Nos últimos dias a tónica da discussão política em Portugal tem-se centrado em nomeações, nos ordenados milionários e na correlação dos nomeados com o poder político. Será que a metodologia de escolha gera ineficiências na dinamização do país?
Em primeiro lugar compreendo que se queira colocar nesta ou naquela área pública pessoas da confiança de quem nomeia. Algum cidadão, dono de uma mercearia contrataria um funcionário no qual não confiasse? Presumo que não! No entanto, na coisa pública, o dinheiro para pagar o salário do nomeado não sai do bolso de quem nomeia mas sim dos bolsos de todos os contribuintes (incluindo merceeiros) do país. Esta diferença, implica que a escolha das nomeações tenha de ser mais rigorosa, colocando nos cargos pessoal especializado e competente (para além de ser da confiança de quem nomeia).
No que diz respeito às grandes empresas privadas, o único critério é a escolha por parte dos accionistas. Tal como acontece numa pequena mercearia, é de esperar que os accionistas da empresa escolham os melhores para as funções, condicionados pelo salário exigido por esses elementos. No entanto, quando os accionistas optam por funcionários (muito) próximos do poder político, é razoável que existam dúvidas sobre os motivos para tal escolha. Extrapolando, se eu fosse merceeiro, será que a contratação do sobrinho do presidente da Câmara poderia ter uma influência positiva na aprovação de umas obras?
Voltando à análise e deixando as extrapolações de parte, será assim tão importante para os accionistas privados que os gestores da sua empresa sejam próximos de quem decide? Haverá vantagens ou ganhos de eficiência (não vamos especular sobre outros tipos de ganhos) nessa proximidade? Ou será apenas coincidência que os melhores gestores sejam próximos de quem está actualmente no poder?
O facto de existir a dúvida, é um sinal da (des)confiança que os cidadãos têm nas instituições. A agravar esse factor estão os salários milionários pagos aos gestores públicos. Existirá algum motivo para que o trabalho desses funcionários seja cerca de cem vezes o salário de um trabalhador médio? Terão esses gestores uma produtividade assim tão grande para justificar os euro-milhões auferidos pela sua actividade quotidiana (principalmente em contexto de crise e, muitas vezes, em empresas com evoluções negativas)?
Num país pequeno como o nosso, é fácil existirem relações e conhecimentos cruzados entre a esfera pública e o sector privado. Mas em Portugal, este tipo de ligações parecem existir entre políticos e empresas, entre magistrados e sector privado, entre merceeiros e autarcas… um case-study de (in)eficiência que afecta e corrompe a dinamização do país!
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