quarta-feira, 9 de março de 2016

Cavaco, justiça ao seu nome


Cavaco Silva consegue no fim da sua carreira política um amplo e raro consenso de opiniões bastante críticas face à sua actuação como Presidente da República. Mas, se Cavaco é um alvo fácil a abater por parte de diversas áreas políticas, importa fazer justiça à figura de Cavaco Silva, o homem que nos últimos 30 anos mudou a política portuguesa e liderou o país em diversas frentes.
A verdade é que Cavaco me levou a gostar de economia e de política. Para quem, como eu, nascido na década de oitenta, começou a olhar para o país nos governos PSD de maioria absoluta, Cavaco foi um político diferente dos restantes. Soube aproveitar os financiamentos europeus, fez frente a um Presidente da República hostil, conseguia surpreender nas remodelações governamentais, tinha a sua própria agenda (o que irritou muitos jornalistas) e fez escolhas, muitas escolhas que alteraram o rumo do país. Cavaco decidia, falava quando bem entendia, fazia silêncio quando escolhia e apaixonava o eleitorado do centro-direita. Empolgava nas campanhas eleitorais e marcava a diferença para um Portugal que se queria a evoluir para lá dos fantasmas da ditadura mas também para além das brumas do tão aclamado “25 de Abril sempre!”

Visita do Primeiro Ministro Cavaco Silva a Marvão. (descubra o autor deste artigo na foto)

Cavaco não foi apenas um economista que um dia virou político. Cavaco Silva conseguiu evoluir de economista conservador para político convicto das suas decisões. A solidez do seu discurso convencia os parceiros europeus e os seus conhecimentos técnicos arrumaram no esquecimento muitos candidatos a políticos da oposição.
Ninguém sabe como seria hoje o país se não tivesse havido Cavaco. Ninguém pode afirmar que outro político teria feito mais e melhor. Nos anos 80 Portugal estava ainda mais periférico do que hoje e o país que eu conheço evoluiu com o político que o governou. Cavaco deixou um legado que não deixa ninguém indiferente. Para uns foi o causador do excessivo número de funcionários públicos e do crescente endividamento, para outros levou ao desenvolvimento do país e dos seus habitantes.
O Cavaco que eu me vou recordar não será o Presidente da República esvaziado de competências e repleto de contenções. A defesa do superior interesse nacional tão apregoada discurso atrás de discurso poderia,…..deveria ter tido mais presença, mais acção, maior intervenção.
Cavaco Silva mostrou que um mesmo homem pode ser bom político em funções executivas e mediano como bibelot. Claro que a idade, o cansaço ou mesmo a doença podem ter a sua quota-parte de responsabilidade mas tudo tem o seu tempo.
Sou daqueles que não tendo votado em Cavaco no seu último mandato, o elogiam como político, como primeiro-ministro e como o responsável por uma corrente ideológica-politica que marcou o pais: o Cavaquismo.
Cavaco Silva teve uma carreira política longa. Fez amigos e principalmente muitos inimigos. Fez coisas que o orgulham, outras que seguramente teria feito diferente. Cavaco Silva termina hoje um ciclo político e deixa muitos adversários em todos os quadrantes. Mas desconfio que isso pouco importará a Cavaco. Se o seu objectivo enquanto primeiro-ministro foi deixar obra, como Presidente da República procurou ser a sua antítese e consolidar a estabilidade das instituições.
Cavaco Silva ficará na história do país e deixa um profundo legado político. Ficará também na memória de muitos portugueses que acompanharam a sua trajectória, as suas posições e as suas decisões. Ficará também na minha memória como personalidade que influenciou indirectamente e sem nunca o saber, algumas das minhas escolhas. Quero acreditar que não serei o único português a valorizar o seu legado político e económico.
Neste dia que termina as suas funções, faça-se justiça ao homem, ao economista, ao político!
Em suma, faça-se justiça ao seu nome!

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