Há cerca de 4 anos, todos os meses e por razões de natureza médica, tenho de ir à consulta externa de um determinado hospital público (que vou optar por não identificar). Relativamente aos serviços médicos e administrativos devo dizer que não tenho uma única razão de queixa. As instalações são modestas mas o acompanhamento efectuado ao utente faz inveja a qualquer serviço privado da mesma área (falo de experiência própria). As consultas são marcadas com muita antecedência mas são efectuadas a horas ou com atrasos razoáveis, o utente não é sobrecarregado com baterias de exames inúteis, os cuidados de enfermagem são prestados em tempo útil e os médicos efectuam trabalho de equipa na avaliação do estado de saúde dos seus pacientes. Claro que a taxa moderadora paga pelos serviços é também baixa (provavelmente demasiado baixa para ser efectivamente moderadora da procura).
Há alguns aspectos que poderiam ser melhorados nestes serviços públicos mas devemos ter em consideração que os orçamentos são limitados e nem sempre os gestores hospitalares podem fazer grandes melhorias nos procedimentos ou nas instalações que têm a seu cargo.
No entanto, e não querendo entrar em eventuais ganhos de eficiência (como por exemplo os decorrentes da centralização das compras públicas de saúde, que por sinal está regulada e tem órgãos em funções), há outros pequenos ajustamentos que podem ser efectuados para prestar um melhor serviço ao utente. Uma sugestão de implementação aparentemente simples seria regular a actividade dos delegados de informação (ou propaganda) médica. Como utente e contribuinte não compreendo que os delegados de informação médica possam circular livremente nas áreas destinadas às consultas externas dos hospitais públicos, fazendo autênticas “esperas” aos médicos e tentando passar à frente dos utentes para serem “atendidos” (obviamente sem pagamento de taxa moderadora).
Acredito que a actividade de publicitar medicamentos e outros produtos médicos seja relevante e vamos supor que é de utilidade pública. Os médicos devem conhecer os avanços científicos e os novos produtos desenvolvidos, para que possam prescrevê-los aos utentes que deles necessitem. Mas será esta a melhor forma de difundir as informações pelo sector? Será ainda normal que um delegado de informação médica tenha acesso livre a um qualquer hospital público para promover congressos tendencialmente gratuitos em locais turisticamente interessantes e que, para tal, possa passar à frente de doentes? E porque têm os utentes que vão a uma consulta numa instituição pública de conviver com autênticos encontros de 3 ou 4 delegados de informação de laboratórios (privados) concorrentes?
A actividade de informação médica pode ser nobre (para além de ser rentável) e o seu impacto social muito relevante mas deve ser regulada de forma a não interferir na prestação de cuidados de saúde. Para além disso não poderia haver uma outra forma de divulgação dos produtos médicos, talvez mais concorrencial, transparente e com avaliação dos incentivos oferecidos aos prescritores desses mesmos serviços?
Um bom ponto de partida seria obrigar que qualquer acto de promoção médica realizada em Hospitais Públicos passasse a ser previamente analisado e autorizado pelo Director Clínico da unidade em causa. Fica a sugestão!
3 comentários:
Isso está tudo controlado pelas respectivas direcções clinicas. Já não há congressos em lugares paradisíacos... Tudo mudou... No ultimo ano muitos DIMs perderam o emprego... Olha a mim, nos últimos 6 meses nem uma caneta bic me deram eheh
Andas certamente a receitar pouca medicação! :)
Mas será mesmo que as Direcções Clinicas sabem e toleram que os DIMs se intrometam no meio dos utentes das consultas externas? É que, nestes 4 anos, sempre que vou ao hospital (e vou pelo menos uma vez por mês), encontro-os por lá!! Alguns já os conheço...
É que se as Direcções Clinicas têm conhecimento...bem, então é mais grave ainda!!!
Meus caros,
Lamento informar mas todos desconhecem a realidade! Não vou adorar quando já não houver industria farmacêutica em Portugal, pois sou utente do SNS, visto que quando a inovação neste setor fôr aniquilada, vamos todos fazer os mesmos genéricos para o resto da vida, vamos todos morrer de doenças para as quais não cura, porque não existe inovação. Não vos desejo que um dia necessitem de um medicamento inovador, e que a vossa vida dependa dele! pois ele pode não existir, por falta de incentivo dos estados dos países...se existir vão compreender o que significa, inovar neste ramo, ser salvo! Quem transmite a informação sobre estes medicamentos são os Delegados de Informação Médica. Mas como tudo na vida há os bons e os maus.....como os utentes há os bons e os maus e os médicos, etc.
Há uma verdade absoluta, os DIM vão acabar por ficar menos visíveis pois cada vez são menos. Vão sentir muita falta.....
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