segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Como cavalgar o resultado do Syrisa?


Quando François Hollande venceu as eleições em França, os partidos esquerdistas da Europa apressaram-se a vaticinar uma mudança de estratégia na Europa e a solução para os problemas da austeridade. Essa premonição veio a revelar-se pouco mais de uma miragem…


Com a vitória do Syrisa na Grécia está a acontecer o mesmo. Os partidos esquerdistas tentam cavalgar os resultados eleitorais gregos para cativarem os eleitores nos seus próprios países. O argumento do fim da austeridade é sedutor e é a altura certa para tentar aproveitar uma potencial onda de mudança na europa.

Em Portugal, o partido que mais se aproxima do Syrisa é talvez o Bloco de Esquerda. No entanto não é expectável que consiga resultados similares aos gregos por falta de eloquência da sua Direcção e por algumas lacunas de credibilidade que afastaram eleitores para votos mais úteis.
O PCP tem o seu eleitorado bem definido e deverá ser pouco favorecido por ventos de mudança exteriores.
O PS está a fazer um difícil equilibrismo político. Pisca o olho ao Syrisa para tentar captar eleitores mais esquerdistas mas sabe que não se pode colar em demasia a uma política anti-europeia por não ser sustentável e, sobretudo, por não se poder dar ao luxo de comprometer os votos do centro que são decisivos para ganhar ou perder eleições.

A Europa já percebeu que a austeridade em demasia é perigosa e leva a problemas económicos como o desemprego associado a perigosas deflações. Mas, por outro lado, é necessário implementar políticas de rigor, transparência e responsabilidade. Este equilíbrio tem sido difícil de sustentar, por carência de líderes carismáticos com visão estratégica.
A vitória do Syrisa pode ser um marco importante na construção europeia por representar uma radicalização do eleitorado descontente. Mas essa radicalização será mais amena do que a maioria dos descontentes espera. A Grécia não tem muito poder na Europa e tem muitas debilidades estruturais que não lhe permitem sair, de qualquer forma, da camisa de forças que muitos gregos sentem no dia-a-dia.

Já em Portugal, a disputa eleitoral será entre os mesmos de sempre, recaindo a decisão mais sensível sobre o CDS, pois a provável entrada numa coligação pré-eleitoral com o PSD, inviabilizará, ou pelo menos dificultará, uma possível coligação de governo com o PS após as eleições.

Será um ano de 2015 muito interessante em termos de estratégia politica! Mas infelizmente não se vislumbram novas ideias para o futuro do país nem para a estabilidade da União Europeia.

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