Numa iniciativa conjunta entre a
Ordem dos Economistas e a Revista Economia Segurança Social, teve lugar no
passado dia 24 de maio, na Gulbenkian, o início de um Ciclo de Conversas sobre
Respostas Sociais. A primeira Conversa teve como tema “Os Desafios da Demografia”,
que foi abordado por três diferentes vias: a sociologia, o trabalho e o idadismo.
O sociólogo Manuel Villaverde
Cabral começou por apresentar o cenário atual de longevidade versus envelhecimento. A boa notícia é
que vamos viver mais tempo, mas a que preço? É aqui que se introduz a versão
mais economicista desta temática, pois os economistas olham para o
envelhecimento do lado da despesa.
A população portuguesa está a
envelhecer, o que pode ser comprovado pelo índice de envelhecimento que está em
três idosos para um jovem. Ainda assim, o problema não reside na longevidade,
mas sim na emigração e na baixa fertilidade. A “greve dos bebés” revela a falta
de confiança no momento presente. Para compensar os muitos zeros, ou seja,
mulheres que não têm filhos, seria necessário que outras mulheres tivessem
quatro filhos, o que não vai certamente acontecer.
Esta situação gera uma
preocupação face à vertente do trabalho, abordada de seguida. Sociologicamente,
os homens não gostam de trabalhar em regime de voluntariado, pois a ausência de
remuneração não valoriza o trabalho. As mulheres têm assim alguma vantagem em
termos sociológicos.
O professor Pedro Portugal
apresentou o cenário em termos de trabalho. Atualmente, não há oportunidades de
emprego. Segundo dados da OCDE, em Portugal a duração média do desemprego é de
26 meses, o que é extremamente elevado. Quem está a receber subsídio de
desemprego demora o dobro do tempo a arranjar emprego, o que nos remete para
uma situação de moral hazard.
Quando relacionamos trabalho e
idade constatamos que as pessoas mais velhas não substituem os mais novos, ou
seja, pessoas acima dos 45/50 anos podem nunca mais voltar a arranjar emprego.
Estudos nesta área demonstram a importância de aumentar a idade da reforma.
Em termos sociais e psicológicos
o desemprego está ainda associado a casos de depressão e suicídio.
Sibila Marques, doutorada em
Psicologia Social, falou sobre o idadismo (palavra portuguesa para ageism), que se define por atitudes
negativas face às pessoas em função da sua idade e é uma das principais ameaças
ao envelhecimento ativo.
Existe uma grande diferença entre
os países no que respeita à idade em que se deixa de ser jovem e se começa a
ser idoso. O grupo da meia-idade é socialmente mais valorizado que os grupos
dos 20 e 70 anos. Nos países ricos da Europa os jovens sentem-se mais
discriminados que os idosos, já em Portugal é o oposto.
Entre os motivos para não
contratar alguém em primeiro lugar temos a idade, depois a aparência e a raça.
Contudo, importa referir que colocar idade limite nos anúncios de emprego nos
jornais é anti-constitucional. E o que é mais importante afinal: a idade ou a
qualificação?
Temos muitos exemplos da
existência de idadismo na nossa sociedade. Os conteúdos dos livros escolares não
passam muitas referências de pessoas idosas, ou se passam não são muito
positivas. Os sinais de trânsito são absolutamente castradores para os idosos,
associando-os à curvatura lombar e à posse de uma bengala. Quando um idoso vai
ao médico com o filho o médico fala para o filho em vez de falar para o idoso. Quanto
mais um idoso achar que é doente ou incapaz, pior vai viver. Uma perspectiva
positiva melhora a vida mesmo em iguais condições de recurso a medicamentos,
higiene e alimentação.
O meu exemplo preferido é o do filme
“Up”, em que o herói principal tem 78 anos. O filme rendeu a terceira maior
bilheteira da Pixar, no entanto, pensava-se que iria ser um fracasso, pois
nenhuma criança iria querer brincar com um herói de 78 anos!
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