segunda-feira, 25 de março de 2013

Troika e Chipre, um bail-out (in) com elementos positivos.

O novo acordo alcançado entre a troika e o Chipre é uma boa notícia e a meu ver inclui vários aspetos positivos. 

Primeiro, houve uma mudança de rumo, e todos os depósitos inferiores a 100,000 euro são protegidos. Isto é muito importante para a estabilidade do sector bancário da zona euro. 

Segundo, o banco Laiki que era o banco em piores lençois e que tinha efectuado piores investimentos não será salvo. Em vez, os ativos tóxicos são concentrados nesse banco e os credores do Laiki assumem as perdas resultantes, exceptuando aqueles credores com pequenas poupanças (os tais depósitos inferiores a 100,000 euro) que vêm as suas poupanças garantidas e transferidas para outro banco. É importante que os grandes credores sofram perdas, pois efectuaram maus investimentos. Este Bail-In é o aspeto fundamental do acordo e pode ser um elemento importante da nova doutrina de regulamentação do sector financeiro. 

Terceiro, a estabilidade do sistema financeiro cipriota e a execução do plano prevê a introdução de controlo de capitais. É uma boa notícia a introdução destas medidas no Toolkit da Troika, pois em situações extraordinárias, é importante garantir que excessivos fluxos de capitais não contribuam para agravar a situação económica da maior parte da população, que não têm culpa nenhuma dos excessos cometidos pelo sector financeiro durante anos. 

18 comentários:

José Lapalice disse...

Como raio se chegou aos 100.000 eur?
É por ser um six-figure? será que na Suécia são 100.000Sek? ou 100.000 ienes no Japão?

José Lapalice disse...

E já agora, misturar os conceitos de credor, depositante e saldo credor lança um pouco a confusão.

Paulo Santos Monteiro disse...

Lapalice,

O montante de 100,000 eur é o montante previsto na maior parte dos "Deposit Insurance Schemes" (DIS) dos países membros da UE como máximo coberto na totalidade ou quase totalidade pelos vários DIS. A existência dos DIS faz parte da legislação comunitária. Podes encontar mais informação na Wikipedia:

http://en.wikipedia.org/wiki/Deposit_insurance

E não, não misturei nenhum conceito. Um depositante é alguem que empresta dinheiro a um banco e portanto é um credor do banco.

José Lapalice disse...

Depositante é alguém que deposita o seu dinheiro a cargo da responsabilidade de um banco. Não empresta ao banco. Deposita. Coloca à guarda.

Continuo sem perceber como foram feitos os cálculos para chegar aos 100.000.

Paulo Santos Monteiro disse...

Sim, claro que sim... :) e o dinheiro do depositante está todo metido num cofre forte com uma combinação de 9 digitos para ninguém mexer... Aliás, tudo o que é preciso para um banco ter sucesso é um bom mealheiro...

http://pt.wikipedia.org/wiki/Porquinho-mealheiro

:)

José Lapalice disse...

então, p.ex., chamar-se depósito transferível ou empréstimo, é a mesma coisa. tá bem.
O sr. Rendeiro também gosta de confundir depósitos com empréstimos. E deu-se bem com isso.

Nuno Vaz da Silva disse...

Paulo, eu continuo a avaliar esta medida como um disparate. Taxar depósitos é taxar a poupança e ameaça as expectativas futuras quanto à poupança na zona euro. Se poupança não há investimento. Sem poupança, os bancos não têm capacidade de recolocar o dinheiro na economia sob a forma de empréstimos.
Sejam apenas os depósitos superiores a €100.000 ou superiores a €1 o problema é o mesmo e ninguém pensou nos efeitos sistémicos.
Se o Chipre era uma máquina de lavar, deveria ter-se atacado directamente esse problema e provavelmente o país não deveria ter entrado para a União Europeia. Mas resolver um problema com um problema maior e com efeitos por toda a Europa é um completo disparate
Estamos a dar um sinal às populações de que não devem ter mais do que €100.000 de poupanças. E esse ajustamento vai concretizar-se com impacto incerto mas que não pode ser positivo.
Esta medida é um ataque à estabilidade financeira do Euro que veio de dentro do próprio EUro, o que me leva a especular que alguém quererá voltar a ter um Marco forte, custo o que custar, doa a quem doer!

