terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Estado-nação ou "Estado-empresa"?

As recentes noticias sobre a eventual perda de soberania de alguns Estados em contrapartida da concessão de financiamento externo têm motivado discussões sobre a razoabilidade da medida. Se, para alguns, é admissível e lógico que a gestão de um país seja partilhada com os credores internacionais, para outros é inadmissível que tal aconteça!
Mais do que uma discussão entre devedores e credores ou entre países cumpridores ou incumpridores, trata-se de uma clara divergência entre ideologias opostas. Devemos considerar os países como Estados-Nação ou como “Estados-Empresa”?
O conceito clássico de país aproxima-se da terminologia Estado-nação: um território coeso e com matriz sócio-cultural própria, gerido por um governo. Já um Estado-empresa talvez seja o novo conceito de Nação: um Estado gerido como uma empresa, com cidadãos enquanto accionistas e contas auditadas por entidades externas. Para além disso, a gestão desse Estado poderia ser partilhada com accionistas (não cidadãos) externos. Podemos afirmar que já temos algumas parecenças com esta nova filosofia de Estado-empresa, até porque abdicámos de parte da nossa soberania quando decidimos aderir à União Europeia (e, no que diz respeito à politica monetária quando decidimos aderir à moeda única).
No entanto, numa eventual evolução para Estado-empresa, fará sentido que os credores internacionais fiquem com parte do capital social e tenham assento nos órgãos executivos do próprio Estado? Numa empresa em dificuldades, isso pode acontecer. As instituições financeiras podem financiar as dívidas mas exigem, para além da taxa de rendibilidade, uma parte do capital social…Da mesma forma podemos estender esta dedução lógica aos países em vias de desenvolvimento. Fará sentido que um outro estado financie nações em desenvolvimento numa lógica de capital de risco ou mesmo de business angels?
Estamos a entrar num campo muito sensível. O dinheiro tem um preço e é compreensível que quem o empreste garanta o seu retorno em função do risco. Mas um país não é a mesma coisa do que uma empresa. Em primeiro lugar não tem o lucro como objectivo. Em segundo lugar, a missão de um país é diferente da matriz histórico-cultural que deu origem a essa nação. Em terceiro lugar, os cidadãos só poderiam ter uma acção do capital desse país sob pena de termos cidadãos de 1ª e cidadãos de 2ª. E mesmo que assim fosse, o que sucedia ao recebermos emigrantes? E como se protegiam as minorias e os desfavorecidos?
Um Estado dificilmente será uma empresa mas o conceito Estado-nação está a evoluir. Se a matriz sócio-cultural era o factor mais importante para distinguir os Estados, actualmente começa a ganhar peso a solvabilidade e a capacidade de gestão. Ainda assim, o bom senso deverá prevalecer porque podemos ter Estados em dificuldades, podemos até ter Estados insolventes mas o Estado-empresa é uma utopia supra-liberal que nunca deverá chegar a acontecer!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

E porque não acabar com o 1 de Maio?


