terça-feira, 25 de agosto de 2015

Quem quer tramar António Costa?


António Costa é um político sozinho, sem capacidade de mobilização e com dificuldade em comunicar com o eleitorado. Da esquerda à direita todos parecem querer tramá-lo, principalmente dentro do PS e as eleições estão aí à porta. Mas quem são realmente os que querem tramar António Costa?


1 – António José Seguro:
António Costa está a saborear as consequências da estratégia calculista que utilizou no assalto à liderança do PS. Deixou António José Seguro levar com as balas da oposição e, na primeira hipótese, lançou a ofensiva política que culminou no puxar de tapete a Seguro. Nem Seguro, nem os seus apoiantes podem obviamente estar de corpo e alma com Costa. Além de que, muitos socialistas não gostaram do calculismo politico do seu novo líder nem acreditam na sua vitória eleitoral.

2- José Sócrates
A estratégia de António Costa relativa à prisão de José Sócrates foi correcta do ponto de vista democrático mas profundamente errada da perspectiva do argumentário de José Sócrates. Enquanto Costa prefere separar poder judicial de poder executivo, Sócrates pretendeu sempre o inverso, construindo uma imagem de preso político quando na verdade não passa de mais um político preso. O poder de Sócrates dentro do PS é ainda grande e os seus apoiantes não perdoam Costa. E por que será que Sócrates lança novas farpas para a comunicação social nos piores momentos para Costa???

3- António Costa, sim...o próprio!
A estratégia presidencial de Costa e do PS é inenarrável e mais parece não quererem ganhar qualquer uma das próximas duas eleições. Apoia Nóvoa mas faz um volto face com o surgimento de mais socialistas pretendentes a presidenciáveis. Quer estar e não estar ao mesmo tempo e finge que se trata de um assunto para mais tarde porque não sabe como o solucionar no presente. A atrapalhação deu espaço para o lançamento da candidatura de outros socialistas e só lhe falta que António José Seguro se lance também numa cruzada presidencial durante o mês de Setembro!
A estratégia relativa às legislativas não é melhor. Conseguiu coerência na construção das listas de candidatos mas falhou na adequação do estudo económico que encomendou a programa eleitoral. Atrapalhou-se na definição do número de empregos que promete e a sua voz não cativa o eleitorado. Falta-lhe a dinâmica de vitória. António Costa não fez o trabalho de casa, não acredita que possa vencer nem sabe bem o que faria se fosse eleito. A imagem da campanha é péssima e as mensagens dos cartazes perdem-se no ruído criado pelos sucessivos e gritantes erros (que não seriam admissíveis sequer a uma qualquer campanha de uma associação de vão de escada). António Costa não sabe o que dizer nem quando dizer porque não tem a confiança que diz ter nos novos cartazes.
O PS arrisca ser um fiasco nas próximas eleições. A tentativa de Costa piscar o olho ao eleitorado de direita ao elogiar Manuela Ferreira Leite e ao convidar Ribeiro e Castro para uma sessão socialista podem ser novos tiros no pé e afastar o eleitorado natural do PS. O efeito que Sócrates conseguiu com Freitas do Amaral não voltará a suceder como a mesma água não passa por baixo da mesma ponte duas vezes. O PS está isolado mas António Costa está no fio da navalha.
Costa já percebeu que não está numa posição confortável e vai apelar às bases para uma mobilização política na rentrée. Mas está a sentir o PS a escorregar-lhe das mãos que nunca o souberam agarrar e está a sentir as facadas nas costas que só um líder fraco, sem soluções e sem capacidade de comunicação pode sofrer.
Setembro é um mês decisivo e a coligação PSD/CDS já percebeu que a melhor campanha que pode fazer é ficar calada. É que o PS e António Costa conseguem fazer a campanha socialista e destrui-la ao mesmo tempo, propor soluções para o país e aniquilá-las no momento seguinte e definir a estratégia enquanto que os seus pares a minam sucessivamente. Enquanto isso, o país fica sem oposição e sem o contraditório, enfraquecendo a qualidade da nossa democracia.

Há muitas pessoas que querem tramar António Costa mas o principal opositor é o próprio António Costa e a sua inabilidade para lidar com factos políticos próprios de um partido fragmentado , de ex-líderes ressentidos e de um país com uma elevada divida externa. Até pode vir a ganhar as próximas eleições legislativas mas, se acontecer, terá uma maioria fraca e instável que deixará o país também muito (demasiado) enfraquecido.


Estamos feitos!

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