No passado dia 20 de Junho
decorreu mais um Fim de Tarde na Ordem com Daniel Bessa, que abordou o tema “Crescer,
sim; o problema é como.”.
Seguindo a abordagem do modelo
keynesiano, a curto prazo faz sentido aumentar a despesa, estimulando o consumo.
No caso de Portugal, e na actual situação do país, não é possível fazer crescer
a economia pelo lado da despesa, porque não há financiamento. No entanto, esta
via não está esgotada num contexto global europeu. Tem surgido esta ideia com
as eleições em França e a mudança de opinião na Alemanha, onde se pensa que
faria sentido aumentar a despesa e a inflação. Porém, Daniel Bessa não pensa
que esse caminho seja viável e, por isso, prefere não contar com ele.
Para quem vende no mercado
externo as quotas são próximas de zero, ou seja, o aumento da procura não é
relevante. Temos de olhar para o lado da oferta, tornar os nossos produtos mais
competitivos para ganhar quota de mercado, e apostar nas supply sales, onde empresas,
empresários, tecnologia e meios de produção são as variáveis que estão em causa.
Será que o crescimento económico
em Portugal é atingível através da austeridade e das reformas estruturais? Por um
lado, a redução dos custos de trabalho só funcionou do lado do sector público e
traduziu-se em encargos para a segurança social e aumento do IVA; por outro, as
reformas estruturais só têm efeito no longo prazo.
Nas duas crises anteriores, 72 e
84, o problema ficou resolvido com a redução dos custos, mas será que agora
funciona? Quanto teremos de reduzir os custos? E se em vez de baixar os custos tirássemos
partido dos baixos custos que já temos?
A área em que somos baratos e
temos vantagem competitiva é nos serviços, em que a concorrência é limitada. A indústria
transformadora é cara, mas nos serviços quem viaja não é o produto, são as
pessoas. Por exemplo, se comprar um bem na China, não mando vir um chinês para
reparar o bem, porque o custo de transporte não compensa. Neste caso, os
serviços em Portugal são mais baratos, comparando com outros países da Europa.
As áreas da saúde e da velhice, como
pós-operatório e doentes terminais, vão tornar-se transaccionáveis no seio da
União Europeia. Já houve empresas seguradoras europeias que vieram avaliar o
mercado português, mas não encontraram oferta. Um dos ícones do país é a
Madeira, mas existem outros, como uma unidade hospitalar em Vila do Conde,
próxima do aeroporto, para este tipo de serviços.
A saúde nunca foi elegível para a
atribuição de benefícios fiscais, porque não se olha para a saúde por esta via
transaccionável, mas sim como orçamento do Estado.
Claro que existem outros serviços,
nomeadamente back-office administrativos, contabilidade, etc. (exemplo da
Siemens), e com as companhias aéreas de low cost é ainda mais fácil promover estes
serviços de pós-venda no país.
É preciso apostar no desenvolvimento
da oferta e na frente comercial externa, encontrando financiadores e clientes,
e investir nesta nova economia, partilhando o risco.
O turismo de saúde é mais
inovador que o turismo de lazer. Por exemplo, a Serra da Estrela tem pouca neve
para ser um destino de neve, mas tem muito ar para ser um destino de cura para
as doenças pulmonares. Não devemos deitar fora o que temos, mas devemos apostar
em ideias inovadoras.
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