A recente discussão sobre os feriados que deixarão de ser celebrados com pausa laboral, tem dividido muitos políticos e cidadãos comuns. O 5 de Outubro parece ser a data mais sensível para abolição do feriado. Mas haverá razões para isso? E, se existem tantos lamentos, porque não abdicamos do 1 de Maio? Não será a abolição do 1º de Dezembro mais difícil de justificar tendo em conta a simbologia do dia?
O 5 de Outubro não é apenas a data em que se celebra a proclamação da república. Foi também num 5 de Outubro (de 1143) que foi assinado o Tratado de Zamora que concedeu a independência de Portugal face a Castela, o que parecem ser motivos suficientes para que este seja um dia assinalado e comemorado. Ainda assim, poucos falam no duplo significado da efeméride, colocando a mudança de regime político à frente da independência.
Por outro lado, depois de ouvir alguns políticos criticarem o fim do feriado de 5 de Outubro e nada dizerem sobre o 1º de Dezembro, fico ainda mais preocupado. É verdade que 1640 foi muito antes do que 1910 mas não será a independência após uma ocupação externa um valor que merece mais comemorações do que a instauração da república?
Não deveria o bom senso e a escala de valores sociais determinar qual o feriado a eliminar? Até porque, sem independência, até poderíamos fazer parte de uma república…mas de um outro país! Se ainda assim não se chegar a entendimento, porque não se estuda a possibilidade de eliminar outros feriados em alternativa, como o 1º de Janeiro e/ou o 1º de Maio? Pessoalmente sempre me fez alguma confusão que o dia do trabalhador fosse passado a descansar mas mais confuso fico quando se considera este feriado como inabalável e se critique a abolição de outros. Podia ainda falar do 25 de Abril mas sei que o tema é demasiado sensível por ter ocorrido há tão poucos anos, pelo que será uma data aparentemente intocável. Existe ainda a discussão entre feriados nacionais e feriados universais. Mas mesmo aqui podemos colocar em causa a pertinencia em manter como pausas laborais os mesmos dias que os países sem dificuldades!!
A abolição de feriados fez renascer algumas clivagens sociais: Republicanos vs Monárquicos, Sindicatos vs Patrões, Grupos de interesse vs cidadãos comuns, Igreja católica vs cidadãos agnósticos. É verdade que as datas prevalecem para além da pausa laboral mas ou escolhemos em função de argumentos bem estruturados ou corremos o risco de estar a tomar decisões “ao calhas” e em função da vontade imposta por este ou aquele grupo de interesse!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Preso por ter cão, preso por não ter, ou a esquizofrenia da opinião “pública”.

Preso por ter cão, preso por não ter, ou a esquizofrenia da opinião “pública”.

O “pênalti para as bancadas do Sr. Presidente da República tem algo de tragicômico, pois profetiza o que a opinião “pública” ridiculariza: ao terminar um mandato, um político fica na miséria.

“Se um ex-político volta a exercer atividade profissional no setor privado, então obviamente que é corrupto: o tráfico de influências irá obrigatoriamente existir quando (enquanto) o seu partido voltar a estar ligado (ficar) no poder.” Lembram-se do que se escreveu acerca de Jorge Coelho?

Concordo que não gostaria de ver um Presidente da República na posição de assalariado de uma empresa privada. Não pelo “raciocínio” acima mas porque considero que seria desprestigiante para as nossas instituições (No entanto, não me repugna que ministros e secretários de estado o façam). Por isso, as nossas leis prevêem que os antigos presidentes tenham direito a um espaço físico, secretária e motorista para poderem continuar a exercer condignamente a sua cidadania. Concordemos ou não com as suas posições, assim o têm feito o Gen. Ramalho Eanes, o Dr. Mário Soares e o Dr. Jorge Sampaio.

A capa do DN de ontem, com o subtítulo “Regalias” é, portanto, um suicídio coletivo. Ao tratarmos esta questão como regalias imerecidas, insinuando-se cleptomania, estamos a afugentar as pessoas mais capazes da política.

Este tipo de remunerações “ex post” é comum noutros cargos públicos que exigem independência e imparcialidade, tais como dirigentes de entidades regulatórias ou diretores de jornais. Infelizmente, também é comum a sua condenação em praça pública.

No primeiro caso, é desejável que as entidades regulatórias setoriais sejam dirigidas por pessoas sérias com conhecimentos específicos da área. Torna-se, portanto, necessário contratar profissionais muitas vezes vindo do sector privado. Mas estas posições são temporárias. Como garantir que este profissional vai ser isento com as empresas que, muito provavelmente, o irão contratar quando terminar o mandato? Continuando a pagar o salário durante dois anos, ficando essa pessoa impedida de exercer atividade profissional nesse setor durante o mesmo período. O mesmo é válido em caso de demissão (voluntária ou não).

