sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Credibilidade zero

Como ouvi dizer, ouvir os (ir)responsáveis portugueses culparem os investidores dos mercados da dívida pública pela subida das taxas de juro é quase o mesmo que a cigarra culpar a sua má situação pela vinda do Inverno.

Lembro-me bem de ouvir há poucos meses um secretário de Estado a dizer com um tom de quase satisfação de que: “sim, a despesa pública em 2010 está a aumentar, mas está a aumentar menos”. Em 2010 (e ainda o ano não acabou) já houve quase tantos PEC como sequelas de Academia de Polícia. Os números sobre a execução orçamental são sempre uma incógnita, com desfecho sempre negativo. Após a proposta de orçamento e sua novelística discussão com o maior partido da oposição baseada em argumentos chantagistas, foi assinado um acordo por sua vez saloiamente registado por foto de telemóvel na casa de um dos merceeiros. Mas nesse acordo ficaram ainda por definir onde se irão cortar/roubar 500M Euros. Em todo o caso, passados uns dias surge uma “errata” ao orçamento de 830M. A discussão parlamentar do orçamento também foi digna do que melhor se faria num qualquer cabaret do faroeste americano do séc XIX. A cereja em cima de todo este bolo podre é claro a completa ausência de rumo que estas propostas orçamentais deixam antever. E depois admiram-se de que os investidores não acreditem em Portugal. Um país que nos últimos 10 anos só conseguiu (em todo o mundo) crescer mais do que a Itália (o Haiti desgraçadamente não conta).

Uma vez que desde que MFLeite perdeu as legislativas e não se demitiu ficou clara a ideia de que o PS iria sobre no mínimo durar até após as presidenciais. O homem do leme não queria demasiada instabilidade política que atrapalhasse os seus planos (já a económica só se for de forma discreta que se preocupe). O chefe do bando, teimoso e altamente resiliente, não só não foi ainda despedido como desconfio que não se despedirá. Portanto, dos dois principais protagonistas não podemos esperar praticamente nenhumas mudanças. Restaria então eventualmente mudar o martelador-mor, o homem que quando é necessário cortar despesa, já fica contente por estar a aumentar menos do que no passado. Infelizmente, isto não vai lá só com remodelações governamentais, pois eles apenas cumprem ordens do(s) chefe(s).

Se Portugal fosse uma empresa, em circunstâncias normais os accionistas já tinham demitido a administração e colocado em seu lugar uma equipa com experiência em turn-around. Mas não é. Não só os portugueses querem que os intervenientes continuem a ser os mesmos, como também os pornograficamente maus resultados continuarão. Como disse JCNeves, os governantes portugueses assemelham-se a um drogado quando promete que agora desta vez é que vai ser. É impossível alguma pessoa dotada do dom do raciocínio acreditar que este Governo e o PSD irão querer reduzir despesa de forma a atingir os objectivos que necessitamos. Os impostos sei que os conseguem aumentar. Se houvesse bom senso em Portugal, muitos deles no mínimo deveriam estar algures na Avenida do Brasil a curar a sua esquizofrenia e megalomania. E os de topo na Marquês de Fronteira ou no Linhó. O que lhes vale é o mix explosivo de ignorância, paciência e imensa resignação do Zé Povinho.

1 comentário:

Nuno Vaz da Silva disse...

Resta saber se esse mix explosivo de ignorância, paciência e imensa resignação do Zé Povinho não vai mudar quando os contribuintes sentirem os efeitos das politicas ineficientes na redução do seu salário e no aumento das suas dividas.
Mas somos realmente o país do fado...tudo o que nos acontece é uma desgraça e a maioria prefere ficar à espera que o D. Sebastião nos venha salvar do que agarrar as rédeas ao bicho e fazer qq coisa de útil!