terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Comunicação: a má, a boa e a social

Começo pelo fim: a comunicação social é essencial numa democracia. Em Portugal, tal como noutros países, a comunicação social tem ótimos profissionais, isentos e sérios. Não está, porém, livre de interesses económicos e políticos, mas essas sempre foram as regras do jogo.


Ultimamente, duas coisas têm me chamado a atenção nos media portugueses. Em primeiro lugar, a generalidade das notícias tem um teor depressivo. No Brasil, apesar de se falar muito em crise (“Que horror! O Brasil só vai crescer 3% este ano!!”), existem também boas novas. Mas o que me leva a escrever hoje não é o tom alarmista das notícias, pois isso sempre fez vender mais jornais, salvo algumas afortunadas excepções (como o 24 Horas). Em segundo lugar, e a razão desta pequena nota, são as cada vez mais frequentes “interpretações livres” de declarações. Tal qual estudantes de belas artes, alguns jornalistas têm alimentado o seu lado criativo com declarações de atores políticos. Já não são apenas os casos de jornalistas, que ao escreverem sobre assuntos que não dominam, reportam aquilo que erradamente assimilaram (a esses, não podemos pedir mais e devemos ensiná-los com humildade, na esperança de algum intercâmbio de conhecimento). A questão está nos jornalistas que, num misto de Dali, Picasso e Bosch, apresentam declarações fora de contexto, truncadas, distorcidas imprimindo nas “palavras proferidas” um cenário dantesco.


Mas, nem tudo vai mal na redação. A verdade é que algumas frases, mesmo que bem intencionadas, não deviam ser ditas por algumas entidades. Ou pelo menos, deveriam ser melhor explicadas. Chegamos assim ao início: a má comunicação. Todos procuram “sound bites” e como ouvi dizer no Brasil, “você levantou a bola, eu chutei”. A má comunicação existe, portanto, nos dois lados.


Finalizo com o que considero dois exemplos de boa comunicação. Do lado dos jornalistas, o artigo “Litemerer Rfaeani Aelu” de Ferreira Fernandes no DN de 12/01/2012 explica bem um problema de má comunicação recente. Do lado dos políticos, marcou-me o discurso de David Cameron sobre a reforma do NHS (sistema de saúde Britânico): numa declaração de 30 minutos, emitida na integra e em directo pela BBC News, o Primeiro Ministro britânico pôde explicar, sem interrupções todo o projeto do seu Governo. Concorde-se ou não com essas propostas, foi possível percebê-las na totalidade, sem interrupções e referências taurimáquicas, ou a estados de espírito dos familiares.


Aparentemente o Sr. Primeiro Ministro fez ontem algo parecido na conferência do DN ao explicar as nomeações do seu Governo numa declaração sem direito a perguntas. O papel dos jornalistas será agora verificar a veracidade das estatísticas apresentadas. Desta forma contribuirão para que Portugal permaneça uma democracia, com todos os seus sistemas de controles.


João Mergulhão

1 comentário:

Marta Entradas disse...

A comunicação ou falta dela, entre jornalistas e políticos assim como outras entidades como sejam instituições cientificas, e’ como diz, um problema bem velho!

Por exemplo, em ciência, o problema da distorção da mensagem cientifica pelos media e’ dos mais ‘velhos’ problemas estudados por académicos que se dedicam ao estudo das relações entre ciência e sociedade. Todos sabemos que existe uma tendência para simplificar a mensagem de ciência genuína para ciência ‘popular’, o que resulta muitas vezes na ‘degradação’ da própria mensagem. Jornalistas culpabilizam cientistas por estes falarem uma linguagem incompreensível recheada de jargão cientifico; cientistas culpabilizam jornalistas pela sua falta de formação em jornalismo de ciência e bases cientificas; sociólogos falam de ambiguidades na distorção e dizem que os limites entre o que ‘e genuíno e distorcido tem muitas vezes uso politico, i.e., existe um interesse na ambiguidade da mensagem por quem a produz, neste caso as instituições cientificas, no sentido de obterem determinado resultado (muitas vezes financiamento). E se isto ‘e a realidade para a ciência, o que direi eu da politica.

Ora, podemos perguntar, será que os jornalistas portugueses estão a passar a mensagem distorcida por falta de conhecimento ou entendimento da matéria, ou por conveniência de alguns? Vejamos o que se passou há dois dias no jornal Publico com a noticia sobre uma comparação do numero de contratados pelo actual e antigo governos, desmentida no dia seguinte pelo mesmo jornal. Ora, no final de contas, ficamos sem saber nem números, nem fontes de informação, nem qual ‘e afinal a verdade. Caso para se perguntar, o porque deste 'mau jornalismo'? Então não deveriam ser os próprios jornalistas a fazer o ‘trabalho de casa’ antes de publicar tais noticias infundadas?

E sao estas as mensagens passadas ao publico, sejam elas verdadeira ou falsas!