No caso de diretores de jornais, este mecanismo permite a um diretor ter a liberdade de expressão necessária numa democracia. (Lembro- me do caso do Sérgio Figueiredo, mas não encontrei nada no estatuto do Jornalista nem na Lei de Imprensa que o referisse. Se alguém tiver a referência...) .

Estes esquemas de incentivos estão mal desenhados? Tem falhas? Então corrijam-se. Mas não linchem quem respeitou as regras do jogo que lhe foram oferecidas.

João Mergulhão

PS: existe uma petição a exigir a demissão do Sr. Presidente da República. Parece que já tem 20.000 assinaturas. Recordo que em 23 de Janeiro de 2011, mais de dois milhões de pessoas assinaram uma petição para que o Prof. Cavaco Silva fosse PR por cinco anos. Mas sobre a democracia destas “assembleias populares” escreverei outro dia...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Lusitanos? Sim já o fomos!

O país está mal, os amigos continuam a emigrar, o custo de vida está a aumentar e os impostos não param de crescer! Diz-se que um dia vamos melhorar, que vamos começar a crescer e o povo acredita! Apesar dos roubos crescentes e do Estado não conseguir ser mais eficiente nas suas tarefas fulcrais: Segurança, Defesa, Educação, Saúde… o povo tolera!
País de brandos costumes é como nos definem lá por fora, como se fora uma qualidade. Já acreditei nessa teoria! E isso aconteceu quando utopicamente acreditava num Estado eficiente e consciente das suas responsabilidades! Mas esses brandos costumes têm sido um fardo para o nosso desenvolvimento. Sem clivagens, a sociedade não progride. Não falo de revoluções nem guerras mas de clivagens tecnológicas, culturais e humanas. Os nossos brandos costumes são brandos demais!
Muitos dos meus colegas e amigos resignam-se com as medidas impostas. Mas, mais grave do que isso, resignam-se com o estado do País, com os políticos que nos têm (di)gerido e com as ineficiências de tantos sectores. Preferem ver um jogo de futebol do que pensar no seu futuro e na sua responsabilidade social face a um país deprimido e longe do Portugal que já foi!
Nas farmácias diz-se que a venda de anti depressivos tem aumentado. Mas como é possível aumentarem as depressões, essa doença da moda, com um clima como o nosso, em que até no Inverno temos semanas consecutivas de sol?
Na politica, em vez de discutirmos medidas para progredirmos, prefere-se esgrimir acusações sobre associações secretas e nas alegadas relações obscuras entre membros e seus interesses!
Quanto à justiça? …não tenho palavras! Tantas leis (demasiadas) e zero de eficácia! Processos eternos, arguidos por condenar e vitimas por indemnizar! Se não temos uma justiça eficiente, como queremos ser um Estado de DIREITO?!?!
Na educação passámos a promover o facilitismo e a tirar o valor aos títulos académicos. Um licenciado passou a mestre, nas novas oportunidades fazem-se 3 anos em 3 horas e os professores são penalizados por chumbarem alunos que não atingiram os objectivos mínimos!
Enfim, tanto assunto por dinamizar, tantas medidas a tomar para que Portugal progredisse! Com tanta coisa por fazer, como é possível haver tantas pessoas resignadas e alheadas do seu próprio futuro? Terão colocado de parte o país? Ou colocaram-se a elas próprias de parte?

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Os interesses da comunicação ou falta dela...

A comunicação ou falta dela, entre jornalistas e políticos assim como outras entidades como sejam instituições cientificas, e’ como disse o João Mergulhão num post recente do Dinamizar Portugal, um problema bem velho!

