Todos nós já ouvimos até à exaustão o cliché de que antigamente é que havia bom ensino, que se sabiam fazer contas, que o antigo 7º ano equivale agora quase à qualidade de uma Licenciatura, etc, etc, etc. Algumas pessoas decerto pensam que constitui então um enigma como tão talentosa geração “não rasca” teve um desempenho abaixo de medíocre à frente do destino de Portugal. Mas focando-nos no ensino, tome-se como exemplo a qualidade do Ensino Superior pós-graduado na área de Gestão. Do meu conhecimento, e salvo raras excepções, podemos observar o seguinte:
- A expressão “corpo docente previsto” serve em muitos casos como engodo, tendo nomes sonantes como putativos docentes, vindo depois a verificar-se que por indisponibilidade de agenda alguns deles serão substituídos por assistentes;
- A larga maioria das aulas, consiste num indivíduo a debitar o conteúdo auto-explicativo da apresentação power-point que vai sendo projectada. A alternativa óbvia e pedagógica seria disponibilizar essas apresentações auto-explicativas antes da aula, assim como casos de estudo para esses sim serem discutidos na aula. Mas claro que isso daria muito mais trabalho pela discussão que existiria;
- O feedback de trabalhos, frequências ou exames resume-se a um número correspondente a uma nota avaliativa. Ensinar sobre o que faltou fazer, de forma a que o aluno não volte a repetir o erro…..é raro;
- Apesar dos largos milhares de Euros recebidos em propinas, nem sequer existem nas bibliotecas das universidades os livros que constam da bibliografia recomendada para as várias disciplinas;
Acho que estes exemplos bastam para ilustrar que se os alunos que temos são maus (que o são na sua generalidade), a culpa não é nem pouco mais ou menos somente deles. Nitidamente há aqui um grande conflito de interesses da parte de quem “ensina”. Uma pessoa cínica poderá pensar que de facto até nem querem que os alunos aprendam, mas sim apenas fazer uma negociata. Ou então isto é o melhor que conseguem fazer. Ambas as opções são péssimas. E depois ainda se ouve muitos armados ao pingarelho a referir que no tempo deles é que se aprendia “à séria”.
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