terça-feira, 11 de janeiro de 2011

It's the Speculators, Stupid!

Vários e diferentes mitos têm monopolizado a actividade política e jornalística Portuguesa nos últimos meses (e/ou anos). O bode expiatório de que são os especuladores os responsáveis pela crise em Portugal é um dos favoritos. “Don't Blame the Messengers, Blame Those Responsible”. Nota Bene: Os principais responáveis pela actual situação Macroeconómica de Portugal são as pessoas que governaram o País nos últimos 20 anos. Volto a repetir, os principais responsáveis pela actual situação são os nossos governantes.
Muitos políticos e comentaristas (a maioria dos quais não são economistas) culpam os especuladores mal intencionados como os responsáveis pela crise na zona euro. Miguel Sousa Tavares (poderia ter escolhido José Sócrates ou Teixeira dos Santos), na sua coluna semanal no Expresso de dia 11 de Novembro de 2010, passou a explicar:
“É evidente que os celebérrimos 'mercados' são apenas um bando de abutres especuladores, contra o euro ou contra países vulneráveis escolhidos a dedo, que tiram todo o partido que podem da situação. É evidente que, quando tudo isto estiver resolvido, de uma forma ou de outra, o mundo vai ter de encontrar medidas para pôr termo a esse poder sinistro dos especuladores financeiros (que nos lançaram na crise e se aproveitam dela), que roubam o trabalho das pessoas, a poupança das famílias, a riqueza das nações.”
Como já muitos escreveram sobre a temática, resolvi não só opinar, mas também fazer um apanhado de opiniões (que concordo) pela blogosfera:
1. Definição de Especulação: “Especulação, em economia, consiste em uma aposta acerca do futuro económico de um país, um sector de actividade ou de uma empresa”.
2. Definição de Especulador: “(...) First, in the real world, every economic actor is a speculator, as he takes decisions according to his future expectations concerning prices and people's preferences (…) Second, speculators suffer losses whenever they predict a rise or drop in price that ultimately does not occur (...)”. Quando têm razão, os especuladores ganham dinheiro (é aqui que entra a retórica dos nossos governantes); Quando se enganam, perdem dinheiro (quando perdem dinheiro já não interessa). Especuladores são agentes económicos que permitem o nascer de projectos e empresas eficientes e inovadoras e a morte à nascença de investimentos inviáveis para os quais existem substitutos mais produtivos. Existem ainda especuladores que apostam na recuperação de Portugal.
3. Portugal também é um especulador? “Em várias ocasiões, o próprio Estado Português actuou nesse mercado com o objectivo de tirar partido das suas expectativas de variação das taxas (de juro), assim se comportando como um especulador. Nos anos anteriores à criação do euro, Portugal foi grandemente beneficiado pelos especuladores que apostaram que o nosso país iria integrar o grupo de estados fundadores da moeda única europeia”.
4. Especuladores beneficiaram o Pais? “Os mercados existem, e ainda bem, mesmo com todos os seus defeitos. Durante anos, os mercados - essa entidade abstracta que ninguém conhece mas todos sentem - beneficiou o País e a nossa economia, o Estado, os bancos, as empresas e as famílias. E, como nos ‘trataram' bem, eram a prova de que estávamos no bom caminho. Quando começaram a ‘apertar', provavelmente de forma tão irracional como quando nos facilitaram a vida, passaram de ‘mercados' a ‘especuladores'. Esses mercados, esses especuladores, que também existem, fazem parte de uma longa de lista de entidades que nos emprestam dinheiro e que nos permitiram levar longe demais o nível de vida que temos. Ora, quem empresta dinheiro, sobretudo quem empresta dinheiro a quem, progressivamente, está mais e mais endividado, põe condições. E ainda bem. Porque, caso contrário, provavelmente, continuaríamos como se nada fosse”.
5. O próprio Governador do Banco de Portugal afirma que “Não vale a pena culpar os mercados; se não fizermos o nosso trabalho ninguém nos acompanha”. Quem é o principal responsável? Quem nos governou! Claro que também temos culpa. As famílias e empresas endividaram-se para lá do que podiam suportar. A actual especulação só é possível porque Portugal está a entrar em risco de incumprimento. "Isso não é culpa dos mercados, e muito menos das agências de “rating”, que não passam (ambos) de portadores das más notícias. O problema está no facto de alguns países não terem honrado os compromissos que assumiram em Maastricht aquando da adesão ao euro".


“São os Governantes!”: O “Wall Street Journal”, em artigo de primeira página em Dezembro de 2010, falava na falta de credibilidade da classe política Portuguesa. Os especuladores internacionais especulam contra a dívida Portuguesa porque os nossos governantes lhes dão razão para isso. A cultura de desculpabilização e de desresponsabilização em Portugal tem de acabar – Quando ganhamos somos os Maiores; Quando perdemos, a culpa é dos Especuladores.
Poderemos falar ainda de short selling, da Angela Merkel e do Nicolas Sarkozy, das Agências de Rating, do Alan Greenspan, entre outros. Tentaremos desmistificar alguns destes mitos no futuro. Um abraço.


PostScript: Estará Portugal em contagem decrescente para pedir ajuda ao Fundo de Estabilização Europeu e ao FMI (ainda no primeiro trimestre de 2011) ou é agora considerado “fashion” partilhar da opinião de que Portugal não se conseguirá financiar nos mercados financeiros e que terá de pedir ajuda? 44 entre 51 Economistas contactados pela Reuters acham que Portugal vai precisar de ajuda ainda este ano. O The Economist partilha da mesma opinião. Quarta-feira dia 12 de Janeiro vai ser um dia importante: Portugal emite as primeiras obrigações de maturidades mais longas. Vai ser o primeiro grande teste de 2011 para o País. Poderá ser o “trigger” activado já esta semana?

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