quinta-feira, 22 de março de 2012

O que pode o Continente aprender com a Madeira?

Falar no arquipélago da Madeira passou a ser sinónimo de críticas fáceis ao despesismo e ao endividamento. Esta reacção é semelhante às que temos tido há muitas décadas com as mais variadas situações. Quando há algo a criticar, enfatizamos todos os aspectos negativos e raramente conseguimos distinguir os custos e os benefícios das políticas implementadas.
A Madeira é um bom exemplo para tentarmos fazer uma análise que vai contra esses pressupostos históricos. Assim, se conseguirmos separar as águas e esquecer o despesismo orçamental, como é a Ilha da Madeira? Quais são os aspectos que devemos evidenciar ou mesmo copiar para o continente?
Numa recente viagem turística a este arquipélago consegui destacar alguns pontos positivos que poderiam ser exemplos para governantes em Lisboa ou em qualquer parte do mundo:
Em primeiro lugar, é extraordinário verificar como um território com uma morfologia inóspita conseguiu adaptar-se às rotas turísticas e ser um destino de eleição para cruzeiros e turistas com os mais variados interesses de actividades para férias. A Madeira consegue ter espaço para quem pretende repousar sem sair do Funchal, para quem pretende férias com animação, férias com intuitos gastronómicos, percursos pedestres, viagens culturais, negócios, interesses ambientais… Os roteiros turísticos e o território prepararam-se para os mais variados tipos de turistas, conseguindo desta forma captar vários segmentos de negócio.
Em segundo lugar, (e este é o principal ponto que pretendo evidenciar) nota-se uma preocupação em fomentar a coesão de todo o território, desenvolvendo ou mesmo criando pólos de atracção nas maiores localidades da ilha, de Porto Moniz a Machico, da Ribeira Brava a Santana, sem esquecer o interior do território. Este aspecto é exemplificativo de uma opção pelo desenvolvimento não apenas do Funchal ou das localidades do litoral e diverge por completo das opções tomadas desde há algumas décadas em Portugal continental. Quando um turista chega à Madeira, sabe que tem atracções no Funchal mas tem também as piscinas de Porto Moniz, as casas “típicas” de Santana, o centro de artes da Calheta.
Para além dos investimentos realizados para literalmente levar os turistas a conhecer o território, foram ainda criados pólos de dinamização das localidades, dotando-as de funcionalidades para fixar população como piscinas, estradas, túneis…
Não querendo abordar a questão orçamental (até porque admito que muitos investimentos não seriam possíveis sem recorrer ao endividamento), a verdade é que seria mais fácil optar por investir apenas no Funchal e promover o destino turístico da cidade e suas valências. Mas nota-se uma preocupação por levar as pessoas a conhecer e a viver as restantes localidades e os seus pontos de interesse.
Há muitas coisas que podemos criticar e algumas com as quais eu próprio não concordo. Mas isso não me impede de desejar que o Governo português (dentro dos limites orçamentais) promova o país numa lógica integrada, sem distinções entre Litoral e Interior ou entre Lisboa e (por ex.) Marvão. Volto a escrever que, infelizmente, a coesão é uma palavra amada por todos os candidatos políticos mas rapidamente odiada pelos eleitos. Ainda assim, se colocássemos de lado as invejas e os interesses regionais, conseguiríamos ser um país mais atractivo para os turistas e com maior capacidade de criar sinergias em todo o território. Se Portugal é um destino turístico de eleição, porque não dotamos todo o território de focos de interesse para os turistas em vez de apostarmos tendencialmente no Algarve?
E, se quando alguém vai à Madeira e consulta o turismo lhe dizem que é imperativo visitar Porto Moniz, Santana, Câmara de Lobos e a Serra de Água (mesmo que seja apenas para ver uma recriação moderna com uma cabana antiga ou uma vila piscatória), porque é que um turista que vem a Lisboa ou ao Algarve e pergunta quais são as atracções do país não lhe dizem que é imprescindível visitar Amarante, Évora, Coimbra, Portalegre e/ou o Buçaco?

Experimentem e provem que estou errado! Ficarei muito satisfeito se tal, um dia, suceder!

Para mais informações sobre o arquipélago da Madeira poderão consultar o turismo local ou aceder aqui à webpage respectiva 

1 comentário:

Pedro Antunes disse...

Pois, mas separar esse modelo de desenvolvimento do modelo de governação (deficitário) é que me parece um passo que não estou disposto a tomar!