Por exemplo, em ciência, o problema da distorção da mensagem cientifica pelos media e’ dos mais ‘velhos’ problemas estudados por académicos que se dedicam ao estudo das relações entre ciência e sociedade. Todos sabemos que existe uma tendência para simplificar a mensagem de ciência genuína para ciência ‘popular’, o que resulta muitas vezes na ‘degradação’ da própria mensagem. Jornalistas culpabilizam cientistas por estes falarem uma linguagem incompreensível recheada de jargão cientifico; cientistas culpabilizam jornalistas pela sua falta de formação em jornalismo de ciência e bases cientificas; sociólogos falam de ambiguidades na distorção e dizem que os limites entre o que e’ genuíno e distorcido tem muitas vezes uso politico, i.e., existe um interesse na ambiguidade da mensagem por quem a produz, neste caso as instituições cientificas, no sentido de obterem determinado resultado (muitas vezes financiamento). E se isto e’ realidade para a ciência, o que direi eu da politica.

Ora, podemos perguntar, será que os jornalistas portugueses estão a passar a mensagem distorcida por falta de conhecimento ou entendimento da matéria, ou por conveniência de alguns? Vejamos o que se passou há dois dias no jornal Publico com a noticia sobre uma comparação do numero de contratados pelo actual e antigo governos, desmentida no dia seguinte pelo mesmo jornal. Ora, no final de contas, ficamos sem saber nem números, nem fontes de informação, nem qual ‘e afinal a verdade. Caso para se perguntar, o porque deste ‘mau’ jornalismo? Então não deveriam ser os próprios jornalistas a fazer o ‘trabalho de casa’ antes de publicar tais noticias infundadas? O será isso resultado de um jogo de interesses?

E são estas as mensagens que são passadas ao publico, sejam elas verdadeiras ou falsas! E ‘e delas que resulta maioritariamente a opinião publica.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O umbigo lusitano

O mesmo acontecimento, dois títulos, duas interpretações da mesma realidade:

i. Bolsas europeias sem ouvidos para a S&P

ii. Cortes de ratings já estavam nos preços, afirmam analistas

O primeiro é de um jornal de referência português. O segundo é de um jornal de referência brasileiro.

Esta discrepância na análise da realidade fez-me lembrar o Natal de 2010. Por essa altura, os meus amigos da banca em Londres comentavam: “A probabilidade de Portugal fazer default (e, por conseguinte, sair do euro) é de 20%”. Os meus amigos da banca de Lisboa rebatiam: “Que exagero!! alguma vez isso (apocalipse financeiro) vai acontecer? “. O mais engraçado é que, já nessa altura, os meus amigos de Bruxelas explicavam: “O que está em causa é mais do que o Euro: é a própria União Europeia!”

Três meses depois, esta era a capa da Economist.

Mas este não é mais um post da já clássica maldicência portuguesa: todos os meus amigos citados eram portugueses...

João Mergulhão

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Comunicação: a má, a boa e a social

Começo pelo fim: a comunicação social é essencial numa democracia. Em Portugal, tal como noutros países, a comunicação social tem ótimos profissionais, isentos e sérios. Não está, porém, livre de interesses económicos e políticos, mas essas sempre foram as regras do jogo.


Ultimamente, duas coisas têm me chamado a atenção nos media portugueses. Em primeiro lugar, a generalidade das notícias tem um teor depressivo. No Brasil, apesar de se falar muito em crise (“Que horror! O Brasil só vai crescer 3% este ano!!”), existem também boas novas. Mas o que me leva a escrever hoje não é o tom alarmista das notícias, pois isso sempre fez vender mais jornais, salvo algumas afortunadas excepções (como o 24 Horas). Em segundo lugar, e a razão desta pequena nota, são as cada vez mais frequentes “interpretações livres” de declarações. Tal qual estudantes de belas artes, alguns jornalistas têm alimentado o seu lado criativo com declarações de atores políticos. Já não são apenas os casos de jornalistas, que ao escreverem sobre assuntos que não dominam, reportam aquilo que erradamente assimilaram (a esses, não podemos pedir mais e devemos ensiná-los com humildade, na esperança de algum intercâmbio de conhecimento). A questão está nos jornalistas que, num misto de Dali, Picasso e Bosch, apresentam declarações fora de contexto, truncadas, distorcidas imprimindo nas “palavras proferidas” um cenário dantesco.


