sexta-feira, 1 de junho de 2012

Os desafios da demografia



Numa iniciativa conjunta entre a Ordem dos Economistas e a Revista Economia Segurança Social, teve lugar no passado dia 24 de maio, na Gulbenkian, o início de um Ciclo de Conversas sobre Respostas Sociais. A primeira Conversa teve como tema “Os Desafios da Demografia”, que foi abordado por três diferentes vias: a sociologia, o trabalho e o idadismo.

O sociólogo Manuel Villaverde Cabral começou por apresentar o cenário atual de longevidade versus envelhecimento. A boa notícia é que vamos viver mais tempo, mas a que preço? É aqui que se introduz a versão mais economicista desta temática, pois os economistas olham para o envelhecimento do lado da despesa.
A população portuguesa está a envelhecer, o que pode ser comprovado pelo índice de envelhecimento que está em três idosos para um jovem. Ainda assim, o problema não reside na longevidade, mas sim na emigração e na baixa fertilidade. A “greve dos bebés” revela a falta de confiança no momento presente. Para compensar os muitos zeros, ou seja, mulheres que não têm filhos, seria necessário que outras mulheres tivessem quatro filhos, o que não vai certamente acontecer.
Esta situação gera uma preocupação face à vertente do trabalho, abordada de seguida. Sociologicamente, os homens não gostam de trabalhar em regime de voluntariado, pois a ausência de remuneração não valoriza o trabalho. As mulheres têm assim alguma vantagem em termos sociológicos.

O professor Pedro Portugal apresentou o cenário em termos de trabalho. Atualmente, não há oportunidades de emprego. Segundo dados da OCDE, em Portugal a duração média do desemprego é de 26 meses, o que é extremamente elevado. Quem está a receber subsídio de desemprego demora o dobro do tempo a arranjar emprego, o que nos remete para uma situação de moral hazard.
Quando relacionamos trabalho e idade constatamos que as pessoas mais velhas não substituem os mais novos, ou seja, pessoas acima dos 45/50 anos podem nunca mais voltar a arranjar emprego. Estudos nesta área demonstram a importância de aumentar a idade da reforma.
Em termos sociais e psicológicos o desemprego está ainda associado a casos de depressão e suicídio.

Sibila Marques, doutorada em Psicologia Social, falou sobre o idadismo (palavra portuguesa para ageism), que se define por atitudes negativas face às pessoas em função da sua idade e é uma das principais ameaças ao envelhecimento ativo.
Existe uma grande diferença entre os países no que respeita à idade em que se deixa de ser jovem e se começa a ser idoso. O grupo da meia-idade é socialmente mais valorizado que os grupos dos 20 e 70 anos. Nos países ricos da Europa os jovens sentem-se mais discriminados que os idosos, já em Portugal é o oposto.
Entre os motivos para não contratar alguém em primeiro lugar temos a idade, depois a aparência e a raça. Contudo, importa referir que colocar idade limite nos anúncios de emprego nos jornais é anti-constitucional. E o que é mais importante afinal: a idade ou a qualificação?
Temos muitos exemplos da existência de idadismo na nossa sociedade. Os conteúdos dos livros escolares não passam muitas referências de pessoas idosas, ou se passam não são muito positivas. Os sinais de trânsito são absolutamente castradores para os idosos, associando-os à curvatura lombar e à posse de uma bengala. Quando um idoso vai ao médico com o filho o médico fala para o filho em vez de falar para o idoso. Quanto mais um idoso achar que é doente ou incapaz, pior vai viver. Uma perspectiva positiva melhora a vida mesmo em iguais condições de recurso a medicamentos, higiene e alimentação.
O meu exemplo preferido é o do filme “Up”, em que o herói principal tem 78 anos. O filme rendeu a terceira maior bilheteira da Pixar, no entanto, pensava-se que iria ser um fracasso, pois nenhuma criança iria querer brincar com um herói de 78 anos!

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