sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Para ser bom político, não chega ser bom técnico


O pequeno título deste texto tem-se aplicado a inúmeras escolhas políticas que, apesar de aclamadas pelas elites sociais, não passaram de erros de casting. Essas escolhas são comuns em todos os governos mas também na elaboração de listas de deputados, nomeações públicas e tantas outras opções onde foi preterido o feeling político em detrimento unicamente da capacidade técnica, da boa vontade pessoal ou da camaradagem com quem tem o poder de escolha.

Para o cidadão menos atento a estas questões, a inabilidade política seria um mal menor face a outros valores mais nobres da pessoa humana que aparentemente superariam a falta de jeito para a gestão de dossiers políticos. Mas a verdade é que isso não acontece. Alguns políticos menos dotados conseguem passar pela vida política de forma inócua, muitos fingindo-se de adormecidos, hibernados ou até de mortos. Mas outros não têm esses dons e são confrontados com erros de cálculo, incapacidade negocial, falta de liderança, desconhecimento dos mecanismos de gestão, dificuldade de adaptação, inabilidade para discursar e tantos outros constrangimentos que minam a política e fazem aumentar a venda dos tablóides. Obviamente que estes erros de casting são tanto mais graves quanto a responsabilidade que as personalidades assumem. Por vezes, a gravidade afecta apenas o próprio mas em outras ocasiões afecta executivos, partidos, governos ou até o país.
A escolha de personalidades para ocupação de cargos políticos decorre de estratégias políticas mas também pode ocorrer por meros acasos conjunturais. A urgência com que muitas nomeações são decididas não permite analisar os dotes políticos nem a inteligência emocional dos escolhidos. Muitas vezes, nem possibilita que os candidatos sejam “googlados” para perceber o que andaram a dizer e a fazer nas suas vidas.
E não se pense que será a Cresap a tratar este problema político pois nem a entrevista de seleção, nem o teste psicotécnico ou a análise de currículo permitem detectar e rejeitar candidatos desadequados politicamente (atenção que politico é diferente de filiado em partido político).

Este governo também tem esses problemas. Alguns bons técnicos serão pouco mais do que marionetas nas mãos de políticos experientes e jornalistas ávidos de escândalos, erros, incongruências. O grande problema é que a inabilidade política não é um problema de saúde tratável. É uma maleita crónica que pode eventualmente ser minimizada mas também pode arruinar uma caminhada ganhadora.
Aos bons técnicos com aspirações pelo poder, recomendo o estudo destas matérias para se precaverem mas aos decisores públicos desejo que tenham consciência que as escolhas que fazem afectam positiva ou negativamente o país que têm missão de gerir.


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