Mas, nem tudo vai mal na redação. A verdade é que algumas frases, mesmo que bem intencionadas, não deviam ser ditas por algumas entidades. Ou pelo menos, deveriam ser melhor explicadas. Chegamos assim ao início: a má comunicação. Todos procuram “sound bites” e como ouvi dizer no Brasil, “você levantou a bola, eu chutei”. A má comunicação existe, portanto, nos dois lados.


Finalizo com o que considero dois exemplos de boa comunicação. Do lado dos jornalistas, o artigo “Litemerer Rfaeani Aelu” de Ferreira Fernandes no DN de 12/01/2012 explica bem um problema de má comunicação recente. Do lado dos políticos, marcou-me o discurso de David Cameron sobre a reforma do NHS (sistema de saúde Britânico): numa declaração de 30 minutos, emitida na integra e em directo pela BBC News, o Primeiro Ministro britânico pôde explicar, sem interrupções todo o projeto do seu Governo. Concorde-se ou não com essas propostas, foi possível percebê-las na totalidade, sem interrupções e referências taurimáquicas, ou a estados de espírito dos familiares.


Aparentemente o Sr. Primeiro Ministro fez ontem algo parecido na conferência do DN ao explicar as nomeações do seu Governo numa declaração sem direito a perguntas. O papel dos jornalistas será agora verificar a veracidade das estatísticas apresentadas. Desta forma contribuirão para que Portugal permaneça uma democracia, com todos os seus sistemas de controles.


João Mergulhão

As nomeações dos gestores e os merceeiros

Nos últimos dias a tónica da discussão política em Portugal tem-se centrado em nomeações, nos ordenados milionários e na correlação dos nomeados com o poder político. Será que a metodologia de escolha gera ineficiências na dinamização do país?
Em primeiro lugar compreendo que se queira colocar nesta ou naquela área pública pessoas da confiança de quem nomeia. Algum cidadão, dono de uma mercearia contrataria um funcionário no qual não confiasse? Presumo que não! No entanto, na coisa pública, o dinheiro para pagar o salário do nomeado não sai do bolso de quem nomeia mas sim dos bolsos de todos os contribuintes (incluindo merceeiros) do país. Esta diferença, implica que a escolha das nomeações tenha de ser mais rigorosa, colocando nos cargos pessoal especializado e competente (para além de ser da confiança de quem nomeia).
No que diz respeito às grandes empresas privadas, o único critério é a escolha por parte dos accionistas. Tal como acontece numa pequena mercearia, é de esperar que os accionistas da empresa escolham os melhores para as funções, condicionados pelo salário exigido por esses elementos. No entanto, quando os accionistas optam por funcionários (muito) próximos do poder político, é razoável que existam dúvidas sobre os motivos para tal escolha. Extrapolando, se eu fosse merceeiro, será que a contratação do sobrinho do presidente da Câmara poderia ter uma influência positiva na aprovação de umas obras?
Voltando à análise e deixando as extrapolações de parte, será assim tão importante para os accionistas privados que os gestores da sua empresa sejam próximos de quem decide? Haverá vantagens ou ganhos de eficiência (não vamos especular sobre outros tipos de ganhos) nessa proximidade? Ou será apenas coincidência que os melhores gestores sejam próximos de quem está actualmente no poder?
O facto de existir a dúvida, é um sinal da (des)confiança que os cidadãos têm nas instituições. A agravar esse factor estão os salários milionários pagos aos gestores públicos. Existirá algum motivo para que o trabalho desses funcionários seja cerca de cem vezes o salário de um trabalhador médio? Terão esses gestores uma produtividade assim tão grande para justificar os euro-milhões auferidos pela sua actividade quotidiana (principalmente em contexto de crise e, muitas vezes, em empresas com evoluções negativas)?
Num país pequeno como o nosso, é fácil existirem relações e conhecimentos cruzados entre a esfera pública e o sector privado. Mas em Portugal, este tipo de ligações parecem existir entre políticos e empresas, entre magistrados e sector privado, entre merceeiros e autarcas… um case-study de (in)eficiência que afecta e corrompe a dinamização do país!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Harmonia e Improvisação

Achei este artigo do professor Victor Ginsburgh interessante e portanto partilho com os leitores do Dinamizar Portugal... Existe evidentemente uma longa literatura sobre "biased experts' opinion" que merece a pena conhecer.

