segunda-feira, 18 de julho de 2011

Aproveitar o estado de graça


O Governo está numa posição privilegiada para reformar o país. Para além da maioria parlamentar estável formada por PSD-CDS, a grande maioria dos portugueses ofereceram o voto aos partidos que apoiam as medidas acordadas no MoU (PSD, PS e CDS). Os portugueses entenderam que a situação do país era insustentável e que temos de tomar medidas de contenção com urgência.
O Governo beneficia ainda de um estado de graça natural em períodos pós-eleitorais mas que tem um período de duração limitado e que é infelizmente difícil de estimar.
Aliás, o actual Primeiro-ministro referiu-se explicitamente ao estado de graça no seu discurso de tomada de posse, pedindo aos Portugueses que lhe concedam esse “benefício da dúvida”!
Entre os factores que contribuem para o estado de graça estão a inexistência de uma liderança no principal partido da oposição, o sentimento social de que é necessário mudar o rumo do país e o período de férias dos portugueses. Podemos ainda classificar outros factores como potenciadores do estado de graça no nosso país como a existência de competições futebolísticas ou a divulgação de assuntos mediáticos não políticos.
Mas estes factores não perduram no tempo. O PS vai eleger uma liderança que contestará as medidas do Governo; o sentimento social em prol da mudança diminuirá em função da implementação das medidas de contracção (e será inversamente proporcional à contestação organizada que se espera por parte das diferentes classes sociais e organizações sindicais); e o período de férias terminará em meados de Setembro, assim como o tempo de sol e calor.
Depois desta fase politicamente reduzida em relação à duração de uma legislatura, os cidadãos vão ser mais exigentes e críticos. Vão prestar mais atenção às acções politico-governativas e vão reagir de forma diferente às medidas de reestruturação, mudança ou de contracção económica.
Dessa forma, o Governo necessita de anunciar e implementar as medidas difíceis o mais rapidamente possível. Diria até que as políticas estruturais deverão ficar definidas até final do corrente ano, pois, a meu ver, será esse o timing disponível em que vigorará o estado de graça.
Se o Governo não cometer erros até final de Dezembro, eventualmente esse período poderá ser mais longo. No entanto, com os aumentos previsíveis do desemprego, com a redução do orçamento familiar disponível e a contracção da actividade económica, não perspectivo uma duração mais elevada para esse factor difícil de quantificar mas que é um dos maiores activos que pode ter um Governo recém-empossado.

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