Depois de conhecida a decisão de
conceder uma ajuda financeira aos bancos espanhóis (o que já era expectável que
ocorresse desde há algumas semanas), muitos economistas e consagrados
políticos apressaram-se a pedir igualdade nas condições impostas a Portugal,
nomeadamente em termos da taxa de juro e das medidas de austeridade (ou ausência das mesmas) para a
população!
Este tipo de discurso, claramente
populista, pode desencadear uma onda de apoio de uma franja da população menos
esclarecida. Defender menos medidas de austeridade e reclamar uma descida da
taxa de juro aplicada será aparentemente uma forma de defesa dos interesses dos
portugueses que parece justa e legítima! Afinal de contas, ninguém gosta de
pagar um preço mais elevado quando poderia pagar menos pelo mesmo bem (que
neste caso se trata de dinheiro).
No entanto, as realidades
portuguesas e espanholas não são equivalentes (o que se pode constatar pela
análise de muitos indicadores, como dimensão do país, peso da economia, solvabilidade...). Os prémios de risco dos dois países são também
eles distintos, assim como o timming do resgate. Facilitando a análise, será
que emprestar um euro a Espanha tem hoje o mesmo risco do que emprestar esse
mesmo euro a Portugal há 12 meses atrás? Para além disso, pelas noticias
veiculadas pela comunicação social e pelo Governo espanhol, a ajuda destina-se
a ajudar exclusivamente a recapitalização das instituições financeiras,
enquanto que, para Portugal, a ajuda externa teve como objectivo evitar a
bancarrota do Estado e, em segundo lugar apoiar também a recapitalização de
algumas Instituições Financeiras.
Exigir que as condições sejam as
mesmas, sem mais argumentos a nosso favor, parece portanto ser um discurso
populista e pouco credível, ou seja, tudo aquilo que Portugal não necessita
neste momento em que procura a estabilidade que renove a confiança dos
investidores externos.
Todos queremos pagar o menos
possível e ninguém gosta que as condições do vizinho sejam mais favoráveis do
que as nossas. Mas (fazendo a analogia com o crédito à habitação), se o vizinho
trabalha e ganha mais do que eu, se a sua casa está melhor situada e tem um
valor de avaliação mais elevado, e se o seu risco de incumprimento é menor do
que o meu, posso até reclamar um ajuste nas minhas condições financeiras (afinal de contas, pedir
não custa…), mas resta-me trabalhar mais e ser mais competitivo do que ele para
ser credível na minha exigência!
3 comentários:
Nunca deve ser o devedor a exigir melhores condições… perfeitamente de acordo.
Nuno, mas não creio que são considerações em relação a prémios de risco, etc, que determinaram as condições do bail-out na Espanha. Acho que a "troika" já entende muito melhor do que entendia antes, que emprestar a taxas de juro onerosas e impor condições de austeridade draconianas faz da emenda algo pior que o soneto.
Sem descordar contigo, que seria imprudente renegociar agora as condições da ajuda que recebemos, acho noentanto que se poderiam discutir contrapartidas e talvez um prémio pelo cumprimento rigoroso do acordo até agora.
Por exemplo, se é verdade que o BEI vai começar a financiar projectos de investimento e que os fundos estruturais europeus vão ser canalizados para o apoio ao crescimento económico, deveriamos negociar de forma robusta um acesso priveligiado a esta nova fonte de financiamento. Possíveis aplicações destes fundos incluem não só projectos de investimento, mas também medidas de combate ao desemprego jovem e de longa duração, incluindo a formação profissional.
Paulo, a ideia de reclamar um prémio pelo bom desempenho parece-me muito interessante. Já em relação aos fundos do BEI, seriam uma óptima forma de resolver algumas debilidades, se bem aproveitados em verdadeiros projectos de investimento.
Mas temo que mais subsídios, se continuarem a ser mal aproveitados, acabem por enfraquecer no médio prazo a nossa reduzida sustentabilidade e possam ser uma espécie de incentivos perversos ao desenvolvimento, como aconteceu com o ouro do Brasil, as especiarias ou mesmo a maior parte dos subsídios comunitários...
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