terça-feira, 21 de agosto de 2012

Cada um tem o Furacão que pode


A meio da semana passada, soaram as campainhas.
As televisões entraram em histeria e formaram-se especialistas em Meteorologia, com uma rapidez de fazer corar Miguel Relvas.
No Facebook multiplicaram-se os gráficos, as previsões e os palpites.
Aqui o "Je" pensava: Mau, queres ver que já me lixaram o fim das férias ?!
Contra todas as evidências de estávamos perante uma potencial catástrofe sem paralelo, na história dos Açores, bem pregou o decano dos Meteorologistas Açorianos, Anthímio de Azevedo.
Então, não é que o homem teve o desplante de desvalorizar "a coisa", prevendo que haveria temporal, sim senhor, mas que seria dentro do "habitual", com o senão deste ser durante o Verão.
Senil ! Fala do que não sabe ! Chorrilho de Asneiras !
Este é um resumo dos epítetos, que foram atribuídos ao senhor.
Afinal, o homem tem mais de 80 anos, está reformado, e "só" passou 3/4 da sua vida a acompanhar "coisas destas".
As televisões não desarmaram, toca de enviar equipas para várias ilhas - até para aquelas onde nunca esteve prevista a passagem do Furacão - que isto de Açores ainda faz muita confusão a muita gente em Lisboa, e assim lá foram equipas para Faial e Terceira...menos mal...tiveram uns diazinhos de folga a aproveitar o bom tempo dos Açores !
Da parte dos organismos oficiais Açorianos, multiplicaram-se os alertas, com os responsáveis governativos a aparecerem, devidamente equipados com os inevitáveis casacos em cores fluorescentes, nas televisões nacionais, a tranquilizar as assustadas populações.
Durante a noite de Domingo, para Segunda-Feira, estava previsto.
Se passaria mais perto de São Miguel, ou de Santa Maria, era discutido ardentemente, em grupos, nas redes sociais, e fóruns da especialidade (pois, existem fóruns sobre Meteorologia, eu também não sabia, vergonha minha).
Com o avançar de Domingo, começou a perceber-se que o Furacão estava a perder força. O Malandro!
Passava da meia-noite, e os directos da RTP davam um repórter em Ponta Delgada impecavelmente alinhado, apesar de estar em plena Avenida Litoral, onde por aquela altura devia de estar um "temporal desfeito"...menos mal, o colega de Santa Maria já apanhava chuva, e tinha imagens sugestivas para mostrar, com chuva intensa e vento, muito vento.
Os Furacões têem destas coisas, chegam a horas esquisitas, e atrasam-se...fossem organizados, e chegavam às 20:00 Horas mesmo a tempo da abertura dos noticiários, agora...um Furacão entre as 3:00 e as 6:00 da manhã não lembra a ninguém.
As televisões ainda tentaram convencê-lo a chegar mais cedo, montando directos por volta das 0:00 de Segunda-Feira, mas...nada...o tipo não se comoveu..mau feitio!
Eu, como a maioria dos Açorianos, tratei de arrumar melhor as coisas do jardim. Fechei bem os estores, e...fui dormir, que Segunda-Feira era dia de voltar ao trabalho.
Pelas 8:00 de Segunda liguei a televisão, para ver, afinal o que se passou...
Oh pá, não é que o "senil" Anthímio de Azevedo tinha acertado em cheio ?
Tivemos um temporal à séria, com muito vento e chuva...pouco mais ou menos igual a tantos outros que assolam os Açores, com a já referida diferença de este ter acontecido em pleno Verão.
Imagino um telefonema, entre a Direcção de Informação de uma Televisão, e o Repórter destacado para o acontecimento:
Mortos ? Não há, pá !
Nem sequer uns Feridos ? Nada !
E os barcos, pá ? Não há naufrágios ? Não, pá, os gajos puseram os barcos todos em terra !
Então e...casas destruídas ? Eh pá...há ali uns arrumos em Vila do Porto que se "esborralharam"...ala filmar depressa!
Eh pá! Tanto trabalho para nada ! Apanha mas é o avião, que a malta vai usar imagens de Arquivo, para compor a reportagem.
Olha, tá aqui um dia porreiro! Se calhar a malta ia à Praia, que o avião é só logo à noite !

Notas finais: Apesar do tom ligeiro deste escrito, há que fazer a justiça de reconhecer o trabalho de prevenção realizado pelas autoridades, nomeadamente, junto ao mar, sem o que talvez não houvesse a boa disposição para escrever desta forma.

Incrivelmente, o maior prejuízo causado pelo Gordon, passou praticamente despercebido nas televisões (apenas a RTP/A lhe dedicou a devida importância): Os campos de milho, a cerca de 1 mês da sua colheita, completamente arrasados! Mereceram um rápida menção como "apenas alguns danos na agricultura", quando na verdade o que está em causa é a alimentação do gado leiteiro durante o Inverno, que passa por ser a única coisa que os Açores, verdadeiramente produzem.


1 comentário:

Pedro Antunes disse...

Convenhamos que furacões e tempestades tropicais a chegar perto dos Açores não são assim tão raros... aliás como mostra este novo mapa da NASA com todos os furacões.

http://photos.mongabay.com/06/1107nasa2.jpg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_temporadas_de_furacões_no_Atlântico

Abel, totalmente de acordo com o teu texto. Eu estava em NY quando a malandra da Irene decidiu lá dar um salta, cheia de gás que ela queria dançar... mas cansou-se a caminho...
O meu apartamento estava a 100 metros do limite da zona B de evacuação e a 200 da zona A. Quando a marota da Irene, agora tempestade tropical, estava a passar por cima da East Villlage (onde eu vivia) eu estava alegremente com alguns amigos a fazer apostas sobre se um candeeiro de rua com a lâmpada mais solta ia sobreviver... na rua!
Notem que centenas de milhar de pessoas foram evacuadas em Manhattan.

É normal as autoridades serem conservadoras e não quererem arriscar. Já dizia o meu avô, como o de todos, homem prevenido vale por dois... E se alguém morresse ou se ferisse lá estavam as televisões a culpar o Estado... mas homem mal informado (leia-se sem noção do histórico e sem filtro) não vale nada!