terça-feira, 20 de outubro de 2015

A história não guardará coisas boas de António Costa!

António Costa jogou uma das mais altas cartadas da política portuguesa. Ao negociar um governo das esquerdas contra o expectável governo liderado pelo vencedor das eleições, Costa deu um abanão à política portuguesa e aos equilíbrios políticos mas sobretudo éticos que eram habituais na nossa democracia. Mas esse abanão está a ter consequências que o próprio António Costa certamente não antecipou e que lhe vão sair muito caras.


Daqui para a frente, as campanhas eleitorais não vão ser mais as enfadonhas trocas de acusações reféns dos votos úteis e das maiorias absolutas. O eleitor ficou a saber que partido vencedor pode não ser partido de governo e saberá que partidos de protesto também têm ambições de poder. Estas novidades vão gerar novos posicionamentos políticos, principalmente à esquerda mas também ao centro (onde se continuam a ganhar as eleições). O PS terá de encontrar o seu espaço político próprio para voltar a ganhar eleições isoladamente e o BE terá a sua maior luta na sustentação do seu eleitorado entrado em competição contra o PS ou no regresso ao partido aos resultados modestos.



Mas os maiores desafios são aqueles que António Costa vai ter de enfrentar. As negociações com gregos e troianos tinham tudo para correr mal. Mesmo assim, Costa iludido pela ambição de ser primeiro ministro e salvar a própria pele (ou imbuído de um sentimento marialva em prol de uma união de esquerdas) escolheu entrar num funil que ameaça tornar-se um túnel sem saída. Entre deixar a PAF refém do voto do PS e deixar o PS refém da extrema esquerda, Costa escolheu a segunda…mas com um tacticismo de aprendiz. (Ou seja, Costa preferiu ser Primeiro Ministro enfraquecido do que dar ao PS o poder político no Governo). O PS e principalmente António Costa ficaram prisioneiros das exigências do Bloco de Esquerda e do voto de facção do PCP assim que estes perceberam a importância dos seus votos neste caminho sem retorno de Costa. Esse erro estratégico enfraqueceu insustentavelmente a posição do PS nos diversos campos negociais:

- com a PAF porque viu fechar as portas ao bluff estratégico que o PS tinha encetado

- com as extremas esquerdas porque aproveitaram para fazer mais exigências, embora difíceis de acatar

- com o Presidente da República porque tornou mais fácil a sua vida na exigência de um acordo de governo e de orçamento escrito para 4 anos com respeito pelas convenções internacionais (algo cada vez mais difícil de conseguir por António Costa)

António Costa só não é hoje um líder isolado porque o seu séquito anseia pelas hipotéticas nomeações no âmbito de um governo de esquerda e porque as elites do PS já perceberam que o insucesso de Costa irá conduzir o PS a uma série de anos muito difíceis para que se consiga novamente impor como verdadeira alternativa de governo com defesa dos valores constantes do seu manifesto.

Quer António Costa venha a ser Primeiro Ministro ou tenha de se retratar, ficará a perder. Deixou enfraquecer a onda da constituição do hipotético governo de esquerda porque a ambição do BE e do PCP foram mais fortes do que a contenção dos seus líderes na praça pública, porque não conseguiu unir o PS em torno da sua liderança para o país, porque não foi capaz de ser moderado e fazer cedências demonstrando espírito de sacrifício pelo país e sobretudo porque preferiu isolar-se a ser plural, o que lhe distorceu a visão estratégica. Talvez tenha também sido mal aconselhado mas isso só o próprio o poderá confirmar.

Os líderes não subsistem sozinhos e António Costa não é o PS. Mas os políticos que o rodeiam ajustarão os ideais em função de uma nova liderança e António Costa ficará isolado e conhecido por ter tido mais vontade em ser primeiro ministro do que em salvar o país.

A história não guardará coisas boas de António Costa!



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