Paulo S. Monteiro
(comentários bem vindos)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Vender barato é crime?

Hoje de manhã os noticiários abriram com uma acção policial de apreensão de leite pasteurizado em grandes superficies por suposta prática de dumping. Imagino que muitos consumidores tenham reacções negativas a tal acção por lhe ser vedado o aproveitamento dos descontos. Para quem não é conhecedor da matéria e como os meios de comunicação se limitaram a transmitir as informações das agências noticiosas, fica a dúvida no ar: Vender barato é crime?
Quem compra prefere comprar barato. Trata-se de uma decisão lógica (apesar de alguns consumidores serem adeptos de que o preço é um factor regulador da qualidade). Quando compramos barato, temos tendência a comprar maiores quantidades. Essa aquisição de bens de consumo é substituta da compra de bens equivalentes (ou compro leite da marca x ou da marca y). Assim, ao adquirir produtos baratos de uma marca, opto por não comprar de outra, o que reduz a quota de mercado das empresas que vendem mais caro. Aparentemente nada de extraordinário acontece. Seria a lei da concorrência a funcionar em prol do consumidor.
No entanto, se uma empresa pretende afastar um concorrente do mercado, uma das técnicas para o conseguir é reduzir o preço de mercado, temporariamente abaixo do preço de custo, para que seja insustentável ao concorrente manter-se em actividade. Após captação da quota de mercado do adversário, a concorrência diminui e é mais fácil aumentar de novo o preço (eventualmente acima do preço de partida), gerando lucros superiores aos iniciais.
Não sendo visível para a sociedade este jogo de interesses, é natural que a maioria dos cidadãos se limite a criticar as acções das autoridades de apreender os produtos.
Pessoalmente não sei se estamos perante uma prática de dumping ou de preços predatórios. Para existir dumping terá de estar em causa o comércio internacional. Caso se comprove que o leite era proveniente de Espanha e estando ambos os países numa União Europeia sem barreiras às trocas comerciais, tenho sérias dúvidas se Dumping será o termo correcto. Ainda assim, tratar-se-á de uma prática abusiva que está definida pelo direito comunitário, transcrita para o direito português e que faz todo o sentido que seja cumprida.
Por isso, e respondendo à pergunta em titulo: Sim, por vezes é crime vender barato!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Aventais aos molhos

