segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A geração parva

E de repente a Deolinda canta uma canção sobre a precariedade da vida da maioria dos jovens portugueses em Portugal, e parece que estão a dar uma grande novidade. Este conceito do mileurista (que em Portugal é mais o 500-600 eurista a recibos verdes) já é falado faz muito tempo nos outros países europeus em situação similar. Quiçá pelos ventos do Atlântico, por cá teve e tem dificuldade em ser expressado. Pese embora já tenha escrito sobre isto aqui ou aqui, é um assunto que merece ser abordado até à exaustão.

O que é verdade é que esta geração tem ao seu alcance todas as ferramentas para poder ser um factor de mudança para o país……mas não as usa. E não as usa porquê? Como se viu noutros países da bacia do mediterrâneo, os jovens conseguiram ser um dínamo. Bolas, será que os nossos jovens são mais fracos do que os da Argélia e Egipto? A minha resposta, é que sim, são.

Como diz o povo e bem, a fome e o frio metem a lebre ao caminho. E a verdade é que ser jovem num país do Magrebe deve ser uma grande merda. Para começar vêm os seus pais ganharem uma miséria pelo seu trabalho. Mesmo aqueles que decidem/podem estudar na Universidade, não encontram no mercado de trabalho oportunidades condizentes com a sua formação. Passa pela cabeça de algum português que em Portugal haja um Engenheiro a vender frutas numa banca de rua para sustentar a sua família??? A sociedade onde estão inseridos é extremamente conservadora, e devido à proximidade com a Europa e graças à internet sabem perfeitamente que a sua vida podia ser bem diferente acaso tivessem nascido umas centenas de km mais acima. Mobilidade geográfica fora do seu país só é possível para as elites. Liberdade de expressão é mentira (bom, aqui por Portugal o panorama também não é grande coisa). Ou seja, sobram razões para que estejam deveras descontentes.

Em Portugal o que temos? A maioria dos pais até ganha um salário (ou reforma) que dá para um vida razoavelmente confortável. São muitos aqueles que aos 18 anos recebem dos pais o carrito para irem para a Universidade para que coitadinhos não tenham de andar de transportes públicos. Estudar e trabalhar ao mesmo tempo é visto com maus olhos pela sociedade, por isso o jovem estudante tem todo o “paitrocínio” atrás dele, para que coitadinho não tenha de trabalhar enquanto anda na universidade. Quando acaba a universidade e se acaso não consegue arranjar trabalho, muitos pais suportam a vida do filhote para que ele coitadinho não tenha de ir fazer um trabalho mais chato como trabalhar num restaurante ou num bar para ter dinheiro pois isso daria falatório na vizinhança. E por aí fora. Ou seja, esta sociedade protectora para com os mais jovens, ao invés de os ajudar, só os atrofia e torna-os cada vez mais dependentes, comodistas, conformistas e domesticados. E aqueles que não se conformam por estarem mal, simplesmente podem sair para a UE à procura de melhores oportunidades (liberdade essa que os magrebinos não têm). Por isso e muito mais, os nossos jovens são definitivamente mais fracos que os argelinos ou egípcios, porque feliz ou infelizmente não passam pelas dificuldades deles. Mas é exactamente viver no meio dessas dificuldades que lhes dá motivação para lutar, ao passo que na nossa bolha protectora impera a mentalidade do “amanhã pode ser que seja melhor, não te enerves que os pais vão-te ajudando enquanto poderem” que é castradora de uma maior motivação para a mudança.  

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