segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Interesses ocultos nos ratings ou desculpa para ganhar dinheiro?

A crise económico-financeira que se instalou no mundo ocidental, trouxe um termo técnico para as páginas dos jornais e para a mesa de trabalho de governantes, políticos e economistas: Rating.
O Rating não é um instrumento novo. Todas as Instituições Financeiras os utilizam como ferramenta de apoio à identificação da qualidade dos seus clientes. São os ratings que ajudam a definir se um determinado cliente é sólido ou se tem risco e qual a hierarquia de “qualidade” face a outra entidade. Essas escalas de valorização são construídas de acordo com parâmetros distintos para cada instituição. Umas dão mais valor a determinados indicadores do que outras, o que explica a existência de ratings diferentes para o mesmo caso em análise, no mesmo período de avaliação. Isto é o que acontece também para os países: Os ratings que têm sido divulgados na abertura dos noticiários são analisados por agências especializadas que definem uma hierarquia acerca da capacidade de solver as dívidas de cada país. Estes ratings (que são do conhecimento de todos) são utilizados por muitos investidores que os consideram nas suas decisões de compra ou venda de divida. O facto de serem rankings de solvência públicos com grande impacto nas decisões dos investidores, levantou algumas dúvidas sobre a possibilidade de interferência na eventual manipulação dos ratings – este tem sido o grande foco de discussão!
Mas, apesar de todas as discussões, os ratings do endividamento público continuam a ter o seu valor para os investidores, que os utilizam para comparar riscos, para os governantes porque influenciam o “preço do dinheiro” e para a comunicação social onde abrem noticiários todos os dias. Por muito que os critiquemos ou que possamos duvidar dos coeficientes que deram origem a determinadas avaliações, os ratings são necessários e não têm concorrência!
Embora os ratings sejam indicados como os bodes expiatórios desta crise (principalmente por terem avaliado como sólidas, instituições financeiras que entraram em falência pouco tempo depois), há outros factores que devem ser mencionados como impulsionadores dos problemas económicos, nomeadamente:
1-      Excessivo endividamento de determinados países, entre os quais, Portugal;
2-     Taxas de crescimento (e principalmente de desenvolvimento) diminutas ou inexistentes;
3-      Resposta tardia e incipiente de países como a Alemanha e a França em relação às dúvidas levantadas sobre a sustentabilidade do euro e quanto à solvência de estados-membros europeus;
4-      Oligopólio de agências de rating, com deficiência ou ausência de regulação nas suas actividades;
Mas há factores mais concretos. Por exemplo, (e considerando como correcta a noticia do Público) porque é que no último ano foram vendidos 6 mil milhões de euros de dívida pública portuguesa por parte de bancos alemães? Aliás, as duas Instituições que mais divida pública portuguesa venderam no último ano (contribuindo para o aumento da taxa de juro da divida) são alemãs! Não poderá esse factor ser considerado também como actividade especulativa em paradoxo com as declarações do governo alemão, de interesse na estabilidade zona euro e na contenção da crise?

Quadro publicado no Jornal Público, edição de 24/07/2011

Acima de tudo, esta discussão deve motivar trocas de opinião construtivas sobre as estratégias de resolver os problemas e, principalmente, de evitar que erros similares se repitam.
Os motivos para a crise são muitos e obviamente há quem ganhe dinheiro com as dificuldades dos outros. Isso não é novidade! Mas não podemos apenas identificar os culpados que nos dão jeito e esquecer os restantes motivos (principalmente os que podemos gerir mas onde errámos). No curto prazo até pode ser uma estratégia de sobrevivência, embora demagógica. Mas no médio e longo prazo estaremos mais pobres, menos desenvolvidos e com menor qualidade de vida. E penso que ninguém quererá isso!

2 comentários:

Jose Lapalice disse...

Não podia deixar de reparar no banco alemão que surge no topo da lista de vendedores. O Hypo Real Estate faliu em 2008 e foi alvo de um bail-out nesse mesmo ano, tendo sido nacionalizado em 2009.

Nuno Vaz da Silva disse...

Obrigado pela dica! Ou seja, mais um argumento a favor do meu artigo...o próprio Estado Alemão (ou instituição por ele gerida) a promover a instabilidade no mercado de titulos da divida pública portuguesa, o que leva a um inevitável aumento do preço da divida que pagamos! Fizemos asneiras? Claro que sim, também nos deram sorrateiramente alguns empurrões...dentro da zona euro!!!!