segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Subsídio de Natal e o copo meio cheio

No final deste mês muitos de nós vamos receber o subsídio de Natal. O que tradicionalmente era um mês especialmente interessante por vermos chegar à conta a massaroca em tamanho duplicado, este ano será de amargura porque a mesma sofrerá uma valente dentada por via da retenção na fonte de quase metade do subsídio.
Ao olhar para o extracto bancário, e depois de rogar umas pragas à geração de políticos incompetentes que nos tem governado, culpados pelo despesismo do Estado que nos conduziu à delicada situação financeira, tornando-nos um país endividado e cuja solvência é mantida apenas devido à intervenção de entidades europeias externas o comum português saberá, como sempre, dar uma resposta à altura: estoirar a massa toda em prendas de Natal!
Sem prejuízo da desorientação económica e financeira de que temos sido alvo nos últimos 20 anos, que moral temos para criticar os gestores e políticos pela governação dos recursos públicos se, colectivamente, adoptamos comportamentos igualmente insustentáveis na gestão do nosso próprio orçamento?
Apercebo-me que muitas pessoas canalizavam parte dos subsídios anuais (férias e Natal) para fazer face a despesas também anuais ( despesas com o carro, despesas escolares, IMI...). Mesmo com este corte, e apesar de sentir haver uma crescente sensibilidade para a importância da poupança, garanto-vos que nas vésperas de Natal ninguém vai conseguir meter o pé no Colombo!
Se é verdade que o consumo contribui positivamente para o crescimento económico também é verdade que o nível de sobreendividamento das famílias não é sustentável.
Nunca como agora as temáticas da gestão responsável do dinheiro, a importância da poupança têm estado tão na ordem do dia. As noticias sobre a proporção da crise que atravessamos e as assustadoras incertezas sobre o futuro económico do pais marcam a agenda noticiosa em Portugal. Como tal, espera-se para bem de todos, uma ainda maior racionalidade na gestão dos seus recursos e uma efectiva mudança de comportamentos no sentido de uma maior responsabilidade de consciência nas decisões de consumo. Havendo uma incerteza cada vez maior sobre os rendimentos futuros, esperava-se por essa via uma diminuição do consumo presente.
Sou dos que encara o valor de subsidio de natal como a parte meio cheia do copo. Admito convictamente que, a par de vários subsídios, este seja um dos que estarão em vias de extinção, pelo menos nos moldes em que são actualmente atribuidos. Não porque o país tenha empobrecido de repente mas por ter vivido acima das nossas possibilidades, nomeadamente à falta de planeamento provocado pelas baixas taxas de juro e facilidade de acesso ao crédito bancário de que beneficiámos desde a entrada na zona euros à cerca de 10 anos atrás.
Urge, neste contexto de incerteza, gerirmos eficientemente as nossas decisões de consumo e poupança tendo em conta uma perspectiva inter-temporal do nosso fluxo de rendimentos. Actualmente é especialmente importante poupar porque o rendimento disponível futuro é especialmente incerto, quer por via de aumento de impostos, quer pelo corte de subsídios, quer pela maior probabilidade de desemprego, quer pela redução do valor futuro das reformas, quer por muitos mais outros factores.
Por isso, meta o dedo no ar quem já tenha adaptado as suas decisões quotidianas ao novo contexto em que vivemos.

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