domingo, 1 de julho de 2012

O crescimento do lado da oferta


No passado dia 20 de Junho decorreu mais um Fim de Tarde na Ordem com Daniel Bessa, que abordou o tema “Crescer, sim; o problema é como.”.

Seguindo a abordagem do modelo keynesiano, a curto prazo faz sentido aumentar a despesa, estimulando o consumo. No caso de Portugal, e na actual situação do país, não é possível fazer crescer a economia pelo lado da despesa, porque não há financiamento. No entanto, esta via não está esgotada num contexto global europeu. Tem surgido esta ideia com as eleições em França e a mudança de opinião na Alemanha, onde se pensa que faria sentido aumentar a despesa e a inflação. Porém, Daniel Bessa não pensa que esse caminho seja viável e, por isso, prefere não contar com ele.

Para quem vende no mercado externo as quotas são próximas de zero, ou seja, o aumento da procura não é relevante. Temos de olhar para o lado da oferta, tornar os nossos produtos mais competitivos para ganhar quota de mercado, e apostar nas supply sales, onde empresas, empresários, tecnologia e meios de produção são as variáveis que estão em causa.

Será que o crescimento económico em Portugal é atingível através da austeridade e das reformas estruturais? Por um lado, a redução dos custos de trabalho só funcionou do lado do sector público e traduziu-se em encargos para a segurança social e aumento do IVA; por outro, as reformas estruturais só têm efeito no longo prazo.

Nas duas crises anteriores, 72 e 84, o problema ficou resolvido com a redução dos custos, mas será que agora funciona? Quanto teremos de reduzir os custos? E se em vez de baixar os custos tirássemos partido dos baixos custos que já temos?

A área em que somos baratos e temos vantagem competitiva é nos serviços, em que a concorrência é limitada. A indústria transformadora é cara, mas nos serviços quem viaja não é o produto, são as pessoas. Por exemplo, se comprar um bem na China, não mando vir um chinês para reparar o bem, porque o custo de transporte não compensa. Neste caso, os serviços em Portugal são mais baratos, comparando com outros países da Europa.

As áreas da saúde e da velhice, como pós-operatório e doentes terminais, vão tornar-se transaccionáveis no seio da União Europeia. Já houve empresas seguradoras europeias que vieram avaliar o mercado português, mas não encontraram oferta. Um dos ícones do país é a Madeira, mas existem outros, como uma unidade hospitalar em Vila do Conde, próxima do aeroporto, para este tipo de serviços.

A saúde nunca foi elegível para a atribuição de benefícios fiscais, porque não se olha para a saúde por esta via transaccionável, mas sim como orçamento do Estado.

Claro que existem outros serviços, nomeadamente back-office administrativos, contabilidade, etc. (exemplo da Siemens), e com as companhias aéreas de low cost é ainda mais fácil promover estes serviços de pós-venda no país.

É preciso apostar no desenvolvimento da oferta e na frente comercial externa, encontrando financiadores e clientes, e investir nesta nova economia, partilhando o risco.

O turismo de saúde é mais inovador que o turismo de lazer. Por exemplo, a Serra da Estrela tem pouca neve para ser um destino de neve, mas tem muito ar para ser um destino de cura para as doenças pulmonares. Não devemos deitar fora o que temos, mas devemos apostar em ideias inovadoras.

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