Pedro Antunes disse...

A medida, e pior a forma como foi comunicada, é um autêntico disparate! Teria feito muito mais sentido aproveitar esta questão do Chipre para dar um sinal ao mundo que a Europa tem um sistema bancário e não 27... como aliás é o objectivo de longo-prazo.

http://www.economist.com/news/leaders/21573972-bailing-out-cyprus-was-always-going-be-tricky-it-didnt-have-be-just-when-you

Mas é engraçado ver o pessoal a gritar "aqui d'el Rei" por Chipre quando em Portugal aconteceu exactamente isso com o BPP... em que não há muito tempo uma decisão judicial rejeitou liminarmente a pretensão dos depositantes do banco em lhes serem devolvidos os depósitos, mesmo abaixo dos 100k euros.

O DIS é uma ficção.

Pedro Antunes disse...

Dito isto já estive mais longe de colocar o meu dinheiro todo fora da UE.

Nuno Vaz da Silva disse...

Pedro, não conheço em detalhe os aspectos relacionados com o BPP mas presumo (corrige-me por favor se estiver enganado) que se tratavam não de depósitos a prazo simples sem risco de capital mas sim de depósitos estruturados em que existia um risco de capital inerente (embora historicamente até aí nunca tenha originado perdas para os "depositantes").

Paulo Santos Monteiro disse...

Nuno, não há soluções fáceis. O Chipre é uma muito pequena economia com um sector financeiro deproporcionadamente grande, e parece que um banco em particular, o Laika, fez muito maus investimentos.

A primeira solução encontrada, que impunha perdas a todos os depositários de todos os bancos, era claramente uma má solução. Mas o facto de ter sido considerada revela a dimenssão do problema. Esta segunda solução, que isola o Laika como o banco que não pode ser salvo, e ainda assim protege os pequenos depositários neste banco parece-me muito melhor. E o bail-in (ao seja impor perdas aos grandes credores do Laika) parece-me inevitável.

Especulação pura, mas se se tivessem imposto as mesmas perdas aos grandes credores dos bancos na Irlanda em 2008, talvez esta crise do euro tivesse sido evitada...

José Lapalice disse...

A cada hora que passa, a solução para o Chipre mostra-se cada vez mais positiva. NOT. http://www.reuters.com/article/2013/03/27/us-cyprus-parliament-idUSBRE92G03I20130327.

Paulo Santos Monteiro disse...

Lapalice, qual é a notícia? Não percebo?

José Lapalice disse...

" Cyprus is set to restrict the flow of cash from the island and may curb the use of Cypriot credit cards abroad as it tries to avert a run on its banks after agreeing a tough rescue package with international lenders."

"The use of credit and debit cards overseas would be restricted to 5,000 euros per month, and individuals travelling abroad could take a maximum of 3,000 euros on each trip. Funds deposited with banks for a fixed term cannot be withdrawn early."

Pedro Antunes disse...

Nuno, no caso do BPP houve de tudo. O caso específico em que eu estava a pegar eram depósitos normais.

Paulo Santos Monteiro disse...

Lapalice, qual é a notícia, não percebo? Então eu não mencionava no meu post que o controlo de capitais era um importanto elemento do acordo...?

José Lapalice disse...

Não me lembro de ter sido concretizado no post em que consistiria em concreto esse controlo de capitais. Não poder, p.ex., levantar depósitos a prazo, de qualquer valor, antes da maturidade é algo que a maioria da população irá agradecer.

José Lapalice disse...

Correcção: afinal só podem viajar com 1000 eur. http://www.cyprus-mail.com/capital-controls/limits-now-place-re-opening-banks-text-decree-included/20130328.
Mas também, quem vá viajar com mais de 1000 eur é um grande credor e deve ser penalizado.