Numa época em que proliferam as notícias sobre relacionamentos obscuros em organizações maçónicas e em que os jornais e revistas sustentam as vendas com chamadas de primeira página com revelações de “segredos” das Maçonarias, espero que este artigo tenha a virtude de fazer também disparar os leitores do Dinamizar Portugal.
Contudo, não vou divulgar segredos sobre nenhuma maçonaria! Não os conheço nem tenho atracção por esse tipo de grupos. Li alguns artigos sobre o tema e, a ser verdade muito do que se escreve, estamos todos mais ou menos ligados aos maçons, considerando a sua penetração no espectro político português.
Para ser franco começo a ficar farto de ouvir falar de maçonarias e de mais um qualquer membro bem colocado na vida e que é da mesma loja maçónica de fulano ou beltrano. Como cidadão português, quero lá saber de que cor é o avental alheio! E é-me indiferente se esta ou aquela pessoa pertence ou pertenceu ao partido x, à maçonaria, ao opus dei, ao club bildeberg aos escuteiros, ao rotary, aos lions ou ao clube de fãs do pai da Fanny! Não é muito relevante caracterizar uma pessoa pela organização ou grupo a que pertence. Será que alguém é mais inteligente por ser maçon ou que é mais proactivo por ter sido escuteiro? Qual será a mais-valia para a sociedade de termos maçons no governo em detrimento de termos (por exemplo) sócios do Futebol Clube do Porto?
No entanto, em Portugal a história real é ligeiramente diferente. Embora todos falem no interesse público e no serviço ao país, a meritocracia parece ter ficado para um segundo plano face à organização ou grupo de interesse a que se pertence, o que representa uma corrupção disfarçada. Ao mesmo tempo, nem todos os cidadãos parecem gozar de igualdade judicial, o que pode significar não apenas corrupção mas também um gigantesco caso de polícia.
Assim, será que pertencer ao PS ou ao PSD é a melhor forma de progredir na vida do ponto de vista sócio-economico (como se diz na sociedade) ou será que passámos para um outro nível em que isso não basta por si e é necessário vestir um qualquer tipo de avental?
Este tipo de dúvidas levanta suspeições na sociedade que são perversas e que minam a confiança dos cidadãos. Não podem existir barreiras à entrada para determinadas funções ou cargos em que pessoas capacitadas e tecnicamente competentes são excluídas por não pertencerem a uma determinada corporação ou associação secreta. Ou vivemos em democracia…ou em oligocracia! Não pode é chamar-se democracia ao que parece não o ser!
Deveriam existir mecanismos de checks and balances que controlassem os abusos e que promovessem uma maior eficiência da política e da justiça. A ausência de responsabilização associada ao exercício do contraditório efectuado por membros da mesma corporação, deteriora a eficiência e a equidade das políticas governativas e da própria legislação. Julgo que os cidadãos portugueses não estão interessados em conhecer as motivações das ordens maçónicas nem as características de cada loja. Mas não atirem areia para os olhos quando as relações cruzadas e os interesses económicos são descobertos e as decisões políticas são construídas por quem delas se aproveita...embora sempre "de acordo com o interesse nacional"!
Interesse nacional? …Interesse nacional é colocar o dedo na ferida e falar daquilo que muitos preferem manter no silêncio!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Oferta e Procura em Chicago

Amanhã voo para Chicago para participar na conferência anual da American Economic Association e da Allied Social Science Association (as ASSA meetings). Participarei na conferência apresentando um trabalho de investigação meu (um trabalho empírico sobre política monetária), mas parte substancial do meu tempo em Chicago vai ser dedicado a outra actividade. Em conjunto com outros colegas meus de Warwick, a universidade onde lecciono e faço investigação, vou passar várias horas num quarto de hotel a entrevistar jovens economistas que estão a concluir o seu PhD em universidades que estão espalhadas pelos quatro cantos do mundo. É que as ASSA meetings são de facto o mercado internacional onde os novos investigadores em economia (os PhDs) e as universidades de todo o mundo participam num jogo de oferta e procura. Um jogo que serve a emparelhar novos PhDs com ideias de investigação frescas e departamentos de economia de todo o mundo que procuram jovens investigadores e docentes.


Warwick e centenas de outras universidades recrutam todos os anos neste mercado de trabalho (o job market) novos PhDs. Ao mesmo tempo, os PhDs destas mesmas Universidades participam no job market mas do lado da oferta. Este processo de emparelhamento entre oferta e procura garante uma mutua fertilização das universidades com ideias de pesquisa e novas energias. E este processo garante que as universidades que participam activamente no job market permanecem na fronteira da pesquisa. Quais são as universidades que participam neste mercado? Como vos disse, são centenas de universidades dos quatro cantos do mundo. Mas infelizmente, com algumas notáveis excepções, são poucas as universidades em Portugal que participam neste mercado internacional. Dar mais autonomia às universidades portuguesas para recrutar e promover a excelência na investigação é urgente. Seria bom se daqui a cinco anos, houvesse várias universidades portuguesas que participam regularmente nas ASSA meetings!


Paulo S. Monteiro


(comentários bem vindos)