Medidas adequadas e estratégia correcta não são suficientes para a boa implementação de uma determinada política. Saber passar a mensagem é fundamental para o sucesso, principalmente no que diz respeito a assuntos políticos.
Em regimes democráticos, a comunicação é uma exigência constitucional para governantes e opositores. Mas a “comunicação” é também uma das ferramentas que os ditadores utilizam para permanecerem no poder. Assim, existe uma diferença formal entre comunicação e propaganda. Apesar disso, os governantes de regimes democráticos têm tendência em confundir ambos os conceitos. Se aparentemente esta confusão pode ser insignificante e ter até vantagens no curto prazo, a médio e longo prazo, a má comunicação e a propaganda são perversas para os políticos, para as politicas públicas e para a sustentabilidade das democracias.
Como não vivemos em contexto de informação perfeita, a propaganda, as manchetes de órgãos de comunicação social e a contra informação são generalizadamente aceites como correctos, fidedignos e verdadeiros. A médio prazo, essas técnicas são recebidas com desconfiança e descrédito, o que gera um problema de comunicação difícil de solucionar por parte dos políticos.
Mas a comunicação em política está também dependente dos chamados quick-wins. São as pequenas vitórias e as politicas imediatas que motivam os cidadãos e que aumentam a confiança nos governantes, no sector público e no sistema político. Da mesma forma, são esses factores que levam à aceitação da mensagem política.
Quando a comunicação tem falhas e sempre que os quick-wins não se verificam, os cidadãos desmotivam e a retoma da economia torna-se mais difícil e demorada. Este é um dos problemas que o governo, partidos de oposição, órgãos de soberania, sindicatos e patrões devem prestar muita atenção! Se não tivermos uma politica económica de contra ciclo (de estímulo à economia) e com dificuldades de comunicação crescentes, os problemas sociais podem encontrar aqui um factor multiplicador que ninguém deseja.
Dado que a austeridade é uma inevitabilidade para resolver desequilíbrios orçamentais de várias décadas, é desejável que as politicas públicas sejam bem explicadas aos cidadãos. Não se pode ter apenas o discurso da troika e dos credores, relegando para mais tarde (ou para um plano inferior) a comunicação aos contribuintes. O Governo pode estar a fazer um óptimo trabalho mas se não tiver o apoio dos seus cidadãos, de nada servirá ter boa nota na apreciação internacional. Isso implica igualmente que não se fale em excesso, com exagero nos termos e/ou na forma.
3 comentários:
Nuno, concordo absolutamente. Imagina o que aconteceria no Reino Unido se David Cameron chamasse os anglo-saxoes "Wimps"... seria (com razao) um suicidio eleitoral.
Ab,
Paulo
Contextualizando, a última frase que agora deu esta celeuma foi: "...quando as pessoas percebem que o que estamos a fazer está bem feito, então devemos persistir, ser exigentes, não sermos piegas e não termos pena dos alunos coitadinhos..."
Ora esta frase nitidamente não faz sentido nenhum. Não consigo ver nenhuma situação em que uma pessoa seja piegas se acha que algo é correcto e positivo. É uma antítese.
Ele que não se preocupe com o grau de pieguice das pessoas e se foque em fazer as coisas bem feitas (que bem precisa). E para isto, não é um assessor de comunicação que o vai ajudar.
Paulo, como dizia noutro artigo, os nossos brandos costumes são brandos demais. E respondendo igualmente ao Lapalice, obviamente que a comunicação não é tudo e como digo no final do texto, em excesso, a comunicação pode ser mesmo fatal. Mas com o numero crescente de gaffes de comunicação, presumo que a contratação de um assessor de comunicação com poderes reforçados ou mesmo um porta voz (ao estilo americano) iria trazer ganhos significativos ao governo e à imagem do Primeiro Ministro
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