Um dos graves problemas da nossa
sociedade diz respeito à autolimitação da crítica por parte dos filiados em
partidos políticos.
Dando um exemplo concreto, antes
das últimas eleições legislativas, muitos filiados no PSD criticaram,
apontaram o dedo e desmontaram argumentos face a políticas socialistas que, a
seu ver, tinham sido desastrosas para a sociedade portuguesa. Falou-se de
deficit orçamental mas referiam-se outros assuntos como as novas oportunidades,
as ingerências externas nas decisões internas, os favorecimentos ilícitos, a
falta de meritocracia e os problemas na justiça (isto para dar apenas alguns
exemplos). Nessa fase, em contraponto, os filiados no partido então no poder, o
PS, optaram pelo silêncio, sem apontar criticas nem dar sugestões de melhoria
às políticas tomadas.
Passados alguns meses sobre a
tomada de posse do novo governo, as criticas que eram efetuadas por membros do
PSD deram lugar a criticas feitas por membros do PS, independentemente de
estarmos a falar dos mesmos problemas! (?!?!?!?!?!)
Isto acontece não por imposição politica
mas por uma autorregulação que impele os indivíduos a serem críticos apenas
quando o seu partido não está no poder. Provavelmente, essa regulação interior
depende de uma certa lógica de favorecimento, por parte das cúpulas partidárias,
apenas dos filiados que não critiquem o líder nem as suas posições, ainda que
possam estar erradas e serem altamente penalizadoras para a sociedade.
Se em termos partidários esta
forma de militância pode ter justificação, quando extrapolamos conclusões para
a restante sociedade, a apreciação deste comportamento errático é quase
irracional. Senão vejamos: Como justificar que o individuo A, eleito por um
conjunto de eleitores Y, vota decisões a desfavor desses mesmos eleitores, só
porque um qualquer líder partidário B tem uma motivação diferente? Complicado? (Para mim também o é!)
Utilizando o artigo "Que se lixem as eleições" do Paulo Santos Monteiro como analogia, se o próprio 1º Ministro sente necessidade de
afirmar que governa para os portugueses e não para as eleições embora sejam
eles (os portugueses) que o elegeram, imaginem os autarcas, deputados e
filiados partidários colocados em cargos de poder.
Há quem diga que os círculos uninominais
melhorarão, um dia, este comportamento mas melhor do que essa medida, seria acabar com
as barreiras à entrada que impedem o acesso de independentes a cargos políticos. Assim, talvez os eleitos percebessem quem lhes paga os salários e o que é a politica!
Vivemos num sistema de cultura democrática que não é eficiente e que favorece
os políticos que têm pouca moral e, principalmente, pouca ética social!
Estarei enganado? Então porque se
reservam ao silêncio os membros do partido que está no Governo (seja qual partido for)?
2 comentários:
Nuno, é uma questão de "jobs for the boys" e como de costume, "boys will be boys" :)
O problema é que depois disso boys would be toys... e isso é preocupante porque entramos numa espiral de cumplicidade assustadora!
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