quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Os partidos são aquilo que os líderes fazem deles

A política contemporânea tem vindo a ajustar-se a novas realidades sociais como a internet, a diminuição de militantes activos e a perda de importância dos manifestos partidários. Estas influências têm levado a ajustamentos dentro dos partidos, muitas vezes sem os próprios se aperceberem do caminho que estão a seguir. Por exemplo, se alguém ler com atenção os manifestos partidários vai facilmente encontrar referências do PSD ao socialismo e do PS à social democracia.

Mas esta orientação política dos partidos é sobretudo influenciada pelos líderes partidários e pela sua estratégia de captura do poder. Por exemplo, no PSD, a social democracia foi mais estimada por Santana Lopes e o liberalismo por Passos Coelho. No PS de José Sócrates, a social democracia estava muito presente em contraposição com o socialismo mais à esquerda de António Costa.

A matriz política dos partidos é o resultado do conjunto dos diversos posicionamentos conjunturais que os líderes escolhem por ideologia ou por estratégia, por isso o PSD é identificado de direita enquanto que o PS é orientado para a esquerda.
Ou seja, nada nos garante que qualquer dos partidos fique, em algum momento da sua história, próximo das extremas (esquerda ou direita) ainda que a sua matriz cultural média esteja politicamente definida. Claro que esta orientação terá impacto nos resultados eleitorais futuros, mesmo que o próximo líder oriente o partido em sentido contrário ao do seu antecessor.

O que pretendo dizer é que os partidos são, em termos conjunturais, aquilo que os líderes fazem deles, enquanto que a sua filosofia política está marcada estruturalmente pelo conjunto de politicas defendidas desde a sua constituição.
Não é portanto de estranhar uma maior aproximação do PS às extremas esquerdas ou a aproximação do PSD ao liberalismo. Claro que esta análise não é feita por cada um dos eleitores (nem pelos próprios partidos), daí que seja frequente ouvir o comentário “não foi para isto que eu votei neles” ou, pior ainda “sinto-me enganado”.

Esta insatisfação social deveria ser tendencialmente eliminada. A correspondência das orientações programáticas antes e depois das eleições deveria ser garantida pelos partidos políticos. É que uma coisa é a demagogia com que defendem as suas posições em campanha eleitoral, outra coisa é a definição de políticas, após as eleições, completamente distintas das propostas submetidas a escrutínio.

Não havendo uma alta autoridade para a política portuguesa que ligue um semáforo vermelho sempre que um partido se afaste das politicas que apresentou a votação, cabe não apenas aos eleitores (nas eleições seguintes) mas também à Presidência da República ser o garante da coerência politica como forma de defesa do regime democrático. É verdade que a acção política do Presidente da República é limitada pela Constituição mas, pelo menos, é-lhe exigido que exerça essa sua magistratura nos momentos chave para o futuro do país. Nesta fase delicada em que nos encontramos, é também isso que é exigido a Cavaco Silva.

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