Costuma-se dizer que é nos momentos mais difíceis que as maiores qualidades dos homens vêm ao de cima. Ainda para mais, no caso dos portugueses, diz-se que só são capazes de obter bons resultados quando sob pressão e perto do final dos prazos. Infelizmente, ontem pelas 20.30h confirmou-se o que se esperava. Muitas vezes, o que os momentos difíceis trazem à tona é na verdade a cobardia e o medo. Situações excepcionais exigem medidas excepcionais. Bolas, se há situação em que o desenrascanço (já que planeamento como é evidente falhou ou não existiu) é necessário a Portugal seria agora. Mas pelos vistos, o que nós temos é alguém que ou não é Português ou não gosta de Portugal ou ambas.
É aflitivo saber que nos esperam (segundo a vontade do senhor que falou às 20.30h) mais 2 meses de desgoverno por parte de uma equipa que diz que não tem condições para fazer o seu trabalho. Uma pessoa com coragem daria um murro na mesa e faria por encontrar uma solução que trouxesse mudança imediata. Uma pessoa medrosa (confesso que hesitei no sítio onde colocar o "r"), não! Agarra-se aos formalismos e lava as suas mãos de responsabilidades. Ainda para mais sabendo que o que ele fez agora, poderia muito bem ter feito há um ano atrás. Hélas, há um ano atrás o seu interesse egoísta prevaleceu, pois ele queria tranquilidade de modo a assegurar a sua recandidatura num clima estável. Egoísmo esse que diga-se, sempre prevaleceu na carreira do senhor das 20.30h. E todos sabemos que uma equipa liderada por um egoísta dificilmente ganha. Que dizer de Portugal que está entregue a dois dos maiores egocêntricos que Portugal conheceu desde há largas dezenas de anos.
Mas em boa verdade, estes dois não estão onde estão por não terem apoio. Há muitos que os apoiam. Recue-se alguns dias para ler o que dizia alguma da “elite”, horas antes de Sócrates ter pedido a demissão, sobre se seria positivo ou não haver novas eleições:
- Carlos Monjardino: “Não devia haver eleições, não vão adiantar nada independentemente de quem ganhe porque não vai resultar uma maioria estável para o País fazer face aos desafios todos que tem pela frente. Este Governo tem mais capacidade, de contactos, de enfrentar os próximos meses/a no do que um próximo Governo que tem de aprender muitas coisas”.
- António Saraiva, presidente da CIP: “Acho que devemos deixar cumprir a legislatura até ao fim, independentemente dos erros que se possam apontar ao Governo. Cada vez mais as decisões são da União Europeia e menos dos governos”.
- Miguel Pais do Amaral - Presidente da TVI: “Claro que não. Porque eleições antecipadas significam incerteza e provocará muito provavelmente a imediata intervenção externa. Se se realizarem essas eleições, os juros vão atingir níveis estratosféricos, para níveis que não poderemos aguentar. É uma pena, depois de o Governo ter conseguido um acordo em Bruxelas”
Não posso também deixar de fazer uma larga citação ao último artigo do Nuno Garoupa no Negócios (Um País sem saída) onde ele expõe as alternativas que outros países tomaram em situações similares:
“Saída à canadense: o governo minoritário do Canadá caiu depois da aprovação de uma moção de censura na mesma semana que o primeiro-ministro português se demitiu. O Canadá não está no abismo económico em que está Portugal, mas terá eleições a 2 de Maio. Portugal um mês mais tarde. São umas regras constitucionais absurdas, feitas por quem não entende o custo económico e social da incerteza política ao longo de 55 dias, que apenas servem os interesses políticos instalados e que ninguém quer mudar de uma vez por todas.
Saída à italiana: quando a Itália enfrentou uma crise política grave nos anos 90, com um desgaste profundo da classe política e falta de confiança nas instituições, o presidente italiano nomeou um governo tecnocrata (presidido pelo governador do banco central) para "arrumar a casa" e preparar eleições com isenção. Dadas as dúvidas sobre o verdadeiro estado das finanças públicas e os compromissos internacionais assumidos, dada a experiência de 2009 com um governo de gestão Sócrates, dado o azedume e violência verbal da campanha que se aproxima, um governo tecnocrata (presidido, por exemplo, pelo presidente da Assembleia da República) certamente daria uma garantia de isenção, de rigor e bom senso no contexto de um potencial resgate externo. Semelhante governo não interessa nem ao PS (que evidentemente utilizará despudoradamente a máquina do Estado como fez em 2009) nem ao PSD (que prefere "descobrir" seja o que for depois das eleições, desta forma evitando comprometer-se demasiado cedo). O Presidente da República teria que ter uma coragem política e um sentido de responsabilidade que obviamente rejeita com a sua interpretação absolutamente limitada dos poderes presidenciais. “ Fim de citação.
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