Anteontem lá tive de ouvir na rádio, pela enésima vez, um dos argumentos mais medíocres que caracteriza a maioria da elite intelectual portuguesa. Falava uma ouvinte a páginas tantas sobre a questão de Portugal ser um país pobre, quando o convidado desse programa explana a seguinte observação:
“….atenção, que Portugal não é um país pobre! É sim um dos menos ricos do grupo de países ricos, estando mais ou menos na quadragésima posição mundial. Por isso, existem 160 países mais pobres que Portugal, representando milhares de milhões de pessoas…” (a ideia foi esta, não me lembro das palavras exactas).
Do ponto de vista técnico e estatístico é uma análise sem mácula. Mas para mim, do ponto de vista intelectual e cívico, é algo que no mínimo demonstra falta de ambição. O que é que me interessa a mim comparar o incomparável? Contextos geográficos e históricos completamente diferentes. Quero lá saber qual a relação do meu país face ao Kiribati ou ao Malawi! Temos é de nos comparar com os que estão perto de nós e olhar para cima, não para baixo.
Sendo realista, sei que para nós será muito difícil voltar a ser a 1ª ou 2ª potência mundial como o fomos no séc. XV e inícios de XVI. De igual modo, não parece sensato a Grécia sonhar em voltar a atingir o seu auge. E muito menos a Macedónia. Mas raios partam, nós temos capacidade para fazer melhor que o 40º lugar. Alguma vez uma Finlândia, Eslovénia ou mesmo República Checa tiveram ao longo da história as oportunidades e protagonismo que nós tivemos?? E no entanto estão à nossa frente.
A nossa fronteira já tem mais de 800 anos. Temos uma língua que é falada por mais de 200 milhões de pessoas no mundo em vários continentes. Geograficamente, somos uma excelente ponte de ligação entre a Europa, África e América, tendo inclusive a melhor estação de abastecimento do Atlântico (que na verdade é a Força Aérea Americana que explora, mas enfim). Temos condições fantásticas para o turismo (clima, hospitalidade, comida, segurança). Sem muito esforço, podíamos ser uma espécie de Florida da UE. Com bastante mais investimento, até podíamos ser uma Califórnia (quando não estava falida). Mas não, a nossa elite já fica contente por sermos uma espécie de Alabama. Até em sonho e ambição esta elite que nos (des)governa é rasca.
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