segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Cavaco Silva, e os comentários “futeboleses”!

É normal que um qualquer cidadão se refira ao Presidente da República na terceira pessoa do singular, por exemplo: “O Presidente da República proferiu o discurso…”. Mas será normal que o próprio Presidente da República fale de si também na terceira pessoa do singular e não na primeira, como seria “Eu, como Presidente da República, proferi o discurso…”?
Não sendo especialista em línguas, diria que, pelo menos, não é correcto abordar desta forma a figura presidencial.
O Presidente da República, tendo concorrido de livre e espontânea vontade ao cargo, não deveria distanciar-se das suas funções nem da responsabilidade pessoal assumida na tomada de posse. O cargo existe para além da pessoa mas só faz sentido quando alguém é empossado nesse mesmo cargo, pelo que o Presidente da República deixa de ser um título abstracto para representar o cidadão que foi eleito pelos seus pares para desempenhar as funções em causa.
Quando o actual Presidente da República fala na terceira pessoa do singular, auto-afasta o título, o cargo e a responsabilidade assumida, personalizando os comentários desportivos que os jogadores de futebol fazem de si próprios, como por exemplo “Têm inveja do Cristiano Ronaldo porque ele é bonito, rico e talentoso” – declarações proferidas pelo próprio CR.
Esta não é uma questão menor. Como não é de menor importância que o Presidente da República se abstenha de falar em prol de um alegado superior interesse nacional ou de uma suposta cooperação estratégica. Até porque esta estratégia de não comunicação cai por terra quando o Presidente da República faz comentários no Facebook (onde é preciso “gostar” do Presidente da República para receber as actualizações) ou quando se pronuncia publicamente apenas em discursos proferidos em festividades.
Dado que a Presidência da República é um órgão de soberania, e principalmente em tempos de crise, não deve haver vazios de poder nem erros comunicacionais. Ou se é Presidente da República ou não. E essas funções devem ser assumidas pelo próprio todos os dias, em todas as ocasiões. Não se exige a um titular de órgão de soberania que seja um comentador diário mas também não se espera que desempenhe as suas funções de forma sazonal, com intervenções de pouca emotividade e muitas vezes reservadas a quem dele “goste”.

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