insolvência sem responsáveis?

A imagem pode conter: céu, nuvem e ar livre
Fundação Robinson - Portalegre

Bem sei que a cidade já não cheira a cortiça cozida e que camionetas carregadas de cortiça já não entram na cidade mas….o património edificado, cultural e as memórias não acabam de um dia para o outro!
Os portalegrenses necessitam de saber se foi tudo feito na defesa do interesse público ou se há algo a investigar. Não se perdem milhões numa sociedade, muito menos numa fundação sem se perceber porquê!

Uma fundação como a Robinson nunca deveria ter sido palco de disputas nem interesses
políticos nem se deveria ter desviado do foco da sua actuação na conservação do espólio
industrial da Sociedade Corticeira Robinson. Não deveria a Fundação ter-se confundido muitas vezes com a própria autarquia, sendo inclusive uma ferramenta de negociação política.

Passados 14 anos da Fundação Robinson, sim….já são 14 anos, atrevo-me a dizer que  deu muito pouco à cidade face aos grandes planos que os criadores Município de Portalegre e Sociedade Corticeira Robinson, tinham para o espaço, para o espólio e para o potencial de dinamização turística para Portalegre que a Fundação significaria.

Que o espaço acabe sob a gestão de uma qualquer empresa que o reconverta em unidade
hoteleira, até  parece ser um mal menor face ao ponto a que chegámos. A escolha parece ser entre a ruína e a requalificação para fins diferentes da sua criação. Será legal? Não há alternativa melhor? 

Numa cidade pequena, patrimónios como a Robinson têm de ser geridos com um misto de
paixão e ambição. Se a ambição parecia existir no início, ela foi perdendo fôlego ao longo dos anos. Já em relação à paixão pela cortiça, pela cidade, pela história e pela cultura, duvido que tenha existido em grande parte destes 14 anos, pelo menos em conjunto de todos estes factores!

Eu sinto uma profunda tristeza por ver a Robinson neste enredo! Mas mais tristeza tenho por a minha cidade ter permitido e considerar tolerável que uma coisa destas possa ter acontecido!

segunda-feira, 17 de junho de 2019

O Pisão que nos enfraquece(rá)



De tempos em tempos, geralmente em períodos pré-eleitorais, surge um grupo de distintos portalegrenses mais ou menos organizados com filiação partidária e cargos políticos que traz para a agenda mediática o assunto da barragem do Pisão. Será o Pisão a salvação do nosso Alto Alentejo?

O projecto da barragem está orçamentado em cerca de 100 milhões de euros, entre despesas de construção, custos de realojamento e rede de distribuição de água. Como o governo tem de garantir (alguma) equidade entre os investimentos públicos no território nacional, este valor será obviamente inibidor de novos investimentos públicos no Distrito de Portalegre. Para investir 100 milhões no Pisão, alguém acredita que um governo, seja ele qual for, investirá também na saúde, na educação, nas estradas, nos serviços públicos nos Municípios do Distrito?


A questão mais relevante por responder é se os distintos portalegrenses que voltaram a insistir na construção do Pisão estão seguros que este investimento será o motor por excelência de desenvolvimento do Distrito, colocando-o à frente de um novo hospital e melhores serviços de saúde para Portalegre, da ligação de auto-estrada e ferrovia decente a Portalegre, da circular de ligação da A6 ao IP2 sem ter de passar por Estremoz, da abertura permanente da fronteira entre Montalvão e Cedillo, e de tantos outros investimentos que seriam mais facilmente realizáveis pelo seu mais baixo custo comparando com os 100 milhões do Pisão.

Não nos podemos esquecer que Portalegre continua a ser a única capital de distrito de Portugal Continental sem auto-estrada, que a ligação ferroviária é quase inexistente, que Évora se prepara para construir o “Hospital Central do Alentejo” (investimento de €170.000.000), o que levará ao definhamento ainda mais acentuado das unidades de saúde do Distrito de Portalegre. Para além disso, o Distrito de Portalegre tem outras valências de recursos hídricos, alguns pouco aproveitados (lembro-me por exemplo do Açude do Carvalhal no concelho de Marvão, obra onde terão sido investidos cerca de €1.000.000 e que está ao abandono). Trará o Pisão os turistas e as actividades agrícolas que as barragens da Póvoa, da Apartadura, do Abrilongo ou do Caia não trouxeram?

Não está em causa o interesse estratégico do projecto “Barragem do Pisão” mas é preciso que todos tenhamos consciência da natureza do investimento, do custo de oportunidade relativo aos investimentos que deixarão de ser feitos e dos hipotéticos benefícios (e respectiva quantificação) que esse activo poderá ter (ou não ter) para todo o Distrito.