As recentes declarações de elementos
da igreja em Portugal sobre o comportamento supostamente pouco ético de alguns políticos
e sobre a sua incapacidade em dar resposta ao problema das populações em geral
e dos jovem em particular, veio reacender as polémicas antigas sobre a
influência das religiões na politica. Devem os titulares de cargos religiosos
influenciar a vida politica?
Não se trata de uma discussão
sobre a participação ou não das religiões nos Estados mas sobretudo do uso da
sua capacidade de influência para fazer lobby junto dos políticos e das
populações. Sendo cidadãos de direito comum, os membros eclesiásticos têm todo
o direito de expressar a sua opinião. Dizer que um determinado tipo de
comportamento é digno e um outro é menos digno é até uma dedução lógica que
poderão defender ao abrigo dos textos religiosos.
Mas, por que motivo tem havido
tanto incómodo por este tipo de declarações?
Na minha opinião deve-se a dois
grandes motivos:
O primeiro está relacionado com
uma generalização das críticas e das acusações (nomeadamente corrupção) que,
embora sejam comuns nas constatações populares, não podem ser replicados sem
haver provas ou denuncias desses factos junto das autoridades. Nesse aspecto as
declarações foram infelizes.
O segundo grande motivo de
incómodo diz respeito à constatação de que a igreja, fruto da grave situação do
país, resolveu iniciar a sua cruzada para influenciar politicas e apontar o
dedo aos problemas sociais. Não sendo a igreja isenta de responsabilidades em
problemas concretos, o que por vezes descredibiliza o valor e impacto das suas
considerações, a sua capacidade de mobilização e de publicitação de mensagens
por via dos órgãos de comunicação continua a ser muito grande.
Quando um elemento da igreja
afirma que há problemas de corrupção com os políticos, que os políticos não são
capazes de encontrar consensos para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos
ou ainda que os políticos não têm soluções para os problemas dos jovens,
independentemente de sermos praticantes desse credo, temos de reconhecer alguma
pertinência nessas declarações (ouvimos idênticas declarações nos cafés, nos táxis,
nas redes sociais ou nas manifestações.. ).
Mais do que uma critica direccionada são um lamento de quem se vê confrontado com um excessivo peso dos partidos,
dos interesses pessoais e oligárquicos e um deficit de relevância da politica
de facto (sendo esta a defesa dos interesses da sociedade e na melhoria da
qualidade de vida dos cidadãos).
Provavelmente o alcance das
criticas da igreja vão mais além, ou seja, não são indiferentes a uma crescente
influencia de organizações quase secretas na vida politica, nomeadamente a
Maçonaria. Mas esse é um assunto ainda mais delicado…
Espanta-me por isso que, havendo
uma grande diferença da interferência destes grupos na vida politica (Igreja e
Maçonaria), estejam os políticos e o comentadores mais escandalizados por
aquelas que foram feitas publicamente e que têm como objectivo declarado a
melhoria da qualidade de vida da sociedade. É que, até ao momento não se
suspeita da participação de membros da hierarquia religiosa no Governo nem da
sua participação em cargos políticos para retirar dividendos pessoais. Com
outro tipo de grupos já não podemos dizer o mesmo!
É assim difícil mas óbvio constatar que os políticos, a comunicação social e os comentadores gostam mais
de cerrar fileiras a quem arrisca falar publicamente para defender populações
do que apontar o dedo a quem penetra dentro das estruturas públicas para
enriquecer ilicitamente!
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