terça-feira, 12 de junho de 2012

Podemos exigir as mesmas condições do resgate espanhol?


Depois de conhecida a decisão de conceder uma ajuda financeira aos bancos espanhóis (o que já era expectável que ocorresse desde há algumas semanas), muitos economistas e consagrados políticos apressaram-se a pedir igualdade nas condições impostas a Portugal, nomeadamente em termos da taxa de juro e das medidas de austeridade (ou ausência das mesmas) para a população!
Este tipo de discurso, claramente populista, pode desencadear uma onda de apoio de uma franja da população menos esclarecida. Defender menos medidas de austeridade e reclamar uma descida da taxa de juro aplicada será aparentemente uma forma de defesa dos interesses dos portugueses que parece justa e legítima! Afinal de contas, ninguém gosta de pagar um preço mais elevado quando poderia pagar menos pelo mesmo bem (que neste caso se trata de dinheiro).
No entanto, as realidades portuguesas e espanholas não são equivalentes (o que se pode constatar pela análise de muitos indicadores, como dimensão do país, peso da economia, solvabilidade...). Os prémios de risco dos dois países são também eles distintos, assim como o timming do resgate. Facilitando a análise, será que emprestar um euro a Espanha tem hoje o mesmo risco do que emprestar esse mesmo euro a Portugal há 12 meses atrás? Para além disso, pelas noticias veiculadas pela comunicação social e pelo Governo espanhol, a ajuda destina-se a ajudar exclusivamente a recapitalização das instituições financeiras, enquanto que, para Portugal, a ajuda externa teve como objectivo evitar a bancarrota do Estado e, em segundo lugar apoiar também a recapitalização de algumas Instituições Financeiras.
Exigir que as condições sejam as mesmas, sem mais argumentos a nosso favor, parece portanto ser um discurso populista e pouco credível, ou seja, tudo aquilo que Portugal não necessita neste momento em que procura a estabilidade que renove a confiança dos investidores externos.
Todos queremos pagar o menos possível e ninguém gosta que as condições do vizinho sejam mais favoráveis do que as nossas. Mas (fazendo a analogia com o crédito à habitação), se o vizinho trabalha e ganha mais do que eu, se a sua casa está melhor situada e tem um valor de avaliação mais elevado, e se o seu risco de incumprimento é menor do que o meu, posso até reclamar um ajuste nas minhas condições financeiras (afinal de contas, pedir não custa…), mas resta-me trabalhar mais e ser mais competitivo do que ele para ser credível na minha exigência!

3 comentários:

Pedro Antunes disse...

Nunca deve ser o devedor a exigir melhores condições… perfeitamente de acordo.

Paulo Santos Monteiro disse...

Nuno, mas não creio que são considerações em relação a prémios de risco, etc, que determinaram as condições do bail-out na Espanha. Acho que a "troika" já entende muito melhor do que entendia antes, que emprestar a taxas de juro onerosas e impor condições de austeridade draconianas faz da emenda algo pior que o soneto.

Sem descordar contigo, que seria imprudente renegociar agora as condições da ajuda que recebemos, acho noentanto que se poderiam discutir contrapartidas e talvez um prémio pelo cumprimento rigoroso do acordo até agora.

Por exemplo, se é verdade que o BEI vai começar a financiar projectos de investimento e que os fundos estruturais europeus vão ser canalizados para o apoio ao crescimento económico, deveriamos negociar de forma robusta um acesso priveligiado a esta nova fonte de financiamento. Possíveis aplicações destes fundos incluem não só projectos de investimento, mas também medidas de combate ao desemprego jovem e de longa duração, incluindo a formação profissional.

Nuno Vaz da Silva disse...

Paulo, a ideia de reclamar um prémio pelo bom desempenho parece-me muito interessante. Já em relação aos fundos do BEI, seriam uma óptima forma de resolver algumas debilidades, se bem aproveitados em verdadeiros projectos de investimento.
Mas temo que mais subsídios, se continuarem a ser mal aproveitados, acabem por enfraquecer no médio prazo a nossa reduzida sustentabilidade e possam ser uma espécie de incentivos perversos ao desenvolvimento, como aconteceu com o ouro do Brasil, as especiarias ou mesmo a maior parte dos subsídios comunitários...