quarta-feira, 28 de março de 2012

Lloret de Mar – “La ciudad del pecado”

As lamentáveis notícias sobre acidentes e problemas na localidade espanhola de Lloret de Mar deixam todo um país consternado com a fatalidade de mais um jovem português. É, no mínimo, ingrato que um jovem no auge do seu período mais irreverente e promissor tenha uma morte como a que sucedeu recentemente.
Uma viagem de finalistas devia ser sinónimo de comemorações, encontro entre os amigos e divertimento. Para procurar essa animação toda, Lloret de Mar tem sido o destino de eleição para muitos jovens, predominantemente portugueses que enchem a localidade nesta época pré-Pascoa.
Também eu, no fulgor dos meus 17 anos (e já passam 15 anos desde a minha viagem de finalistas…do ensino secundário) fui a Lloret, com os meus colegas e amigos da escola secundária, assim como milhares….dezenas de milhares de outros jovens com a mesma idade.
Felizmente sobrevivi a Lloret, felizmente que não enveredei por loucuras ou abusos que facilmente (já nessa época) ocorriam! Lloret não é apenas a cidade dos bares, das discotecas, da praia e do convívio. Lloret assemelha-se à cidade do pecado, com abusos variados (álcool, drogas, sexo). Esse ambiente leva a exageros que podem acabar da pior maneira. 
É verdade que exageros, fatalidades ou acidentes podem suceder em qualquer lado e não é menos verdade que onde está o corpo, está o perigo. Mas estar em Lloret aumenta as probabilidades de algo correr mal, pelo ambiente, pela sensação perversa de liberdade e de distância face ao país.
Diverti-me muito em Lloret! O grupo era excepcional, o hotel tinha boas condições e a agência de viagens cumpriu o que tinha proposto. Mas, se soubesse à data o que era (e parece continuar a ser) Lloret, talvez não tivesse ido em viagem de finalistas.
A moda das viagens de finalistas é um conceito comercial preocupante. Das viagens de finalistas de Faculdade, exportou-se o conceito para outros níveis de ensino, havendo até relatos de viagens de finalistas no ensino pré-escolar (onde felizmente nestes casos, as crianças são acompanhadas por pais e educadores…). Para além do fenómeno comercial, existe um factor social que não podemos esquecer. Afinal de contas, qual é o objectivo das viagens de finalistas? Quais os limites para o “divertimento”? Porque não se comemora o final dos níveis de ensino com uma qualquer festa com menos risco mas onde todos se podem divertir, eventualmente em Portugal?
Se aos 17 anos me dissessem isto, não iria compreender nem aceitar, principalmente por ver outros colegas em igualdade de circunstâncias, a partirem nas suas viagens enquanto eu ficaria em casa. Mas concentrar milhares de adolescentes num único centro de diversões e locuras, é uma mistura explosiva e que, infelizmente, pode acabar mal…
Podem dizer que nada disto tem a ver com a dinamização de Portugal e que não fará sentido abordar este tema neste blog mas é preciso parar para reflectir sobre os objectivos, as motivações e as consequências dos actos dos nossos jovens. Até porque o termo “finalistas” devia ser transformado em “iniciantes”, pois nada deve acabar no secundário nem mesmo na universidade. Essas fases da vida devem ser "apenas" o pontapé de partida para a plena vivência em sociedade!


5 comentários:

Marta Entradas disse...

Gostei, e ate acho que 'e um tema bastante pertinente para o blog.
A uma reflexão sobre o negocio turístico, motivações ou consequências que as viagens de finalistas trazem, ha que adicionar uma reflexão sobre a Educação -- educação que começa em casa e que 'e complementada ao longo da vida, incluindo na escola onde passamos grande parte da nossa vida e onde iniciamos 'contacto com a liberdade'. Ha certamente como tu dizes Nuno, vários factores externos que facilitam esta curiosidade do 'pecado'. Curiosidade 'e inata e isso nao se pode evitar (ate 'e bom que a tenhamos), o que se pode controlar 'e a forma como descobrimos, experienciamos e escolhemos viver as nossas curiosidades, e aqui sim a educação tem serias responsabilidades.

(gostei especialmente da parte que dizes 'onde esta o corpo esta o pecado' :))

Nuno Vaz da Silva disse...

Marta, começando pelo fim do teu comentário...
Se reparares, o que escrevi foi:
"onde está o corpo, está o perigo" :) E tem direitos de autor familiares!
Mas a tua interpretação extensiva também p+oderia ter sido usada...
Concordo que a curiosidade e a liberdade são propicios para a descoberta e para a aventura. Agora a libertinagem conjugada com toda uma indústria de potenciação desse espirito de vale tudo é que podem ser perversos para a saúde e segurança. E Lloret propicía esse espirito!

Pedro Antunes disse...

Na escola em que estive (desde os meus 10 anos) praticava-se imenso o "dar liberdade ao aluno responsabilizando-o". Fui no outro dia lá com a minha filha (2 anos) e eles levam essa filosofia muito a sério desde os 3 anos.

A cada 2 anos fazíamos uma viagem tipo finalistas. Em todos os casos houve excessos de um tipo ou outro, mas nada de extremo.

Mas porque é que conto isto. Na minha escola vivia-se com alguma naturalidade um grau de liberdade que, de acordo com o que me contam não é normal nas escolas públicas. Podíamos fazer um sem número de coisas sem interferência dos professores, mas os limites da responsabilidade eram conhecidos, bem como as penalizações.

Eu acredito que expor miúdos, mesmo novos, a uma liberdade ilimitada é positivo… mas com consequências. E se na viagem do 6º ano alguém fez asneiras, ou se aventurou para onde não devia, pode mas teve de responder pelas consequências. Já na viagem de finalistas os excesso foram muito mais moderados e o auto-controlo presente em todas as acções.

Deixar miúdos de 17 anos or para Lloret de Mar produto de um sistema que tenta reprimir liberdades em vez de os habituar a ela é que leva aos excessos e não a presença de tentações!

Nuno Vaz da Silva disse...

Concordo contigo mas a filosofia de responsabilização de cada individuo pelos seus actos não tem muito acolhimento na generalidade das escolas nem das familias. E a liberdade sem responsabilização gera confusão, problemas e radicalismos que costumam acabar mal...

Pedro Antunes disse...

por algum lado tem de se começar...