segunda-feira, 2 de maio de 2011

Será por isso que não sou político?

Nos últimos dias em que estive de férias, aproveitei para olhar em redor e tentar compreender quais os efeitos da situação económica no país. Afinal de contas, o país real não está nos gabinetes de São Bento mas sim de Lisboa a Portalegre, de Faro a Bragança. Há crises para todos os “gostos”: pessoas de 50 anos que ficam sem o seu trabalho por ineficiência da gestão nas empresas onde trabalham, cidadãos que querem desesperadamente entrar na reforma por não saberem se a idade mínima vai aumentar, pensionistas que fazem contas à vida com receio de mais impostos, trabalhadores sazonais que estão sem emprego por falta de dinamismo económico do país, jovens diplomados e com provas dadas que ficam sem futuro profissional, pessoas que ficam com receio de terem poupanças na banca, empresários relutantes em investir por incerteza dos tempos que se aproximam…
Por outro lado, temos algumas manifestações de transformação das mentalidades: terrenos agrícolas cultivados onde antes havia apenas mato e abandono, centros comerciais cheios mas lojas vazias com promoções (sinal de pouca procura), passeios à beira mar repletos de pessoas, empresas ineficientes a fechar…
Enquanto isto acontece no país dos cidadãos, nos meandros do poder a realidade é outra: tricas partidárias, cartas com recados, partidos que se recusam a negociar ajuda financeira externa mas que querem ser ouvidos antes do acordo formalizado (!?!?), altos magistrados da nação que utilizam redes sociais para se manifestarem mas recusam falar à comunicação social, líderes partidários com erros de estratégia gritantes, inaugurações para todos os gostos, partidos em amnésia pré-eleitoral e militantes em êxtase com as expectativas de lugares, empregos e tachos que se aproximam!

O país real não é o país de São Bento, nem o país das lutas partidárias. Não se fazem eleições para defender propostas ou atacar problemas, fazem-se para disputar lugares! Deixou de existir a luta de ideologias. A esquerda e a direita são apenas âncoras de fixação dos partidos que não estão de acordo com o seu modus operandi nem com a ética (ou falta dela) dos seus líderes!
Em vez de partidos com propostas concretas e ideologias que os distinguem, passámos a ter disputas entre gabinetes de publicidade e marketing! A política que se faz é vazia de conteúdo mas cheia de demagogia. A política das massas deu origem à política one-man-show!
Ainda há quem estranhe que os cidadãos se alheiem da política e dos partidos. Uns dizem que é por desconhecimento dos cidadãos, outros por ignorância dos mesmos. Não será antes pela ausência de renovação, pela exacerbação do carreirismo partidário e pela incipiente troca de ideias? Não será pela total ausência de sentido de Estado que conduziu o país à actual situação financeira? Ou é mais fácil culpar os cidadãos de ignorância do que olhar para as ineficiências do sistema político-partidário?
Basta olhar para os cadernos eleitorais. Serão os melhores que estão nessas listas? Ou estão simplesmente os possíveis com o objectivo de maximizar os votos ou de obter determinados lugares? Porque se insiste colocar no círculo eleitoral de um Distrito, pessoas que nada têm a ver com essa região? Será ainda que muitos dos deputados eleitos defendem os seus eleitores ou limitam-se a votar influenciados pelo comportamento de rebanho dos seus pares partidários (mesmo que isso prejudique o seu circulo eleitoral)?
Nos gabinetes de São Bento e na Comunicação Social generalista discute-se o país de Lisboa, do Porto e quanto muito do Litoral. Discutem-se teorias mas fecha-se os olhos à realidade! O país vai além desses limites e dos problemas dessa faixa costeira. Que propostas têm os partidos para um jovem licenciado, mestre ou doutorado de Marvão, de Chaves ou de Serpa que ficou desempregado? Quais as ideias dos governantes para fomentar o empreendedorismo no interior do país? Quantos anos teremos de sacrifício para amortizar as dívidas contraídas pelos sucessivos governos? Porque é que o preço no produtor é reduzido para um kg de azeitona, de uva, de laranjas, um litro de leite ou uma arroba de cortiça mas continuamos a importar alguns destes produtos porque os custos de transformação são exorbitantes e portanto o custo final é mais barato se comprarmos ao exterior? Porque continua o Estado a crescer e continuamos a esfaquear o erário público se nem temos dinheiro para liquidar as dívidas? Porque não promovemos um programa de ataque à corrupção e de defesa da meritocracia?
Se a politica não ataca estes problemas, se não tem soluções, se não privilegia a verdade, por mais difícil que seja, confesso que, como cidadão comum, me sinto frustrado por suportar com impostos do meu trabalho o salário de tantos e, por vezes, ineficientes políticos!
Eu não defendo a política pelo voto, pelo lugar, pela conveniência. Fazer politica sem defender a causa pública é abdicar da consciência em função de “tacho” e da exploração dos contribuintes! E, verdade seja dita, a causa pública não tem sido acautelada…

Será por isso que não sou político?

1 comentário:

José Encarnação disse...

Caro Nuno Vaz da Silva, tudo o que escreveu é a realidade portuguesa. Mais, a forma como as forças partidárias se protegeram dos cidadãos mais activos e intervenietes, está na lei aprovada no parlamento por unanimidade, que nos impediu de apresentar directamente no parlamento projectos e/ou petições, tendo agora que ser entregues nos respectivos grupos parlamentares e se estes considerarem que mereçemos um pouco do seu muito ocupado tempo para analisarem o projecto, poderá ser que até passe à discussão interna do partido afim de decidirem se será apresentado no parlamento ou não. No fundo e resumindo, a nossa democracia não é uma democracia, mas sim uma ditadura encapotada, onde não se pode se quer por em causa as ilicitudes dos politicos.